Nazira sorria e acenava discretamente às amigas com as quais, dias antes, brincava de roda e disputava corrida, a partir de agora seria uma mulher casada e isso lhe traria muitas responsabilidades.
Contava catorze anos, desde o seu nascimento fora dada em casamento ao belo Ramon em acordo firmado entre os pais. As amigas lhe diziam que era uma cigana de sorte: Ramon trazia o céu sem nuvens no olhar.
Nazira, que trazia a noite escura no próprio olhar, buscou pelo marido: Ramon recebia conselhos dos homens do clã.
A festa de casamento entrava no terceiro dia e em algumas horas os noivos seriam conduzidos para a tenda dos pais dele, onde aconteceria o arrontamento*.
Nazira ouvira das mulheres que tinha que ser obediente e servir ao marido e estava disposta a seguir as instruções.
Ramon era uma presença constante, a garota riu ao recordar-se das vezes em que, pequena, lhe mostrara a língua por achá-lo chato. Ele lhe sondava os passos: cuidando para que não se machucasse e a livrando das merecidas broncas por suas travessuras.
A ciganinha levou a mão ao corte aberto a punhal pelo Grande Pai durante a cerimônia de união de sangue* com Ramon, acariciou a fita vermelha que "guardava" o ferimento, recordando de outro momento de seu casamento, quando sentada de frente para o marido, recebeu os presentes que foram depositados num grande pão sem miolo e, em agradecimento ela distribuiu flores às mulheres e ele: fitas aos homens.
- Minha filha, a juntaora* a espera - chamou a mãe.
Nazira a olhou e viu preocupação em seu olhar.
- Serei uma boa esposa - prometeu a garota para dissipar aquela ruga de preocupação.
- Tenho certeza que sim.
Sua mãe, sua sogra, as esposas dos irmãos de Ramon e mais oito mulheres de respeito e "sem falta" do clã fariam parte da "corte" de arrontamento.
Ramon ouvia os últimos conselhos do pai:
- Quando você tomá-la em seus braços, toque-a como quem colhe uma flor: seja firme para não quebrar o galho em lugar errado mas seja cuidadoso para não ferir suas pétalas, eh?!
Ramon meneou a cabeça em gesto positivo e o homem prosseguiu:
- Nenhum outro homem irá tocá-la, serás o único. É teu dever permanecer nos pensamentos dela e fazê-la suspirar desejando teus braços.
Ramon concordou. O pai lhe deu um abraço e indicou a entrada da tenda.
O jovem de dezenove anos entrou: o ambiente estava enfeitado por velas ornamentadas, a juntaora o conduziu até onde Nazira estava deitada com a cabeça no colo do "padrinho", um ancião do clã que tinha o chapéu a cobrir-lhe os olhos, a mãe dela, Zaíra, mantinha suas pernas abertas com a saia erguida, deixando-a desnuda da cintura para baixo.
A juntaora colocou o panuelo no dedo indicador do rapaz, enquanto ouvia pela milésima vez as instruções, ele olhava para os enfeites nos rebordos do fino pano branco: bordados e pedrarias feitos pela mãe da noiva.
Ramon aproximou-se de Nazira, por um breve instante a fitou e sorriu, murmurando um mi amor, a garota sorriu de volta.
A juntaora chamou sua atenção, com a velha cigana observando atentamente seus gestos, Ramon introduziu o dedo indicador com o panuelo em Nazira, forçando levemente para romper o hímen, a menina soltou um pequeno gemido buscando pelos olhos consoladores da mãe.
Ramon retirou o dedo e no panuelo estava provada a honra ( virgindade ) da noiva: uma pequena nódoa vermelha que foi comemorada pelas mulheres e entregue à mãe do noivo.
A juntaora, auxiliada por algumas mulheres, despiu Nazira tão logo o padrinho saiu da tenda.
Ramon também se despiu.
A juntaora fez sinal para que a garota deitasse e a instruiu a permanecer de pernas abertas. Ramon dispensou as instruções e se aproximou de Nazira sob os olhares mulheres.
- Não vou te machucar, mi amor! - sussurrou em seu ouvido - E, se o fizer, diga para que me contenha.
Nazira fez que sim com a cabeça, o coração estava acelerado e o noivo viu medo em seu olhar.
- Vou cuidar de ti, trarei felicidade ao seu coração, ouro ao teu corpo e terás alegria ao pronunciar meu nome! - a voz dele era rouca de desejo, o calor do corpo de Nazira o incendiou tão logo o tocou, mas precisava ser cuidadoso com a esposa.
- Não permitas que o vinho lhe tome os lábios e fale por ti - orientou a juntaora.
- Não é o vinho que fala e sim meu coração! - respondeu ele, depositando um beijo na face da garota.
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Esse coração cigano tá como? Pura felicidade! Esse romance é o resultado de muita pesquisa, busquei juntar costumes e tradições dos três grupos ciganos: Rom, Sinti e Calon.*Juntaora é uma mulher do clã, geralmente uma tia da noiva responsável pelo rompimento do hímen da noiva ou arrontamento, que é a prova da virgindade.
Em alguns clãs o responsável pelo rompimento do hímen é o peliche, um ancião do clã que usa a unha crescida do dedo indicador.