A caravana cigana seguia pela estrada, durante breves paradas eram ofertados alimentos e água aos animais e os próprios ciganos se alimentavam.
Ramon aproveitava cada descanso para levar um agrado à esposa: uma flor colhida no caminho para enfeitar os cabelos, um copo d'água fresca, uma fruta recém colhida...
Nazira sentia-se a mais amada das mulheres com tamanho cuidado, buscando retribuir a altura.
As carroças foram diminuindo a marcha, as mulheres se prepararam, ajustando os acessórios, Ramon aproximou-se da carroça onde Nazira estava:
- Chegamos a uma vila próspera, mi amor. Que Santa Sara entre conosco - desejou o cigano, arrumando o véu sobre a cabeça da esposa e depositando um beijo em sua fronte.
Nazira sorriu. O coração estava disparado, não sabia ao certo o que fazer, se dançaria ou faria adivinhações.
Os ciganos começaram a tocar e cantar, toda a caravana passaria pela vila, em desfile, para chamar a atenção dos moradores. As mulheres batiam palmas e sacudiam pandeiros e tamborins, as crianças pulavam entre os adultos, ensaiando passos de dança enquanto os homens dividiam-se entre controlar os animais e tocar instrumentos de cordas.
Ao passo que se formava uma aglomeração em volta dos músicos ciganos, as ciganas iam se dispersando em busca de clientes para suas adivinhações.
Nazira mantinha-se próxima de Zoraide, observando a sogra e procurando imitá-la.
- Podes ler minha sorte? - uma gadjé jovem a pediu.
Nazira sorriu para a garota, tomando-lhe a mão direita:
- Que rico futuro! - falou a ciganinha arrancando risos da gadjé.
Bastou uma dúzia de palavras carregadas de bons presságios para que recebesse moedas em paga. Nazira guardou-as na bolsinha de couro que trazia costurada à cintura, dificultando que fosse roubada.
Mais à vontade, a ciganinha "lia" a sorte às gadjés ansiosas por bons casamentos e filhos saudáveis.
Nazira segurava a mão direita de uma gadjé jovem de cabelos louros, olhos azuis e a face corada, vestida ricamente, a moça carregava consigo um sentimento de miséria.
- Passastes a tarde de ontem aos pés de um cruz...- contava Nazira, tendo claramente uma visão: - Pedistes por um filho...
A gadjé sentiu o coração doer, estava casada há dois anos e nunca conseguira engravidar.
- Um ser de luz, brilhante como o sol, colheu tuas lágrimas com cálice de ouro... - Nazira se emocionara com a visão: - Tens bom coração e serás mãe de três crianças.
A jovem não conseguia falar tamanha alegria de seu coração, as lágrimas lhe roubavam a voz.
- Duas meninas e um menino! - continuou a cigana: - Tua casa será um lugar de grandes decisões e, ao mesmo tempo, de grandes alegrias.
A gadjé abraçou a cigana que ficou desconcertada. Nazira não entendia como tinha visto tais coisas.
- Tome tua paga - a gadjé depositou algumas moedas nas mãos da ciganinha.
- Não é necessário tanto.
- Tão logo tuas palavras se realizem, terás em minha casa abrigo e em meu coração gratidão - a gadjé depositou um medalhão na mão da cigana e a fechou: - Um sinal de minha amizade.
Nazira mal teve tempo de agradecer, sua atenção foi desviada quando ouviu uma aclamação vinda do lugar onde as ciganas dançavam.
Tarah se apresentava arrancando aplausos da multidão. As mãos delicadas cobertas por anéis e pulseiras guiavam os olhares para onde a cigana quisesse: agora ela as mantinha na altura do quadril que de maneira sensual movia-se, como que desenhasse um oito.
Os homens suspiravam cheios de desejos, as mulheres lançavam olhares de admiração e inveja.
A cigana detinha sobre si todos os olhares, gostava de se "mostrar", aquela sensação de ser vista e admirada pelas gadjés ricas e seus gdjos ( gajão) importantes lhe proporcionavam um enorme prazer.
Buscou por um olhar, o único que não era seu: o de Ramon. Aqueles olhos azuis mantinham-se fixos num ponto que Tarah seguiu com seus olhos de esmeralda, encontrando uma ciganinha sem qualquer atrativo: Nazira.
Tarah era provocante na dança, insinuante e hipnotizante, despertava luxúria nos homens. Sentia que podia controlá-los, que eram incapazes de desviar dela seus olhos e aproximou-se de Ramon para enfeitiça-lo com seus passos.
Ramon lhe dirigiu um rápido olhar sem qualquer emoção e voltou a fixar os olhos na esposa.
Tarah não engolia o orgulho e fez o que era proibido* aos ciganos: acariciou a face do rapaz.
Nazira sentiu a face queimar com aquela ousadia, inconscientemente buscou por Manolo com os olhos: o cigano cuspiu no chão e toda a face era carregada de ódio.
Zoraide sentiu um aperto no peito, presságio de desgraça.
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Optchá aos corações ciganos! Estão amando Ramon e Nazira? Sim ou com certeza? Pois é... O clima de lua de mel acabou, agora é treta!!!
É proibido aos ciganos tocarem mulheres casadas ( ciganas )… Assim como as ciganas casadas não podem tocar ciganos ( casados ou solteiros ) se não forem seus filhos.