A decisão foi de Lu e de mais ninguém.

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Um conselheiro acadêmico da faculdade comunitária me deixou uma mensagem, dizendo que eles estão cientes das minhas "circunstâncias atenuantes" e que poderia me receber para encontrarmos uma maneira de reavaliar minha situação. Jennie, uma garota que fez a maioria das aulas comigo na escola, também me liga e deixa outra mensagem perguntando se estou bem. Não retorno nenhuma das duas ligações. Volto ao trabalho e pego mais algumas faxinas, seis por semana agora, ganhando um bom dinheiro. O notebook da Lu fica na minha mesa com os livros da escola, todos juntando poeira. Até que, uma bela tarde, a campainha toca.

Dou de cara com Yuta na varanda; Vivi está amarrado ao parapeito.

– Vim aceitar sua oferta de fazer picadinho de mim.

– Entre.

Nós ligamos o computador.

– O que vamos jogar? – pergunto.

– Pensei em começarmos com Soldier of Solitude.

– O que é isso?

– Aqui, deixe eu mostrar. – Ele abre o navegador. – Humm. – Fuça mais um pouco. – Não aparece nenhuma rede. Talvez a gente precise reiniciar o roteador.

– Não tem roteador nenhum, Yuta. Não temos internet.

Ele me encara, então olha ao redor como se estivesse lembrando quem eu sou, quem é Chaerin.

– Ah, tudo bem. Podemos jogar o que tiver no seu computador. – Ele puxa o notebook para

junto de si. – Quais jogos você tem?

– Não sei se Lu tinha algum jogo.

Yuta e eu nos entreolhamos e quase sorrimos. Lu odiava videogames. Achava que eles sugavam neurônios valiosos. E, como era de se esperar, não há nada no computador, exceto os jogos que já vêm instalados.

– Podemos jogar paciência – sugiro.

– Paciência não dá para dois jogadores.

Sinto que o decepcionei. Começo a fechar o notebook. Mas então Yuta o segura aberto.

– Foi desse computador que ela mandou a mensagem?

Yuta tem 10 anos. Tenho certeza que não é saudável para ele falar sobre esse tipo de

assunto. Não comigo. Fecho o computador.

– Zitao, ninguém me conta nada.

A voz dele é puro lamento. Lembro-me do adeus que Lu enviou para ele, também deste computador.

– É, foi deste computador que ele enviou a mensagem.

– Posso ver?

– Yuta...

– Eu sei que todo mundo quer proteger minha inocência e tudo o mais, mas meu irmão tomou veneno. É meio tarde demais para isso.

Eu suspiro. Tenho uma cópia impressa do bilhete de suicídio guardada em uma caixa debaixo da cama, mas sei que não é isso que ele quer ver. Sei que ele já viu, leu ou ouviu falar da mensagem. Mas Yuta quer ver de onde ela veio. Abro a pasta de itens enviados. Mostro a mensagem. Ele estreita os olhos para lê-la.

– Você nunca achou estranho ele dizer que a decisão era dele "e de mais ninguém"?

Balanço a cabeça. Não tinha achado.

– É que, quando nós éramos apanhados fazendo alguma coisa que não devíamos juntos, e

ela queria evitar que eu levasse a culpa, era isso que falava aos nossos pais: "Yuta não teve nada a ver com isso. A decisão foi minha e de mais ninguém." Era assim que ela falava para me proteger. Me lembro de todas as vezes em que Lu convenceu Yuta a participar de algum de seus planos mirabolantes e depois teve que livrar a pele dele. Ele sempre sofria as consequências no lugar do irmão. Na maioria das vezes, merecidamente. Ainda não entendo direito o que ele quer dizer, então este menino de 10 anos precisa falar com todas as letras:

– É quase como se ele estivesse protegendo alguém.

Eu estive aqui!  {Taoris}Where stories live. Discover now