E seus olhos abriram...

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Jimin

Em meio à escuridão, angustiante e vazia, uma voz me acalma. Ela soa distante, mas ainda assim é a melhor parte do meu dia. Perdi a noção do tempo — não sei que dia é, nem há quanto tempo estou assim — mas parece que estou preso em um pesadelo interminável. É inexplicável.

É uma voz doce, um pouco grave, que me diz coisas bonitas todos os dias. Eu tento me lembrar de quem é, mas minha mente é um caos. Tento acordar desse pesadelo sombrio, mas parece que a única coisa que consigo fazer é respirar.

Hoje, aquela voz voltou. Senti seu toque, e meu coração disparou — algo que nunca aconteceu antes. Mãos macias acariciaram meus cabelos, e logo os dedos longos desceram pelo meu rosto, como se estivessem explorando a textura da minha pele, curiosos por conhecer as bochechas cheias.

Jungkook

— Ei, fique calmo, vou chamar alguém — disse Jungkook, acariciando os cabelos loiros de Jimin, ao perceber os batimentos cardíacos dele subirem de forma alarmante.

Jungkook saiu rapidamente em sua cadeira de rodas para chamar um médico e logo voltou, acompanhado por um homem alto.

— Como eu disse, eu toquei as mãos dele, depois os cabelos e a bochecha, e os batimentos aceleraram... — explicou Jungkook, visivelmente ansioso.

— Isso é um bom sinal — disse o médico, anotando algo em sua prancheta. — Ele provavelmente está consciente e pode despertar em breve. Vocês são... namorados?

— O quê?! Não, não somos — respondeu Jungkook, nervoso.

— Ah, entendi. É que, geralmente, essa reação a toques acontece quando há laços amorosos — disse o médico, com um leve sorriso. — Mas não se preocupe, isso é normal. Qualquer coisa, me chame. — E saiu da sala.

Jungkook ficou na sala, hesitando em tocar Jimin novamente. Talvez tenha sido invasivo demais antes. Ele se sentia culpado por tocar nele sem sua permissão. Hoje seria um grande dia, e ele nem imaginava o quanto.

Enquanto Jungkook ia para sua sessão de terapia, que havia começado recentemente, Jin e Namjoon estavam no quarto com Jimin. Fazia três dias desde que Jungkook havia iniciado suas sessões.

As terapias eram dolorosas. Estímulos elétricos e exercícios forçavam a coluna de Jungkook, parte dela reconstruída com implantes artificiais após o acidente. A terapia mais difícil envolvia choques que tentavam restabelecer a comunicação entre sua coluna e o cérebro, essencial para que ele voltasse a andar. A dor era excruciante, mas Jungkook sabia que precisava suportá-la se quisesse ter uma chance de se recuperar.

Taehyung estava lá, como sempre, incentivando-o:

— Vamos, Jungkook, só mais duas — disse, enquanto Jungkook, ofegante de dor, continuava os exercícios.

— Eu não aguento mais... — grunhiu Jungkook, com o corpo tremendo de exaustão.

— Você consegue. Não vou pegar leve com você. — Taehyung o incentivava, com firmeza.

Quando a sessão terminou, Taehyung lhe deu uma massagem relaxante e alguns remédios para dor. Mais tarde, já deitado em sua cama, Jungkook adormeceu de cansaço, ainda sem conseguir comer. Mas antes de dormir completamente, ele sabia que precisava ver Jimin novamente.

Jungkook acordou sentindo ainda as dores pelo corpo, mas o efeito dos remédios estava aliviando um pouco. Andou com suas cadeiras até o leito de Jimin, observando-o pelos vidros antes de entrar. A visão do moreno ali, frágil, era agoniante. Jungkook sentia uma necessidade incontrolável de tocá-lo, de cuidar dele. Não por pena, mas porque Jimin parecia especial de alguma forma.

Entrou no quarto e verificou os batimentos cardíacos de Jimin — ainda fracos, mas melhores que antes.

— Oi, Jimin, voltei — sussurrou, pegando gentilmente a mão do mais novo. — Hoje foi um dia difícil, mas estou firme nas terapias.

Ele riu baixinho, tentando aliviar o peso do silêncio.

— Você consegue me escutar? Acho que já perguntei isso antes. — Ele riu, nervoso. — Eu prometo que não vou mais tocar em você sem sua permissão, tá? Posso tocar sua mão apenas?Não quero te assustar...

Jungkook passou um tempo ali, acariciando a mão de Jimin e dizendo coisas aleatórias. Ele precisava falar, mesmo que soubesse que Jimin talvez não pudesse ouvir.

Aquela voz... aquele toque me puxou da escuridão. Era como se ela me mostrasse a luz. Abri os olhos devagar, como quem acorda de um sono longo e profundo. A luz artificial do quarto me incomodava. Eu não me lembrava de como vim parar ali. Quando acordei, tudo o que eu vivi nesse pesadelo desapareceu em um instante, como se eu tivesse apenas dormido.

O dono daquela voz estava debruçado sobre minhas mãos. Eu conheço ele? Não lembro dele ser tão bonito quanto agora...

Meu corpo está pesado, minha respiração fraca. Parece que faz anos que estou preso na minha própria mente.

— Jungkoo... k? — minha voz saiu fraca, quase um sussurro, enquanto eu tentava mover um dedo.

— Jimin?! — Jungkook se levantou rapidamente, surpreso. — Você... você acordou mesmo?

Ele esfregou os olhos, incrédulo. — Eu vou chamar o médico, espera aí!

Logo depois, o médico entrou e examinou Jimin, explicando que ele ainda estava em recuperação e precisava de descanso.

— Jungkook, você precisa sair. Ele precisa repousar — disse o médico.

— Não... — Jimin murmurou, ainda fora de si, com a voz infantil e olhos fechados, protegendo-se da luz incômoda. Ele se sentia seguro com aquele estranho ao seu lado, mesmo sem entender o porquê.

— Você precisa descansar, Jimin... — Jungkook disse, com pesar.

— Estou com medo — Jimin sussurrou, quase como uma criança assustada.

Medo de quê? Nem ele sabia.

Em busca da cura - Três meses para viver.Onde histórias criam vida. Descubra agora