Capítulo 6

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Aaron

Eu estava a três horas tentando escrever e nada, eu não tinha do que agradecer, a minha vida era basicamente fazer o que eu não queria, a única coisa que eu gostava era a faculdade e claro a minha amiga— que não sabia ainda que era minha amiga — a faculdade não ia me adiantar de nada, mas medicina poderia me ajudar muito em algum momento da vida.

— Senhor vamos fechar — o garçom veio até mim me deixando envergonhado, já era tarde e eu nem tinha percebido.

O moço alto e esguio tinha olhar cansado, eu sabia que o dia dele não tinha sido bom, mas bem melhor que o meu.

— Ah, claro, desculpe eu já estou indo — eu disse antes de me levantar e pegar meu laptop.

Já era quase meia noite, me surpreende o café estar aberto até aquele horário.

Eu precisava de inspiração, precisava ver um lado bom em minha vida, e talvez eu tivesse um lado bom. Eu queria vê-la de novo, por algum motivo idiota eu nao conseguia tirar aquela louca da minha cabeça, talvez fosse minha consciência pesando pelo tempo perdido.

O celular não parava de vibrar com as ligações e mensagens do meu pai, eu sabia que ele estava preocupado, mas eu não iria atender. A chuva não me deixava ver direito o caminho a minha frente.

Eu não quero ver ela! Eu tentava dizer a mim mesmo, mas era ridículo, desde a primeira vez que vi a Melina algo mudou, eu queria estar com ela, queria que ela brigasse comigo, ao lado dela todos os meus problemas desapareciam. Por mais que ela tenha me dado mais trabalho que o meu próprio trabalho em tão pouco tempo.

Meu celular voltou a tocar mas dessa vez nao era meu pai, era o Roman, eu jamais esperaria que ele me ligasse em um horário daquele, ou esperaria? Ele sempre me surpreendia.

— Alô — tentei manter-me concentrado na estrada, a chuva já estava parando.

— Aaron, cadê você? Te procurei por todo lado aqui e não te encontrei — ele parecia furioso, mas não dei muita atenção, ele se estressava tao Fácil.

— Eu já estou chegando, me espere no meu quarto e tente não acordar a sua irmã, ela fez questão de ficar no quarto em frente ao meu, em quinze minutos eu chego — só de lembrar que a Charlotte ficaria no meu pé pelos próximos dois meses meu estômago embrulhava.

—  Tá bom — ele parecia um pouco estressado mas Roman sempre foi assim, sempre perdia a paciência comigo, e só comigo.

*.  *.  *.

O corredor estava escuro, iluminado apenas por uma luz que vinha da porta entre aberta do meu quarto, andei a passos leves para não correr o risco de acordar a espalhafatosa princesa no quarto a frente.

— Até que enfim né! — Roman praticamente gritou ao me ver entrar no quarto.

Ele estava deitado na minha cama com uma camisa social branca mal abotoada e com as mangas arregaçadas.

— Não enche Roman — eu disse a ele enquanto jogava minhas coisas no sofá ao lado da porta. — tá igual meu pai.

A vida inteira eu me perguntei por que todos a minha volta sempre precisavam saber onde eu ia, o que eu fazia, o que eu comia, com quem eu estava, acho que foi por esse motivo que eu fui pra suíça.

— Parece que você se esqueceu que amanhã começa o sua caminhada até o calvário — aquelas palavras fizeram parecer pior do que era mas ele tinha razão, a partir de amanhã eu teria que passar praticamente vinte e quatro horas com a Charlotte — eu nunca, juro, nunca vi a Charlotte tão feliz.

Ele ria, com certeza da minha cara, que ouvindo aquelas palavras deveria estar péssima.

— Eu não vou me casar, não importa o que a mamãe e o papai diga, não me caso! — afirmei enquanto pegava o copo de água que eu havia servido — pelo menos não com a Charlotte.

Os olhos de Roman saltaram da TV para mim rapidamente, um sorriso se formava no canto de seus lábios.

— Ou, ou,ou ! — ele se desencostou da cabeceira da cama tão rápido quando falou — Quer dizer que tem outra na história? Pera aí irmão me conta isso direito, quem é ela?

Ele parecia mais animado que líder de torcida em dia de jogo.

— Não, claro que não ! — afirmei tanto pra ele quanto pra mim — eu sei que tenho que me casar, sou o primeiro na linha de sucessão, so que eu quero me casar com alguém que eu ame.

Não existia divórcio na realeza, e se eu me casasse contra a minha vontade, seria um castigo até o dia da minha morte.

— Tá bom, não tá mais aqui quem falou— ele voltou a assistir o programa enquanto eu tirava os sapatos.

Eu nao queria falar mas algo em mim estava pedindo loucamente pra tocar no nome dela.

— Lembra da Melina? — olhei pra ele tentando manter minha expressão facial calma.

— Lembro — disse ele sem tirar os olhos da TV — Na verdade, como esquecer? Vocês quase se matavam, e quando ela te xingava você ia correndo chorando pro colo da sua mãe.

Ele gargalhou, não me segurei em jogar um sapato nele, meu sangue ferveu com as suas palavras embora fosse verdade.

— Então— continuei — encontrei com ela esses dias — me arrependi no mesmo momento que disse.

Ele me lançou um olhar desconfiado.

— Sabia! — o rosto dele já nao tinha a mesma expressão brincalhona — Eu sabia que tinha mulher na parada.

Seus olhos carregavam uma certa preocupação, aquilo me deixou intrigado.

— Eu nao quero nada com ela, ok? Ela estava bêbada em uma boate, eu só levei ela pra casa, só isso — eu disse indo em direção ao banheiro para tomar meu banho.

— Ótimo, vê se não vai magoar a minha irmã hein Aaron — sua voz era cautelosa e cheia de preocupação, Roman era meu amigo desde sempre e embora vivesse brigando com a irmã, eles se gostavam mais do que qualquer coisa.

— Você e ela sabem muito bem que eu nunca quis nada sério — eu disse entrando no banheiro e fechando a porta.

No sábado de manhã Charlotte e eu tomamos café no jardim juntos, sozinhos. Obra de minha mãe é claro. Ela mudava de assunto de dois em dois minutos. Charlotte era uma princesa linda, cabelos escuros, pele bem bronzeada, olhos castanhos, lábios perfeitamente pigmentados, mas ela falava tanto, não tinha a personalidade forte que eu tanto gostava.

Passamos o dia todo juntos e ela me deixou mais cansado que o meu treino.

No domingo Roman fez questão de ir com a gente até o píer, pelo menos ele distraía a irmã as vezes pra eu poder respirar um pouco.

Enquanto Charlotte falava da sua vida eu pensava na minha, desde que Carlisle morreu tudo havia mudado tanto na minha vida quanto a de todos a sua volta, o que teria acontecido se ele tivesse continuado vivo? Eu não teria ido pra suíça, meu rosto estaria exposto nas revista e tudo que é site, sem falar em como a imprensa cuidaria da minha vida, eu não teria me afastado de tanto gente, não teria me afastado da minha família.

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