capítulo 1

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"Elena: Por que não deixa as pessoas verem o seu lado bom?

Damon: Porque quando as pessoas vêem o bem, esperam coisas boas, e eu não quero ter que atender as expectativas de ninguém."
Diários de um Vampiro

N

Nunca tive medo da morte, mas sempre tive medo de como eu iria morrer. O meu maior medo mesmo era a água, morrer afogada, pra mim era a morte mais agoniante. Principalmente pra mim que tinha acabado de me mudar para uma casa perto da praia.

Uma casa enorme. Meus pais eram médicos, bom, agora só minha mãe, meu pai morreu em um acidente de carro quando eu tinha oito anos, mas não vem ao caso agora.

—Então , Melina o que achou? —minha mãe parecia mais feliz que eu com a casa, os olhos dela brilhavam mais que estrelas.

A cozinha tinha vista pro mar, era toda em mármore com uma ilha imensa bem no meio dela, cada onda que se formava na praia um aperto também se formava no meu peito. Eu morria de medo da água.

—Mãe eu nunca na minha vida, entrei em algo maior que uma piscina, eu nem sei nadar e se algo acontecer, um acidente, sei la, qualquer coisa?— vendo todo o meu desespero, ela sorriu, suspirei enquanto ela vinha até mim.

—Não vai acontecer nada, para com isso, essa e a sua casa agora, você precisa perder esse medo da água. — ela colocou as mãos em meus ombros, olhando fixadamente em meus olhos.

— Mas porque uma casa tão grande se é só pra mim? E porque você pode ter uma cobertura linda no centro da cidade? — ela se afastou olhando a hora no relógio de pulso que ela sempre usava.

Eu já estava acostumada, ela não conseguia me dar atenção por mais de 30 minutos, isso me doía, ela nunca foi como meu pai, pra ele eu era a princesinha da família, ele me protegia, cuidava de mim com carinho, minha mãe e eu nunca fomos apagadas e acho que nunca seremos.

— Olha só, tenho que trabalhar, amanhã volto pra ver se está gostando da casa — como se quisesse fugir, ela correu até a porta pivotante exageradamente grande. — tchau.

Com um beijinho no ar ela deixou a casa. Minha casa. Mesmo sozinha ali, com aquelas ondas enormes se formando na praia, me dava um certo conforto saber que meu pai construiu e decorou toda aquela casa pensando em mim.

Cada cantinho com mármore na cozinha, cada quadro na parede o lustre no teto. Tudo. Tudo ali foi pensando em mim.

Deixando todas as minhas lembranças de lado, deixei minhas malas na sala mesmo, pelo que eu estava vendo já estava atrasada pra faculdade. Era meu segundo dia do meu segundo ano, e eu estava tão nervosa quanto no ano passado.

Era a melhor faculdade do país, embora Eribella não fosse um país muito grande. Meu pai era muito amigo do rei, médico da família real, até o acidente de carro. O rei esteve presente em seu enterro, eram grandes amigos,  me lembro bem do rei, a rainha e seu filho que devia ter a minha idade na época, todos tristes pela morte dele. O príncipe hoje estava estudando na Suiça, mas retornaria no seu vigésimo aniversário e continuaria estudando no palácio com sua família.

As aulas começaram bem agitadas, todo mundo revendo todo mundo. O Campus estava repleto de pessoas, algumas que eu nunca havia visto na vida. Meu celular tocou junto com o final da última aula. Eu já podia saber quem era.

— Oi mãe — ela pôde perceber o tédio na minha voz.

— Querida, já pensou na sua festa de aniversário? Por que eu tive umas idéias ótimas. — ela quase gritava no meu ouvido.

Suspirei.

— Mãe ainda falta dois meses.

O celular no meu ouvido só me atrasava.

— Mas você tem que começar a pensar, eu acho que um bolo de 5 andares seria perfeito... — meu celular caiu no chão quando uma parede cheia de músculos esbarrou em mim.

E com a tecnologia vem a fragilidade, então claro, ele se quebrou inteiro no chão. Me abaixei involuntariamente e mechi nos cacos, eu tinha um apego diferente com os celulares, e eu gostava daquele, parecia bobo mas eu gostava.

— Desculpa, eu nao vi você, não se preocupe eu compro outro pra você — disse a voz masculina enquanto ele abaixava junto de mim.

Peguei o celular quebrado e me levantei antes que ele pudesse tocar em mim, mal pode olhar em seu rosto, reparei apenas que era alto, moreno e tinha olhos claros, azuis eu acho, com uma pele clara levemente bronzeada.

— Você não olha por onde anda não? —  uma certa raiva subia pelo meu corpo e me esquentava, não era difícil de me estressar — minha mãe vai arrancar meu fígado agora, que droga!

— Me perdoa , de verdade não era minha intenção — ele colocou a mão nos meus braços e eu desviei.

Eu havia escolhido a saída menos movimentada, e embora estivessemos todos saindo, ele estava voltando, não me preocupei em perguntar o porquê.

— Sai da minha frente! — eu passei por ele esbarrando em seu ombro, eu não queria nem saber o quanto minha mãe iria discutir depois, ela odiava que desligassem o celular na cara dela, e é isso que ela deveria estar pensando.

Fui até o estacionamento e liguei o carro, naquele instante minha mãe já devia estar a caminho da minha nova casa então fiz questão de tentar chegar primeiro, pisei no acelerador e fui embora o mais rápido possível.

Dito e feio. Ao entrar em casa ela estava sentada no sofá, com o olhar sereno, aquilo era a pura demonstração de ódio, só que do jeito dela. Minha mãe sempre foi exagerada, meu pai era o único que suportava. Acho que não preciso mencionar o discurso que ela fez.

Depois que desfiz as mil e uma malas consegui um tempo pra descansar, eu desci pra jantar quando percebi que já eram onze da noite. O jantar foi um lanche pra lá de fraco. Eu ainda não sabia onde estava quase nada da casa, depois do jantar resolvi ir pra cama.

Algo estava errado, eu não conseguia dormir, eu não sabia se era pelo barulho do mar, ou por que era minha primeira noite ali, mas o celular quebrado não saia da minha cabeça, eu não conseguia acreditar que um celular estava tirando meu sono.








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