Como se iriam sentir se fossem como eu? acho que não iriam saber, primeiro porque não me conhecem e segundo porque é impossível duas pessoas serem iguais. O meu nome é Manny Miller, e esta é a minha história, não é nenhuma história pindérica de amor como as que costumam ler mas sim a história de um jovem que quase perdeu tudo quando o mundo lhe virou as costas.
Se por qualquer milagre ainda possuirem uma pontada de interesse na minha história preparem-se porque na montanha russa da minha vida houve muitas subidas, mas não houve nenhuma que compensasse qualquer descida que encontrei no caminho do destino.
Desde pequeno nunca soube o que era ter uma família feliz, imaginem aquelas famílias que aparecem nos filmes! Estão a imaginar? Pois bem, eu nunca tive a experiência de viver num mundo onde tudo era perfeito. De certa maneira isso ajudou-me a crescer enquanto pessoa mas se a minha experiência fosse outra talvez eu não me teria tornado no que tornei.
Sem mais delongas, deixem que comece a contar como tudo aconteceu.
Como já disse, o meu nome é Manny Miller, tenho 17 anos, cerca de 1 metro e 75 centímetros de altura, sou magro, talvez até magro de mais, mas o meu maior problema é sem dúvida o facto de ser um completo monte de bosta, ou pelo menos é como eu me sinto mas nada que o ambiente em casa não ajude a piorar.
Durante os meus 17 anos de vida sempre conheci a minha família da mesma maneira, a minha mãe como uma mulher trabalhadora, sofrida e depressiva, o meu pai como um alcoólico (muito alcoólico para dizer a verdade) e o meu irmão mais velho como o menino estudioso que faz de tudo para agradar aos papás. Eu? Nunca fui muito constante para ser sincero, desde os 4 anos fui diagnosticado como uma criança hiper-ativa, "irritante" era o termo que o meu pai utilizava para me descrever quando pensava que eu não estava a ouvir.
Por volta dos 10/11 anos apercebi-me que era gay e todo o meu mundo mudou, eu não podia deixar que ninguém descobrisse o meu segredo porque eu sabia o que iria acontecer se a minha família descobrisse. Provavelmente iria apanhar do meu pai ou sofrer bullying, talvez até as duas coisas, e vivi toda a minha vida a esconder isso de todas as pessoas que conhecia.
Eu era apenas uma criança, e se há coisa que uma criança não merecia era não poder confiar em ninguém. O facto de isso acontecer criou vários problemas psicológicos na minha cabeça e aos 12 anos a minha mãe "sugeriu" que o melhor era eu visitar um psiquiatra.
Acham que ajudou? Em certos aspetos sim, pelo menos tinha a oportunidade de deitar cá para fora todos os problemas de casa, mas o meu problema, o meu grande e fodido problema eu não podia contar a ninguém.
Os anos foram se passando e eu cresci, um pouco inocente talvez, pois, cada vez que eu me apercebia da existência de algum rapaz atraente eu caía profundamente de amores por ele. Perdi a conta de quantos foram os rapazes por quem me apaixonei mas acho que isso não importa uma vez que todos eles resultaram apenas numa coisa: mais um desgosto amoroso.
E hoje em dia sou um Manny um pouco diferente, um jovem de 17 anos. Sabem uma coisa? Eu nem sei mais quem eu sou. Acho que podemos concluir uma coisa, eu sou um mero e grande "NADA".
O som do despertador soou e a cada dia que passava a vontade de o atirar pela janela era maior. Desliguei o aparelho e fui à casa de banho fazer as minhas necessidades e tomar um duche. Voltei para o meu quarto enrolado na toalha, peguei qualquer coisa do armário e vesti-me rapidamente. Ao deslocar-me até à cozinha pude perceber que não estava ninguém acordado.
Preparei o meu pequeno-almoço e depois de comer fui lavar os dentes e dar um último jeito no cabelo. Ao olhar para o relógio fiquei assustado porque estava quase na hora do autocarro. Corri até à paragem e felizmente não fiquei para trás.
A escola que frequento é uma merda, se não fosse pelos poucos amigos que tenho já não estaria lá certamente. Parece que com o avançar dos anos as pessoas são cada vez mais falsas umas com as outras. Se metade das pessoas daquela escola soubesse de todas as traições que já sofreram certamente ninguém se falava.
Nas festas poucas são as meninas que não se envolvem sexualmente com os namorados das amigas. É uma vergonha, por todos os cantos há gente alcoolizada e caída no chão de tão podres que estão. Foi por esse motivo que eu deixei de ir a esse tipo de festas. Para ver gente bêbeda não preciso de sair de casa.
Por falar em festas... amanhã é a festa de aniversário do Andrew, um grande amigo meu, e se ele não me tivesse implorado inúmeras vezes para ir eu não iria lá colocar os pés. Como a maioria dos meus amigos, ele desconfia que eu sou gay mas felizmente não toca no assunto, faz as suas piadinhas habituais mas sei que ele não as diz com maldade. Ele é uma pessoa genuinamente boa e, tenho um pouco de vergonha de dizer isto mas há cerca de um ano ele foi um dos rapazes de quem eu gostei. Não pude evitar, ele é alto, tem um corpo escultural e por todos os lados ele transpira a palavra "Macho", precisamente o tipo de garotos que eu amo. Quase nos pegámos uma vez quando ele estava curioso para saber como era estar com um rapaz mas eu não tive coragem. Sabia perfeitamente que ele só queria sexo descartável e como eu não queria perder a minha virgindade com alguém assim e por isso também não lhe dei muita atenção. Foi das poucas vezes que eu não me deixei iludir, talvez pelo facto de sermos amigos.
Assim que o encontrei fui na sua direção e o abracei desejando-lhe um feliz aniversário. e apesar de ele fazer 18 anos hoje a festa é apenas amanhã uma vez que hoje é quinta-feira.
Acho que não preciso de dizer como foram as aulas porque presumo que calculem que foram uma grande merda, mas quando chegou a hora de almoço fui para o refeitório onde o meu grupo de amigos já estava na mesa do costume. Ao sentir-me percebi que estava mais vazio do que o costume.
- Porque é que não está aqui quase ninguém? - perguntei.
- Os alunos do 10º ano foram todos de visita de estudo. - respondeu o Robert.
- Ah ok.
Fomos buscar o nosso almoço, e logo depois começámos a comer. A conversa entre nós surgia naturalmente. Eles eram provavelmente a única coisa boa que eu tinha neste momento, a única coisa que me distraía de todo o meu sofrimento. Sou muito sortido por ter um grupo de amigos tão bom.
- Nossa senhora, aquele homem está cada vez mais lindo. - disse a Anne quando o João passou pela nossa mesa. e não posso negar ele é deveras lindo.
- Infelizmente para ti ele não gosta do que tu tens no meio das pernas. - disse Andrew.
- E posso saber como é que tu sabes de tal coisa? - perguntou ironicamente.
- Tenho um instinto natural para essas coisas. - disse e logo em seguida olhou para mim. Eu apenas levei o garfo com comida à boca fingindo que agora a conversa não era comigo.
- Não Andrew, tu gostas de ver coisas onde elas não existem. - disse Anne olhando para ele com cara de desgosto.
- Veremos.
- Sim... quando ele estiver enterrado na minha boca. - disse ela e todos nós rimos. ela era sem dúvida a mais louca de todos nós.
- Mudando de assunto. Os meus pais foram visitar os meus avós e só voltam segunda-feira. Quem é que hoje me pode ajudar a arranjar as coisas lá em casa para a festa amanhã? - perguntou Andrew mas ninguém disse nada.
- Eu ajudo. - eu disse e os outros soltaram a respiração aliviados.
- Viram só? Isto é um amigo de verdade, ao contrário de vocês. - disse Andrew colocando o seu braço no meu ombro.
É... eu sou um bom amigo, será que tu também serias se descobrisses a verdade?
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Suffer
Romance" Será que é esse o meu destino? Porque é que tinhas de tornar isto tão difícil meu Deus? " Quantas foram as vezes que já caímos de amores por alguém e nunca fomos correspondidos? quanto a vocês não sei, mas no meu caso foram tantas que já perdi a...