Quando eu era um molequinho, amarrei o lençol do Batman no pescoço e pulei de cima da moto do meu pai. Queria ser um super-herói. Eu realmente acreditava que ia voar, mas tudo que consegui foi esborrachar a cara no chão. Agora é a mesma coisa, só que em vez de super-herói eu quero ser um Rock Star.
Trecho de A autobiografia não autorizada de P.a.m.
...
P.a.m. tem a sensação de que toda a sua patética vida foi uma introdução para este único e glorioso momento: o primeiro show de sua banda. A ironia é que o momento parece ter chegado tarde demais, justo quando completa dezoito anos. Maioridade. Grandes merda! Por que outros moleques ficam tão empolgados? Tirar carteira de motorista, votar... Bullshit. Dezoito é só o início do fim.
- Eu não tô crescendo, eu tô queimando.
Por conta de todas essas paradas e algumas outras que não cabe falar agora, P.a.m. atravessou os dias como um sonâmbulo. Já suas noites se alternaram entre sonhos de glória e pesadelos de derrota. Deseja o show com tanta força que chega a doer. Tanta, que acordou com ânsias de vômito e um sentimento estranho percorrendo a alma. A possibilidade do espetáculo ficar vazio provoca uma vontade esmagadora de afundar-se na cama e esperar o dia acabar. Refugiar-se sob a proteção do lençol macio cheirando a lavanda e carinho materno. Mas o garoto consegue imaginar algo ainda pior: O show lotar - amigos da escola e da rua, meninas desconhecidas, todo o povo descolado do bairro - E ninguém gostar. Ninguém.
Sacode o travesseiro. Não aguenta mais ser perseguido por esses pensamentos em espiral descendente. Levanta. Coloca um disco no aparelho. Aquele riff de guitarra poderoso, os versos ácidos: As my bones grew, they did hurt, they hurt really bad. Odeia quando a vida imita a arte. Senta-se na beirada da cama, os braços abraçando as pernas, o queixo apoiado nos joelhos. Se ficasse doente para sempre, todos cuidariam dele. Nevermind.
Procura pela camisa do Velvet Undergound e os óculos Wayfarer. Quer fazer o tipo cool/blasé/alternativo. Mas não acha a peça de roupa. Contenta-se com a camiseta do Pink & Cérebro. Vamos dominar o mundo essa noite! Pega a calça jeans apertada e surrada, o All Star branco imundo e a toalha do Batman. Tem que arrumar a bagunça do quarto. Está do tipo pague para entrar, reze para sair. Mais uma coisa para sua coleção de deixar para depois de amanhã. Opa! Boa frase. Pegou a Pilot preta e foi até a parede. Pichações disputam espaço na parede branca: "I hope I die before I get old", "Nice boys don't play rock n' roll", "It's better burn than fade away", com nomes das bandas preferidas: Nabuco & The Roxy Babies, Ramones, Nirvana, Green Day...
Caminha pelo corredor até o banheiro. Está atrasado para a escola, mas não se importa. Liga o chuveiro: Morno → Quente → Superquente → Queime No Inferno! Assim está ótimo. Tenta se masturbar, mas de manhã é difícil. Começa pensando em celebridades, Debbie Harry, P.a.m.ela Anderson, depois passa para Bell. Fantasia uma cena com as três, mas não dá muito certo, Moira também aparece e elas começam a tagarelar entre si. Desiste.
Seu irmãozinho brinca no corredor. P.a.m. passa por cima dos carrinhos. Abre a geladeira. Enche um copo de leite e bebe puro, com biscoitos de maçã e canela.
A mãe adentra a cozinha com um sorriso totalmente inconveniente pr'aquela hora da manhã:
- Parabéns, meu homenzinho! - Ela diz enquanto lhe abraça forte e dá um beijo no rosto. Depois franze as sobrancelhas encarando o magro desjejum - Só vai comer isso?
Ele balança a cabeça num gesto vago.
- Tu vai ficar desnutrido, filho.
- A gente é o que a gente come - Fala para si, distraído com as formigas que carregam farelos.
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Terra do nunca
Teen FictionAtravessando um dia de cão depois de quase matar o valentão que praticava bullying nele, tudo o que P.a.m. quer é chegar ao local do seu show e viver o sonho de ser um Rockstar. Mas a polícia na sua cola, ex-namoradas em conflito, membros da banda...