Capítulo Um

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Doncaster, 1892 | 8:54 PM

O vento gelado batia no rosto do menor que caminhava na rua, com seus braços enrolados em seu próprio corpo tentando ao máximo não ficar congelado. Seus lábios cheios e agora levemente roxos pelo frio, tremiam incansavelmente. Suas mãos sumiam entre as mangas do suéter não muito grosso que cobria seu corpo, tentando de alguma maneira se esquentar

Os pés eram rápidos pela calçada tentando e querendo chegar imediatamente a pequena loja de frutas e carnes, que ficava a alguns quilômetros de sua casa. Ele era o irmão mais velho, tendo que receber essa tarefa de sair no meio da noite e comprar coisas importantes, para continuar a fazer o jantar. Respirou aliviado ao finalmente ver a casa de madeira velha ao longe, parecendo extremamente agradável naquele momento.

Apressou seus passos em direção ao local rapidamente não demorando para chegar no mesmo, agradecendo mentalmente ao ver que a luz de fora estava acesa, o mostrando que tinham pessoas acordadas naquele momento. Sua mão fechada em punho praticamente esmurrou a porta, voltando a se abraçar imediatamente.

Suspirou vendo a fumaça branca escapando por sua boca, mordendo seu lábio inferior fortemente. Longos minutos depois a porta foi aberta, por uma mulher que aparentava ter seus 63 anos. Seus olhos curiosos olhavam para o garoto em sua frente, antes de abrir um sorriso grande e amarelo. Arrumou seus cabelos brancos dentro da touca, passando suas mãos em sua camisola longa.

— Olá, pequeno.— murmurou abrindo um pouco a porta de sua casa, fechando a blusa de frio em seu corpo.— Você quer comprar alguma coisa?— perguntou fazendo o menor concordar imediatamente com a cabeça, passando sua língua por seus lábios.— Oque irá querer, anjo?— perguntou novamente. O menor olhou para o chão pensando demoradamente se forçando a lembrar do que sua mãe, havia o pedido para comprar antes de sair de casa. Voltou seu olhar para a senhora em sua frente, abrindo sua boca para dizer:

— M-minha mãe..— sua voz saiu arrastada e entre cortada, logo o fazendo pigarrear e continuar sua fala rapidamente. Seu corpo implorava por sua casa, o quentinho, e confortável de sua cama.— Quer pedaços de carne..— enfiou sua mão no bolso, tirando do mesmo um saco com moedas.— Por favor..— a mulher rapidamente levou seu olhar para o saco com moedas na mão do menor, seus olhos brilharam quando ouviram o barulho das moedas de ouro se tocando. Limpando a garganta ela deu dois passos para trás, indicando com a cabeça para o menor entrar.

— Não fique esperando aí fora, anjo. Entre te garanto que aqui dentro estará quentinho.— murmurou e assim arrastou seus pés calçados em apenas um par de chinelos velhos para dentro. O menor seguiu-a para o interior da casa,sentindo realmente o calor do local o esquentar. A mulher entrou em um local fazendo uns barulhos, como se estivesse procurando alguma coisa. Longos minutos se passaram, oque estava deixando o menor extremamente preocupado. Não só com a senhora, mas também com o horário para voltar para sua casa. Não queria deixar seus familiares preocupados com sua demora.

Retirou suas mãos do bolso esfregando-as e colocando-as em frente a sua boca assoprando a mesma e seguindo alguns passos para frente.— Senhora?— chamou assim que afastou as mãos da frente de sua boca. Engoliu em seco assim que viu a figura da mulher aparecer na porta, com a sombra de um sorrio macabro em seus lábios.

E isso foi tudo oque ele viu aquela noite.

Doncaster, 1896 | 5:00 AM

Com o arco bem posicionado, um olho fechado, língua entre os lábios e uma mão segurando firmemente a flecha, o menor puxou uma profunda respiração soltando a flecha que em uma velocidade rápida atravessou o pequeno alvo em sua frente. Um coelho branco já sem vida se encontrava ali na frente, sendo agora segurado pelas pernas pelo garoto. O menor dos olhos azuis jogou o corpo morto em seus ombros, arrastando seus pés para fora da floresta. Mais uma caça bem sucedida. Passou por alguns galhos e pedras no chão, saindo finalmente daquele mar de árvores.

Ao longe ele conseguiu ver uma luz avermelhada, podendo identificar a mesma como uma fogueira. Se aproximou da mesma, vendo o grupo sentado ali apenas preparando suas armas. Retirando a caça de seus ombros, ele a jogou em cima do tronco de madeira livre ali.

— Você é realmente um bom caçador, Louis.— murmurou o moreno sentado em um tronco, com seus cabelos lisos caídos em seu rosto. Revirando seus olhos azuis, o maior apoiou suas mãos em sua cintura.

— Vá fazer o seu trabalho.— arrastou seus passos até o tronco mais próximo, sentando-se no mesmo retirando o arco de suas costas deixando-o ao seu lado.— Nós vamos sair daqui a pouco.— murmurou apoiando seus braços em seus joelhos, passou sua língua entre seus lábios recebendo a atenção de todos presentes.— Hoje nós iremos conseguir pegar aquele dragão.

Os olhou com um sorriso de lado em seus lábios, logo vendo o moreno dos cabelos lisos se levantando do tronco indo começar a preparar a comida deles. Comer carne de animais todos os dias, naquelas duas semanas em que estavam na floresta, estava começando a ficar enjoativo. Quando comeram tudo, pegaram suas armas, e seguiram para fora dali. O fogo já estava apagado e apenas a fumaça das cinzas se encontrava no local. Assim como peles do animal e ossos jogados pelo chão.

[...]

Durante horas e horas os garotos andaram entre aquelas árvores, tomando cuidado com os animais perigosos que encontravam pelo caminho. Como cobras, insetos venenosos e até mesmo plantas. Os pés de todos ali já estavam doloridos, seus corpos imploravam por algo macio para se deitarem e coisas descentes para comerem.

— Eu não aguento mais andar.— O menor de todos ali falou, parando seus passos e se encostando em uma árvore.— Louis, por favor vamos descansar.— pediu o olhando nos olhos.

— Nós não podemos simplesmente parar, Joseph.— resmungou passando sua mão em seus fios de cabelo longo. E logo o menor começou a resmungar sendo acompanhado pelos outros garotos, que agora se jogaram no chão murmurando algo como:"não vou me levantar daqui." Bufando alto o maior tirou o arco de suas costas apoiando- o contra o tronco da árvore. Apoiou suas mãos na cintura olhando para seus amigos sentados no chão sujo, com suas costas grudadas em troncos de árvores nada confortáveis. Mas isso era tudo oque eles tinham agora.

— Levantem-se! Nós temos que continuar, aquele dragão pode estar se movimentando agora mesmo!— falou alto e claro, tendo como resposta apenas bufadas dos garotos, que passaram a ignorar aquela reclamação.— Po-

Sua fala foi cortada quando um barulho alto soou entre as árvores, assustando a todos ali presentes. Os garotos foram rápidos sacando suas espadas, feitas com o melhor ferro que conseguiram comprar com o pouco dinheiro. Olharam em volta procurando algo ou alguém, mesmo sabendo que uma pessoa não poderia aquele tipo de barulho. Era algo como se várias árvores estivessem sendo arrancandas do chão, e jogadas contra outras ou melhor, jogadas em suas direções. Com passos longos para trás e assustados, ficaram em silêncio procurando ouvir alguma coisa a mais.

— O que foi isso?— um sussurro soou ali no meio do grupo, quebrando todo o silêncio que tinha se instalado ali, entre eles. Pássaros passaram voando por cima das árvores, agitados e assustados. Como se algo ruim estivesse se aproximando, e por puro instinto eles estivessem fugindo para se proteger. Abandonando seus ninhos vazios, ou alguns até mesmos com ovos dentro.

— Eu não sei, mas com certeza não é algo bom.— outro sussurro surgiu ali do meio, carregado de medo e tensão. Dando um passo para trás e engolindo em seco, Louis segurou seu arco fortemente antes de puxar uma flecha.

— Fiquem atentos.— murmurou arrumando a flecha no arco, tentando olhar entre aquelas árvores, procurando algo ali.— ... Deve ser ele, não hesitem em atacar se ele apa-

Sua fala novamente foi interrompida, dessa vez pelas árvores em sua frente,que foram jogadas longe deixando o local ser tomado pela poeira um pouco avermelhada. Quando a poeira abaixou seus olhos se arregalaram ao o ver ali, com as enormes asas pretas esticadas, balançando lentamente. Sua cabeça inclinada na direção dos mesmos, a respiração fazia a poiera voar, sua longa cauda balançava de um lado para o outro.

— Finalmente encontramos você.

Sky Riders | Lwt • Hes | {não finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora