Pare de se machucar [Paradise Lost: stage two]

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Paradise Lost

(Nice Girl)

"Let me do it
You're going to have a good dream now
Let me do it
In your ears, eyes and hands
There will be days and nights like paradise"

Pare de se machucar

Capítulo III

            Quando acordei no dia seguinte, meu padrasto estava me chamando em seu escritório, o qual ficava no andar de cima. Aquele andar era um tipo de sótão, estava ainda meio vazio com apenas algumas caixas e tinha uma pequena sala, o local onde ele me esperava para conversarmos.

            Preparei-me psicologicamente para qualquer tipo de sermão que viesse caso tivesse algo a ver com a noite anterior, pois seria uma situação muito tensa. Passei pelo quarto de Jimin, este encontrava-se fechado e dava para ouvir seu choro quando se encostava a orelha na porta. Não soube como reagir, então, continuei andando. Não queria me sentir culpada, mas não queria deixar de me culpar: era este um maldito dilema moral!

            Subi as escadas e cheguei no sótão. Em seguida, entrei no escritório e encontrei o senhor Park com alguns papéis em mãos. Franzi o cenho, sem ter ideia o que ele gostaria de tratar comigo. Senti receio.

            – Sente-se, por favor, s/n – pediu educado.

            Pelo seu tom, supus que ele realmente não soubesse nada da noite anterior ou minha mãe já estaria aqui também, dando-me um sermão ela mesma, já que ela amava mais seu enteado e confiava muito mais nele do que em mim, sua própria filha. Sentei-me sem receio algum, apenas esperando que começasse a falar, porque não deveria ser nada polêmico.

            – Eu entrei em contato com algumas universidades e ainda dá tempo de te aceitarem, eu insisti bastante e falei sobre suas notas, sobre sua genialidade e seus trabalhos voluntários nos últimos anos aqui. Alguma preferência? Pesquisei em diversos locais do mundo, inclusive Japão e países de língua inglesa, pois sei que conhece bem as línguas. Deseja voltar para o Brasil? Posso bancar um cursinho e você presta o... vestilar?

            – Vestibular – murmurei a correção, meio atordoada.

            Arregalei os olhos. Não estava esperando aquilo, principalmente do senhor Park. Ele tinha corrido atrás de faculdades ao redor do mundo, mesmo sempre estando ocupado demais na empresa, tinha se lembrado de mim e aquilo era chocante. As poucas horas de lazer que possuía... perdidas para correr atrás de universidades ao ponto de convencê-las a me aceitar pelo meu histórico, contando histórias que eu nem tinha ideia de que ele sabia. Minha mãe não teria feito o mesmo por mim nem em mil anos...! Ela estava mais preocupada com as unhas! E o senhor Park parecia apenas vê-la quando estava em casa, já que ficavam grudados as poucas horas que tinham juntos. Seriam um lindo casal se ela não fosse uma louca ambiciosa e narcisista.

            A luz das janelas de vidro espesso transparente, as quais estavam trancadas por cadeados sempre, batia de leve em metade do seu rosto, causando um contraste bonito. Aquilo, por alguns segundos, fez meu corpo todo esquentar de forma esquisita. Ele parecia um anjo, um anjo que poderia me salvar daquele inferno ardente, no qual seu filho alimentava e controlava as chamas.

            Um sentimento estranho preencheu meu ser naquele momento, algo que eu nunca mais soube realmente o que era desde que meu pai morreu: verdadeira gratidão. Fazia realmente meu interior se remexer de forma esquisita e, ao lembrar-me da noite anterior, não a garota boa, mas, sim, uma voz calma que vinha das profundezas de meu conturbado ser, apareceu, dizendo-me que Jimin não seria o único a se destruir pela minha vingança. Ele já estava acabado, eu havia lhe dado motivos para ter pesadelos por anos e só precisara de uma noite. Era hora de parar. Aquele não era o meio certo, mas estava doendo tanto...! Eu precisava daquilo e, em meio à loucura, cedi ao meu demônio interior!

Nice Girl (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora