Capítulo 8 - Juntas

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JOSIE POV

Estava sentada ao lado da cama segurando a mão fria da Lizzie enquanto esperava que ela retornasse. Minha mãe havia me dito que a transformação é diferente para cada um, que cada pessoa em transição leva o seu próprio tempo para despertar.

Eu me recusei a sair do lado da minha irmã até que ela acordasse. O dia já estava raiando e o sol que nascia no horizonte me assustava pois eu não sabia o que poderia acontecer comigo e com a Lizzie quando esse novo dia nascesse por completo.

O que seria de nós agora?

O cordão que Hope havia me dado de presente de aniversário estava sobre o criado mudo junto a pulseira de prata de Lizzie, ambos os objetos encantados por ela para nos proteger.

Proteção. Eu me sentia vulnerável, fraca. Minha boca estava seca, minha língua parecia uma lixa e minha garganta ardia. Eu sabia que meu pai estava lá fora, andando de um lado a outro pelo corredor, minha mãe estava sentada no pé da cama, com a cabeça baixa, pensativa. E Hope, onde ela estava?

Os dedos finos de Lizzie apertaram a minha mão e eu senti uma eletricidade correr pelo meu braço. Ela resmungou, se mexeu e abriu os olhos finalmente.

- Alaric! - Caroline chamou pelo meu pai que entrou imediatamente quarto a dentro.

- O que houve? - Lizzie coçou os olhos e desceu a mão até a garganta - Eu me sinto estranha.

- Meu amor - mamãe se aproximou - como você está se sentindo?

- Estranha - Respondeu Lizzie rapidamente.

- Aconteceu uma coisa, mas agora o que você precisa saber é . que.. Você está bem, você e a sua irmã estão bem, mas... - Os olhos da minha mãe foram tomados por tímidas lágrimas - Vocês estão em transição, vocês foram transformadas.

- É o que?! - Lizzie arregalou os olhos e abriu a boca em um perfeito O.

- Vocês precisam completar a transição de uma vez - disse meu pai impaciente. Ele puxou de uma pequena sacola de papel duas bolsas de sangue. Senti um incomodo na garganta e a minha língua se tornou três vezes mais áspera do que estava antes.

- Espera... O que aconteceu? Como isso... Vocês disseram que a gente só iria passar pela transformação aos vinte anos e que seria uma não as duas.

Eu me ajeitei na cama e segurei as duas mãos da minha irmã. Seus olhos vermelhos de choro me encararam e eu quase desabei junto com ela.

- Aconteceu uma coisa comigo, a Hope me deu seu sangue para salvar a minha vida mas já era tarde demais... Eu estou em transição, mas a nossa ligação é muito forte e afetou você também. - conforme as palavras saíam da minha boca a respiração de Lizzie ficava mais entrecortada - É como se a fusão se tivesse se iniciado na hora em que eu... Que eu morri. Você estava morrendo e a mamãe pediu para que a Hope te transformasse também.

Lizzie ficou em silêncio. Subitamente seu rosto se iluminou, como se ela tivesse se dado conta de algo extraordinário naquele momento.

- Os nossos poderes... Eles...

- Sim, após completar a transição vocês terão acesso a eles, como sempre deveria ter sido. - respondeu meu pai.

- Jojo...

Eu sabia o que ela estava pensando, podia imaginar tudo o que se passava na cabeça dela naquele momento já que eu também estava tão aflita e apreensiva quando ela.

- Eu sei, - disse apenas - mas estaremos sempre juntas, nada vai mudar isso, nunca, está me ouvindo?

- Eu não quero morrer. - Lizzie sussurrou - Não quero perder você.

Me virei para o meu pai que estava impassível perto da porta, segurando com firmeza a sacola de papel. Estiquei as mãos e ele me entregou as duas bolsas de sangue.

As lágrimas voltaram a rolar pelo rosto pálido de Lizzie. O sol começava a entrar pelo quarto e, por algum motivo, isso estava me apavorando.

- Você não vai me perder. - coloquei a bolsa de sangue sobre a cama, diante da Lizzie, peguei a pulseira e prendi em seu punho, coloquei o colar em volta do meu pescoço e o encarei por alguns segundos, me dando conta de que nunca mais iria tira-lo dali. Peguei a bolsa de sangue, que estava morna e, de uma forma ainda estranha para mim, não me parecia repulsiva.

Lizzie pegou a bolsa e abriu o pequeno lacre com os dedos e a levou até os lábios. Passamos por isso juntas, como tudo sempre foi em nossas vidas. As veias roxeadaa se espalharam ao redor dos seus olhos e eu fechei os meus, apreciando o gosto magnífico que o sangue agora passará a ter, apreciando a sensação de alívio que aquele líquido me causava.

Tudo iria mudar. Tudo seria diferente e eu não sabia o que fazer a seguir, mas eu não estava sozinha, nunca estaria, e isso fazia com que eu me sentisse mais segura.

Último Recurso - Fic PhosieOnde histórias criam vida. Descubra agora