- Ai! - Exclamo ao me queimar pela segunda vez com a panela quente.
É sábado e eu estou em casa esperando a Sina, que viria para dormir.
Decidi mais cedo que iria fazer brigadeiro para comemermos depois da pizza, mas a panela não ia com a minha cara e eu já tinha me queimado duas vezes. Tudo bem que eu era uma negação na cozinha, mas me queimar fazendo brigadeiro me parecia amador demais.Consigo terminar sem me queimar pela terceira vez e, após colocar na geladeira, vou até a sala para espera - la. Alguns minutos mais tarde, a companhia toca e é Sina, com nossa pizza em mãos. Arrumamos nossas coisas e vamos até meu quarto.
Percebo Sina quieta demais e resolvo entender o porque.
Ta tudo bem, Sina? Está quietinha.
Hm, aconteceu uma coisa hoje.
Me conta, quem sabe posso te ajudar?
Ela se ajeita na cama e arruma seus cabelos para trás. Posso notar seu desconforto.
Você se lembra que eu converso com uma pessoa anônima no Twitter, né? - Assinto. Eu sempre fui contra essa história, mas Sina nunca deu bola quando eu dizia que podia ser perigoso. Ela nunca parou de falar com essa pessoa e isso acabou com ela apaixonada por alguém que ela nem sabia se realmente existia.
Então, essa pessoa me falou quem é. Vou te contar desde o começo.
Nós estávamos conversando normal, igual todos os dias, quando eu pedi pra ele sair do anônimo, de novo. Eu só pedi por pedir, sabia que ele recusaria, mas foi diferente. Ele falou que sim, dessa vez. Nunca fiquei tão ansiosa na vida.
Então, pedi chamada de vídeo, as que ele sempre recusou, e dessa vez ele atendeu. - Sina para de falar, parecendo incerta sobre continuar ou não. Tenho certeza que meu rosto estampa toda a preocupação que estou sentindo.Pode falar, Sina. Eu estarei aqui seja o que for, prometo que não irei julgar e nem nada.
Sina toma fôlego, se ajeitando na cama. Me ajeito também, atenta ao que ela diz.
Hm, não era ele, Any. É ela. A pessoa com que eu estive falando todos os dias, é uma menina.
Tento assimilar tudo o que me foi dito e vejo Sina me encarar ansiosa. Era visível em seu rosto que ela estava confusa.
Me perdoa se eu parecer grossa, mas qual é o problema de ser uma garota, Sina?
Eu sempre gostei de homens, Any. Sempre namorei, sai, beijei meninos. E agora eu estou completamente apaixonada por uma menina. Eu estou confusa e com medo, Any.
Sinto meu coração apertar ao ver minha amiga desse jeito. Subo na cama, e a abraço de lado.
Amiga, eu entendo toda sua confusão. Mas a gente não manda no coração, meu amor. Amor não tem gênero, não tem sexo. Amor é amor e pronto. Não vai ser diferente pra você ser apaixonada por um menino ou por uma menina. Você gosta dela. E é o sentimento que importa. Entende?
Sina me abraça forte, sussurrando obrigada em meu ouvido. Dou um beijo estalado em sua bochecha.
Mas e então, como ela é?
Aí Any, ela parece um anjo. Ela é coreana, os olhinhos miúdos, tudo nela me passa a sensação de que estou vendo a pessoa mais fofa desse mundo.
Do que falaram?
Hm, sobre isso... Eu fiquei em choque ao descobrir que era uma menina, fiquei olhando ela por 2 minutos e desliguei a chamada sem dizer nada.
SINA! Não acredito que fez isso. Vamos ligar pra ela agora e você vai pedir desculpas.
Pego meu notebook na mesa e levo até a cama. Sina tenta entrar em contato com a menina, que logo responde dizendo que poderia atender. Sina me olha nervosa e eu só levanto meus polegares, incentivando- a. Vejo - a respirar profundo e então, a chamada começa a tocar.
A menina atende e vejo Sina ficar em silêncio mais uma vez, a incentivo e ela começa a falar. Faço menção de sair do quarto e lhes dar privacidade, mas um Noah sai da boca da menina atrás da tela e Sina me olha com os olhos arregalados. Imediatamente vou para frente do computador, sentindo meu coração falhar uma batida ao ver o meu Noah do outro lado da tela, ao lado da menina coreana.
Ele parece surpreso e eu fico ainda mais ansiosa ao constatar que ele lembra de mim. Minhas bochechas esquentam e eu me jogo no chão, saindo do campo de visão deles. Sina olha pro meu estado deplorável e começa a rir.
Para de rir, Sina Deinert. Agora!
Ai Any, desculpa. Mas é que você tá deixando as coisas bem na cara. - Ela sussurra a última parte, mas é o suficiente para que a outra menina escute.
Hm, oi Any. Sem querer te deixar mais sem graça, mas você tá deixando bem na cara mesmo. E olha que eu nem te conheço.
Mortificada, subo ao lado de Sina e vejo Noah no fundo da tela. Então falo, alto, para que ele escute.
Eu tinha deixado meu celular cair no chão, vocês estão viajando, não tem nada para ser deixado na cara.
Minto tão mal que nem minha irmã de 10 anos ia acreditar nisso.
As duas murmuram um "aham" e no fundo, posso ver um sorriso discreto nos lábios de Noah.
Sem perguntar como a coreana sabia meu nome, pergunto o dela.
Heyoon
Bom, Heyoon, eu já paguei mico o suficiente pela minha vida inteira em apenas 2 minutos. Vou deixar vocês conversarem.
Heyoon me manda um beijo. Dou um beijo na testa de Sina dizendo - a para me chamar caso precisasse de alguma coisa.
Sento no sofá da sala pensando em como eu posso ser tão surtada. Já era o segundo mico que eu pagava na frente do garoto.
Eu definitivamente, sou um desastre.
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O Garoto da Kombi Amarela
Teen FictionO garoto da kombi amarela sempre chamara a atenção de Any. Com seu estilo indie/rock e suas músicas de letras bonitas, ele era um ponto curioso no pacato dia escolar. Quando o menino chegava para buscar a irmã no colégio de Any, ela sentia como se...