II

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-O sacrifício... Sou eu... - Murmurou cabisbaixa, incapaz de encarar o grande deus.

Hades engasgou com a própria voz. Questionava-se sobre o motivo de os mortais oferecerem-lhe um dos seus. A resposta era incógnita. Pensar que aquele tipo de sacrifício seria destinado a sí, era de fato surpreendente, afinal, os humanos o temiam mais que tudo.

-Qual teu nome? - Interpelou a questiona-la.

-He-Helena...

Hades nada respondeu, limitando-se a encara-la profunda e descaradamente. Ele ergueu seu cetro, provocando uma densa fumaça negra que os rodeou. Em poucos segundos os dois viam-se fora do templo. Helena mantinha os olhos fechados, incapaz de mover-se.

-Abra-os. - Ordenou.

Acatando, Helena abriu-os lentamente e o que se sucedeu foi um sobressalto trêmulo pela recém condição que lhe implicara. Ela estava nos braços de Hades, literalmente. Por sorte agarrara-se a túnica, caso contrário, entregaria seu nervosismo pelas mãos trêmulas. Sombras disformes rodearam-nos, como almas penosas em eterno sofrimento. Diante de ambos, uma carruagem emergiu. Em silêncio, o deus caminhou até o transporte que os aguardava, depositando-a lá dentro. Seu cuidado com a jovem era extremo, dada a índole educada do homem.

-Por que? - Hades perguntou já dentro da carruagem, enquanto a mesma movia-se gradativamente. Logo viam-se no céu.

A voz sussurrante, em notas graves, reverberou por todo o ambiente, trazendo a jovem de volta a realidade. Helena mal podia formular uma frase estando em sua presença, logo ela, uma mulher tão segura de sí, que via-se desnorteada pelo aroma inebriante, entregando-lhe os sentidos. O deus a encarava com seus olhos acinzentados oscilantes, eles poderiam ler até o canto mais profundo de sua alma.

-E-eu... O roubei... - Confessou lívida, as mãos trêmulas logo foram ocultadas pela camada da manta que recaia sobre as coxas.

Ademais, Hades não acreditara em suas palavras, vasculhando impetuosamente com o olhar frívolo e sagaz, a falsa afirmação. Ele bem conhecia os puros, sabia mais que tudo julgar um ser através das atitudes promíscuas, imparcialmente, segundo muitos, e este não era o caso de Helena.

-Eu entrei em seu templo, roubei seu ouro e outras pedras preciosas... - Continuou. -Então, a cidade julgando ser o melhor, castigou-me, mandando-me como sacrifício para ti.

Hades não queria ler seus pensamentos como um simplório cavalheiro, mas aquela desculpa esfarrapada não convencia nem o mais bobo. Se tivesse de arrancar a verdadeira confissão de forma bruta, assim o faria.

-Eu quero a verdade. - Exigiu severo.

O seu tom de voz forte assustou a moça, que egolindo em seco, confessou.

-Mantenho minhas palavras. Digo e repito, eu o roubei. Não quero sermões, então por favor, responda. - Até mesmo ela surpreendeu-se com a própria coragem. -Eu vim como um sacrifício e todo sacrifício tem um fim. Qual será o meu? - Perguntou a jovem, tirando-o de seus devaneios.

A voz de Helena soara calma e pesarosa. Hades por um momento perdeu-se naqueles olhos perolados, eram como um grande universo a ser explorado.

-Eu não pretendo mata-la, tampouco deixa-la livre. - Sondou ainda embevecido.

-Que confuso! - Comentou a jovem, expressando um puro sorriso, causando ao deus um arrepio pela medula.

Hades: The SacrificeOnde histórias criam vida. Descubra agora