-O sacrifício... Sou eu... - Murmurou cabisbaixa, incapaz de encarar o grande deus.
Hades engasgou com a própria voz. Questionava-se sobre o motivo de os mortais oferecerem-lhe um dos seus. A resposta era incógnita. Pensar que aquele tipo de sacrifício seria destinado a sí, era de fato surpreendente, afinal, os humanos o temiam mais que tudo.
-Qual teu nome? - Interpelou a questiona-la.
-He-Helena...
Hades nada respondeu, limitando-se a encara-la profunda e descaradamente. Ele ergueu seu cetro, provocando uma densa fumaça negra que os rodeou. Em poucos segundos os dois viam-se fora do templo. Helena mantinha os olhos fechados, incapaz de mover-se.
-Abra-os. - Ordenou.
Acatando, Helena abriu-os lentamente e o que se sucedeu foi um sobressalto trêmulo pela recém condição que lhe implicara. Ela estava nos braços de Hades, literalmente. Por sorte agarrara-se a túnica, caso contrário, entregaria seu nervosismo pelas mãos trêmulas. Sombras disformes rodearam-nos, como almas penosas em eterno sofrimento. Diante de ambos, uma carruagem emergiu. Em silêncio, o deus caminhou até o transporte que os aguardava, depositando-a lá dentro. Seu cuidado com a jovem era extremo, dada a índole educada do homem.
-Por que? - Hades perguntou já dentro da carruagem, enquanto a mesma movia-se gradativamente. Logo viam-se no céu.
A voz sussurrante, em notas graves, reverberou por todo o ambiente, trazendo a jovem de volta a realidade. Helena mal podia formular uma frase estando em sua presença, logo ela, uma mulher tão segura de sí, que via-se desnorteada pelo aroma inebriante, entregando-lhe os sentidos. O deus a encarava com seus olhos acinzentados oscilantes, eles poderiam ler até o canto mais profundo de sua alma.
-E-eu... O roubei... - Confessou lívida, as mãos trêmulas logo foram ocultadas pela camada da manta que recaia sobre as coxas.
Ademais, Hades não acreditara em suas palavras, vasculhando impetuosamente com o olhar frívolo e sagaz, a falsa afirmação. Ele bem conhecia os puros, sabia mais que tudo julgar um ser através das atitudes promíscuas, imparcialmente, segundo muitos, e este não era o caso de Helena.
-Eu entrei em seu templo, roubei seu ouro e outras pedras preciosas... - Continuou. -Então, a cidade julgando ser o melhor, castigou-me, mandando-me como sacrifício para ti.
Hades não queria ler seus pensamentos como um simplório cavalheiro, mas aquela desculpa esfarrapada não convencia nem o mais bobo. Se tivesse de arrancar a verdadeira confissão de forma bruta, assim o faria.
-Eu quero a verdade. - Exigiu severo.
O seu tom de voz forte assustou a moça, que egolindo em seco, confessou.
-Mantenho minhas palavras. Digo e repito, eu o roubei. Não quero sermões, então por favor, responda. - Até mesmo ela surpreendeu-se com a própria coragem. -Eu vim como um sacrifício e todo sacrifício tem um fim. Qual será o meu? - Perguntou a jovem, tirando-o de seus devaneios.
A voz de Helena soara calma e pesarosa. Hades por um momento perdeu-se naqueles olhos perolados, eram como um grande universo a ser explorado.
-Eu não pretendo mata-la, tampouco deixa-la livre. - Sondou ainda embevecido.
-Que confuso! - Comentou a jovem, expressando um puro sorriso, causando ao deus um arrepio pela medula.
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Hades: The Sacrifice
RomanceEntregue como sacrifício, Helena, uma humilde camponesa grega, conheceria de perto aquilo que até então limitava-se a contos religiosos sobre deuses. Hades, que repudiava a raça humana, testemunharia o conflito entre seus ideais ao receber como ofer...