Capítulo VI

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A noite havia sido muito agradável ao lado de Phillip. O filme era excelente, embora eles tivessem se distraído durante uma boa parte da história. Quando voltavam para casa, Anna sentiu uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada. Olhava para trás, mas não havia ninguém. Para tranquilizá-la, Phillip parara de andar e dera uma conferida no beco logo atrás deles, mas, de fato, não havia ninguém. Caminharam juntos até a casa de Anna, ela ainda sentindo aquela estranha sensação. Pararam na entrada e conversaram por mais alguns minutos, despediram-se e Anna aguardou na porta até ver Phillip sumir pelo caminho. Quando se preparava para fechar a porta, avistou dois pontos em seu jardim. Dois pequenos pontos brilhantes. Estreitou os olhos e teve certeza de que era alguém a observando. Dois pequenos olhos escondidos no meio de um arbusto. Sentiu o pânico tomando conta de si, não sabia se fechava a porta rapidamente ou se corria em direção a Phillip pedindo socorro. Temendo uma reação impensada, pegou seu celular e ligou para o namorado, que, em poucos minutos, voltava correndo. Ela não tirava a atenção dos pontos brilhantes, com medo de perdê-los de vista. Aos poucos, aproximava-se dos arbustos com o companheiro, que agarrava um galho. Anna falava também com a polícia, que estaria por ali em poucos minutos. Phillip, com um gesto preciso, bateu o galho no arbusto, na direção dos pontos estranhos e brilhantes. Subitamente, ouviram de lá uma mistura de grito e gemido, num tom muito baixo. Afastando o mato com a outra mão, o rapaz se deparou com uma criança. Um garotinho. Um garotinho muito novo, indefeso. Num momento de desespero, o apanhou no colo, tentando amenizar o susto que ele deveria estar sentindo. Horrorizada, Anna não podia acreditar no que estava acontecendo. O garotinho agora chorava copiosamente, soluçava nos ombros de Phillip. Era Linus. Em meio aos soluços e à confusão que Anna sentia, seus olhos se encontraram com os da criança. Mas naquele momento, não havia choro, não havia susto, não havia desespero. Ele chorava fortemente, mas, para ela, ele sorria. Um sorriso que ia de orelha a orelha. Um sorriso que a escarneava. Enquanto isso, Phillip o acalentava, com uma voz suave e de culpa por tê-lo atingido com o galho. Podiam ouvir as sirenes se aproximando. Quando a polícia chegou, aos soluços, o garoto dizia que havia saído para ver um cachorrinho que estava perdido na frente de sua casa e, em seguida, havia se perdido... Solidariamente, uma policial o acompanhava carinhosamente de volta a sua casa, enquanto Phillip lamentava sem parar o episódio e Anna não conseguia parar por nenhum segundo de pensar no que estava acontecendo. 

O Lado Sombrio Do QuartoOnde histórias criam vida. Descubra agora