Jungkook

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Meu nome é Jeon Jungkook. Tenho vinte anos e, há três, sofri um acidente que danificou minha coluna. Desde então, não consigo mais andar. Também não vejo minha família há três anos. Eles me abandonaram, trocaram de telefones e endereços, e simplesmente sumiram.

Lembro-me claramente do momento em que o caminhão, em alta velocidade, invadiu nossa pista e colidiu de frente com o carro do meu pai. Nosso veículo parecia minúsculo diante daquela massa de metal. Tudo aconteceu tão rápido que a única coisa que ouvi foi o grito da minha mãe, e então... escuridão total.

Era para ser uma viagem em família, como tantas outras que fizemos juntos. Mas dessa vez, o destino tinha outros planos. Aquele caminhão desgovernado não causou apenas uma tragédia para a nossa família, mas para várias outras que estavam na estrada naquele dia. Ele atingiu todos os carros que vinham atrás, deixando um rastro de destruição.

Por algum milagre, eu não fui o único sobrevivente no nosso carro. Os airbags salvaram meus pais de fraturas graves, mas não o suficiente. Meu pai tentou desviar para o acostamento, mas a traseira foi atingida em cheio, e eu estava lá.

Depois disso, só me lembro de acordar no hospital, completamente imobilizado, com gessos e uma dor insuportável. Quando perguntei sobre meus pais, a resposta foi fria e impessoal: "Eles estão bem, já foram para casa."

Três anos atrás

— Há quanto tempo estou aqui? — perguntei, ainda desorientado.

— Quatro dias — respondeu a enfermeira enquanto ajeitava meus travesseiros.

— Estou com muita dor... — murmurei, esperando alguma ajuda.

— Não podemos fazer muita coisa — disse ela, sem demonstrar o mínimo de compaixão.

— Meu pai pagou por esse atendimento! — exclamei, indignado.

— Não, ele não pagou. Você está em um hospital público, e aqui não temos recursos. Você precisa de uma cirurgia urgente, mas não temos médicos nem materiais. Você vai ficar assim até um milagre acontecer.

— Pode ligar para ele? — perguntei, quase implorando.

— Tentamos contato por três dias, mas o telefone nem chama. Fomos até sua casa, mas está vazia. Sinto muito, garoto, mas parece que você foi deixado para trás — respondeu ela, sem cerimônia.

Foi então que Kim Taehyung entrou na minha vida. Ele era um médico experiente da capital e, ao saber da gravidade do meu estado, solicitou minha transferência para um hospital melhor. Eu estava internado em um hospital periférico, perto da estrada onde aconteceu o acidente.

Em menos de uma semana, fui levado para um hospital maior e mais equipado. Todos os dias, eu me perguntava sobre o paradeiro dos meus pais, até que minha tia ligou para me dizer que, agora que eu era "inválido", meu pai achou melhor me deixar aos cuidados do hospital. Afinal, eu não tinha mais utilidade para a empresa da família.

O acidente deixou sequelas graves. Tive problemas pulmonares porque um dos ossos fraturados perfurou meu pulmão. Fiquei à beira da morte por não conseguir respirar por um tempo. Minha vida era um pesadelo. Se você acha que sua vida é difícil, olhe para mim: abandonado em um hospital, dependente de enfermeiros, sentindo dores excruciantes, sem ninguém para me ajudar.

O Dr. Taehyung tentou de todas as formas encontrar uma solução para o meu caso, mas meu estado piorou. Caí em uma depressão profunda. As dores constantes e a falta de remédios adequados para aliviá-las me deixavam à beira do desespero. Meus pais nunca mais deram notícias. Eu estava sozinho.

— Ahhh! — gritei uma noite. — Não aguento mais! A dor é insuportável! — chorei, desesperado. Meus gritos ecoaram pelo hospital.

Os analgésicos e morfinas já não faziam efeito. Eu tomava 17 comprimidos por dia, mas era como se fossem balas. Taehyung, que estava de plantão naquela noite, entrou no quarto e viu meu estado crítico. Ele sabia que eu precisava de uma cirurgia urgente, ou morreria. Assumiu minha tutela ilegalmente e me transferiu para um hospital particular, onde trabalhou incansavelmente para salvar minha vida.

A cirurgia durou 28 horas. Passei dois meses em coma devido às doses massivas de anestesia. Após sete meses de recuperação, eu estava melhor... mas não completamente.

Afundei ainda mais na depressão. O sentimento de abandono me corroía. Tentei suicídio, mas falhei. Recebi acompanhamento psicológico, mas aquela cama de hospital me sufocava. Eu queria gritar. Queria me libertar daquela dependência.

Dois anos inteiros de sofrimento, de invisibilidade. Fui ignorado por todos que um dia amei, mas eu sobrevivi. Aos poucos, comecei a superar a pior parte da depressão. Aceitei minha nova realidade, mas algo dentro de mim ainda estava quebrado.

Dias atuais

Há uma pequena chance de eu voltar a andar, mas, para ser honesto, eu já desisti de mim há muito tempo. Minha vida agora se resume a estar deitado em uma cama de hospital, com enfermeiras furando minhas veias dia após dia, aplicando soro para combater a desidratação e a falta de nutrientes.

— Pronto, Jungkook. Qualquer coisa, aperte o botão azul para chamar um de nós — disse a enfermeira, saindo do quarto.

Alguns minutos depois, vi a equipe médica preparar uma cama para outro paciente no meu quarto. Parecia uma UTI móvel, cheia de equipamentos respiratórios. Na ficha pendurada na porta, li que seria um garoto.

Finalmente, teria companhia. Eu mal interagia com alguém, além dos médicos, e Taehyung, que se tornou meu melhor amigo e a única família que me restou.

Ficar aqui é um tédio constante. Gostaria de ter um celular para falar com pessoas do mundo afora, mas nem sei onde meu aparelho foi parar. Talvez tenha se perdido no acidente, ou esteja nas mãos de outra pessoa.

Comecei a tomar antidepressivos novamente. A psiquiatra disse que eles me ajudariam a me sentir mais animado, mas, honestamente, acho que já desisti. Estou cansado. Não acredito mais em mim.

Naquela noite, acordei com murmúrios. O novo colega de quarto havia chegado. Ele estava cercado por médicos e enfermeiros, que o conectavam a tubos e monitores. Seus batimentos cardíacos eram fracos, mesmo com o oxigênio.

Olhei para ele. Dormia, parecendo um anjo. O que teria acontecido para deixá-lo tão debilitado? A pergunta ecoava em minha mente quando ouvi duas batidas na porta. Dois homens, que pareciam ser um casal, pediram permissão para entrar. Cedi, pois o quarto agora não era só meu.

Pedi à enfermeira que me levasse ao jardim. Enquanto contemplava as flores, um sentimento esmagador tomou conta de mim. Lágrimas começaram a escorrer, e logo se transformaram em um pranto incontrolável. Revivi o acidente, os gritos, a dor. Tudo parecia tão real.

— Jungkook, já está na hora de voltar. Está escurecendo — disse a enfermeira, levando-me de volta ao quarto.

Eu estava em silêncio, ainda sem enxugar as lágrimas. Estava humilhado, dependente de todos, sem acreditar em mais nada.

No quarto, o homem mais alto se aproximou de mim.

— Você parece mal... quer conversar sobre o que está sentindo? — ele perguntou.

— Só me sinto um pouco solitário, nada com que se preocupar — forcei um sorriso.

— Quer um abraço? — ele ofereceu, gentilmente.

Sem saber por quê, desabei. A última vez que fui abraçado por alguém que não fosse Taehyung parecia uma lembrança distante. Namjoon me abraçou com carinho, e eu me deixei afundar naquele gesto, como se finalmente estivesse recebendo o que tanto ansiava: o simples conforto de não estar sozinho.

(...)

Jungkook adormeceu, e Namjoon continuou ao seu lado, oferecendo palavras de conforto. Afinal, era tudo o que ele precisava ouvir nos últimos dois meses.

Em busca da cura - Três meses para viver.Onde histórias criam vida. Descubra agora