PENELOPE POV
A preocupação pairava no rosto de Hope a todo momento, seja por conta de Malivore, por conta das pessoas que tentávamos ajudar, seja pelo pesar que aquela casa, aquela cidade traziam para ela ou por não saber onde a nossa namorada estava. Ela estava sempre se preocupando com os outros e não com si mesma, então eu fazia isso por ela.
Em todo momento livre que nós tínhamos eu lembrava a Hope de se alimentar, de ingerir sangue, de dormir, e quando necessário eu a acompanhava até o Bayou para ela se transformar e correr pela floresta para colocar o estresse para fora.
A saudade e a preocupação que sentia por Josie estavam me consumindo de dentro para fora, toda vez que Ric ligava eu temia que fosse para nos alertar do pior, mas todas as manhãs que acordava e me lembrava dela eu me aliviava por saber que ela ainda estava viva, que ela ainda existia.
E como coisas ruins não vinham separadamente o meu lado premunitivo estava começando a se fortalecer, com certeza pelo fato de estar de volta a Nova Orleans, cidade natal dos ancestrais da linhagem Park, um lugar que eu evitei a minha vida inteira justamente por medo de que isso pudesse acontecer, e bem, aqui estou eu.
Minha mãe sempre me dissera que esse dom, que esse poder que a nossa linhagem carregava era uma dádiva, uma benção, mas eu não via dessa maneira. Saber o futuro nunca foi algo que almejei, muito pelo contrário, tentei fugir disso o máximo que consegui. Saber mais do que todos, poder saber quando aqueles que me cercavam, que eu amava iriam morrer, quando eu iria morrer... Eu preferia a dádiva do não saber. E eu nem ao menos tinha alguém do meu lado para me guiar nesse caminho, já que minha mãe e meu irmão mais novo estavam na Bélgica, lugar onde eu também deveria estar, mas, bem, eu era teimosa demais para largar a minha vida e meu amor para trás.
Observei de longe enquanto Hope deixava de ser um lindo lobo cinzento para se transformar na menina de olhos azuis novamente. Caminhei até ela com suas roupas em minhas mãos e ficamos por lá, sentadas na grama, longe de todo o problema e preocupação, mesmo que somente por aquele curto período de tempo.
- Você já considerou desligar a sua humanidade? - questionei, após um longo momento de silêncio.
Hope, que estava deitada em meu colo encarando o céu alaranjado acima de nós, virou os olhos para mim, e respondeu após uma breve reflexão:
- Já, algumas vezes... - e concluiu - mas para alguém como eu, com todos os poderes que eu tenho e com o meu histórico familiar, isso seria algo catastrófico.
- Mas e se você não fosse levar isso em consideração, - continuei - não levar seu poder, seu histórico familiar em conta, você faria?
- Sim. - respondeu ela com um suspiro - Seria bom não ter o peso do mundo nos ombros para variar.
***
A noite estava fria e o chão do cemitério de Nova Orleans estava coberto por uma densa neblina. Os jazigos estavam ainda mais sinistros nesta noite em particular e eu não fazia ideia do que eu estava fazendo ali.
Uma silhueta feminina se formou no estreita corredor a minha frente, seus cabelos negros compridos se revelaram quando ela se aproximou. Seus traços eram familiares, reconfortantes. Nesse mesmo instante um clarão rompeu o céu nublado e o trovão rastejou crescentemente por entre as nuvens pesadas. Senti as mãos frias da mulher segurarem as minhas, que pareciam estar pegajosas.
- Todos os homens devem morrer. - sua voz sombria soou dentro da minha cabeça - Todos sempre morrem, faz parte do ciclo natural.
Ela ergueu suas mãos e as esfregou no rosto, deixando rastros vermelhos nas bochechas. Só então percebi que eram as minhas mãos que estavam cobertas de sangue, um sangue que não era meu.
Ela apontou seu dedo comprido e vermelho para algo que se estendia atrás de mim. Me virei e o grito que escapou foi instantâneo, doloroso.
Hope, Lizzie, Josie, Caroline, Alaric... Todos eles estavam mortos, seus corpos dilacerados e espalhados em meio a uma enorme poça de sangue. Corri até eles que começaram a desaparecer diante dos meus olhos, e conforme minhas lágrimas caiam um por um sumia, desaparecia da minha mente até que não me lembrava mais porque estava chorando.
A mulher se agachou diante de mim, sobre o sangue que eu não entendi o que porque de estar ali.
- Sempre tem uma brecha, sempre há uma saída...
Senti meu corpo ser puxado pera trás e os olhos negros de Marcel Gerard se materializaram diante de mim. O dia estava claro, o sol a pino queimava minha nuca e eu não fazia ideia de como havia ido parado ali.
- Ela está aqui! - gritou ele para as lápides a sua esquerda, e como um vulto Hope apareceu do meu lado, jogando seus braços ao meu redor. Logo após Freya e Rebekah também surgiram por entre os altos jazigos de concreto e mármore, cada uma vinda de um direção diferente.
- O que aconteceu? - perguntei confusa.
- Eu não sei! - respondeu Hope eufórica - Acordei e você não estava lá, não conseguia te encontrar em lugar nenhum, feitiço algum te localizava... Eu... Eu pensei o pior.
- Calma, amor, eu estou bem. - me apressei a dizer, com a intenção de acalma-la. - Eu só... Eu não sei como vim parar aqui.
- Qual a última coisa da qual se lembra? - perguntou Freya, se aproximando de mim.
Forcei minha mente para o último acontecimento fresco em minha mente
- Eu subi para o quarto, me deitei e então dormi... Eu estava sonhando, tinha uma mulher... eu acho que a conheço de algum lugar e...
- Como era essa mulher? - perguntou Freya.
- Podemos fazer isso em outro lugar? - a voz de Rebekah soou afastada - Esse lugar me causa arrepios
Saímos todos do cemitério o mais rápido que conseguimos, Hope olhando sobre os ombros a todo momento e com a mão segurando firmemente a minha. Não havia mais ninguém ali, mas eu não conseguia deixar de lado a sensação de que estávamos sendo observados.
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Último Recurso - Fic Phosie
Fanfiction1ª parte: Caroline Forbes passou boa parte da adolescência de suas filhas procurando uma solução para o destino que aguarda as gêmeas Saltzman quando atingirem 22 anos, viajando pelo mundo se mantendo longe delas e da escola que fundou ao lado de Al...