TELEGRAMA DO INFERNO

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O corpo estava pálido como a face da lua. Elliott observa estático. Em sua mente, agora paira um sentimento confuso de culpa. A visão do morto refletida em seus olhos o acusa profundamente. De certa forma, se sente responsável. Uma escuridão inunda seus pensamentos, sente o peso da morte, a dor da perda, um sentimento da tortura. Apenas duas palavras vem à sua mente, as quais lança num sussurro quase inaudível: "fatum est mors."

Jones:  O que disse?

Toda essa cadeia de pensamentos durara menos de um segundo.

Steve:  Corpo... um corpo... um corpo... (pausa com suspiro) ... Sim! Minha lupa. - Diz levando a mão ao bolso como que saindo de um transe hipnótico.

Observa meticulosamente cada detalhe, tornozelos e pulsos cauterizados, ao que indica, por um ferro quente. Olhos meticulosamente extraídos, nenhum sinal de tremor pelas mãos do assassino. Por fim, o símbolo no peito. Significado este que conhecia muito bem.

Elliott observa em extremo silêncio  totalmente concentrado. Seus olhares se cruzam, Smith em um movimento de cabeça indica ter acabado.

Steve: Terminamos aqui, por favor guarde o corpo - Anuncia ao patologista enquanto Elliott deixa o cômodo.

No corredor...

Elliott:  São águas profundas meu caro Steve, águas profundas.

Tenho de ir. Logo mais lhe envio um telegrama, mas antes, preciso ver algumas de minhas anotações.

Com um aperto de mãos os cavalheiros se despedem. Elliott avança para a saída dando as costas ao amigo.

Elliott: Cocheiro. - Hotel King Haralds. - Anuncia logo após se acomodar no acento interno.

P. S. O DIABO

Com a cabeça encostada na poltrona, Elliott parece pensativo, em seus olhos jazem um tom cinza distante, sua habitual, embora inconfundível, expressão de romagem interna. Tudo que havia escrito sobre Darach em seus diários, cada pequeno detalhe agora passa por sua mente. Mesmo depois de anos de estudos e pesquisas sobre a mente humana, Darach ainda parece ser uma incógnita completa. Como decifrar a mente desse psicopata? pergunta a si mesmo. Não conseguia entender, muito menos prever qual seria o próximo ato. Os psicopatas adoram provocações, elas instigam seu prazer pela caçada. Darach, no  entanto, não seguia esse padrão. Era contraditório, imprevisível e estupidamente inteligente. Como agir diante disso? Elliott se sente impotente e desajeitado. Por mais que se firmasse em suas notáveis habilidades, o fracasso parecia sempre estar a sua frente.

Cocheiro:  Prontinho senhor.

Despachando o moço, entra rapidamente no hotel, seguindo em direção as escadas que dão de frente para seu quarto, mas antes é interrompido por sua senhoria.

Sra. Elizabeth: Smith querido, chegou uma encomenda para você. Já está no seu quarto.

Elliott agradece e continua o trajeto. Tudo o que quer agora é se trancar em seu quarto.

Após rodar a maçaneta e fechar a porta atrás de si, inspira aliviado. Rapidamente, tira suas botas, pondo-as ao lado direito, bem no pé da porta. O sobretudo num cabide. Folga a gravata e retira o paletó. Olha ao redor a procura de sua encomenda, um pacote quadrado contendo algumas ferramentas de investigação, como pó para impressões digitais, adesivos de nicotina e recipientes para amostras de tecidos. Vai até a cozinha onde vê posta à mesa uma caixa marrom. Sem muito esforço, pelo conteúdo ser leve, leva até a sala, se joga no sofá, e começa com ajuda de um canivete que levava a cintura, cortar os barbantes que envolviam a caixa. Abre-a, enquanto confere cada objeto repetindo para si seus respectivos nomes.

Tudo parece estar em ordem. Confere mais uma vez sua vasta coleção de alicates, e alguns dos seus instrumentos delicados de coleta. Após uma rápida checagem, fecha a caixa, levando-a ao terceiro cômodo, pondo em cima da escrivaninha. Volta em direção ao sofá. Seus olhos são repentinamente guiados na direção da cama. Encima do travesseiro está um envelope. Elliott fica imóvel. Um envelope em sua cama! Pega-o e sente a textura. Leva para debaixo da luz da escrivaninha. Abre-o retirando de dentro o que parece ser um telegrama. Seus olhos movem-se rapidamente indo de uma linha a outra. Sua expressão facial muda a cada palavra. Horror e medo tomam conta de si. Em sua testa, pequenas gotas de suor começam a brotar. Coração disparado, mãos frias. Após terminar a leitura, suas pernas falham, sendo socorridas pela cadeira de madeira logo atrás. Não consegue dizer uma palavra, seus lábios estão serrados. Todo o equilíbrio e profissionalismo do doutor é dissipado. Em sua mente, pensamentos mais acelerados que estrelas cadentes surgem de todos os lados. Quase que sem conseguir parar de tremer, deposita o telegrama na mesinha. O bilhete dizia:

Meu bom amigo doutor

Tenho o observado com grande interesse, e acompanhado suas ações. Espero não estar interrompendo seu descanso neste momento. Sei que teve um dia longo de trabalho, entretanto, não podia deixar de lhe agradecer por ter vindo. Sua companhia muito me agrada. Gostaria de mencionar, o próximo sangue a se esvair talvez seja o do conducente.

Espero estar lhe proporcionado ótimos momentos de prazer. Tomara que esteja feliz tanto quanto eu estou.

"codladh."

D.

DARACH Onde histórias criam vida. Descubra agora