2 - Tudo mudou

4.6K 854 159
                                    

Olá! Bem vindos de volta. Atenção, tem recado no final do capítulo.

Dias atuais

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Dias atuais...

Acordo de sobressalto ao ouvir o aviso de pouso. Depois de mais de dez horas de vôo, estou finalmente chegando em São Paulo e a ansiedade não poderia ser maior. Cinco anos se passaram desde que resolvi ir embora e, nossa, como as coisas mudaram...

A Maria Luiza que está voltando não é nem um pouco parecida com a que saiu daqui naquela manhã nublada. Aquela estava quebrada, sozinha, perdida. Essa sabe muito bem o que quer. Sorrio de lado, talvez para me convencer de meu mantra, nunca se sabe quem eu irei encontrar nessa passagem relâmpago e como eu vou reagir. Em todo o caso, continuo repetindo a mim mesma: estou bem. Estou muito bem.

Depois de me decidir ir embora do país, não antes de muitas tentativas vindas de todo canto a me demover da idéia, era a primeira vez que estava pisando em solo tupiniquim. E eu saí daqui totalmente devastada, me sentindo sozinha, inútil e, principalmente, descartável. E me fiz uma promessa, de nunca mais deixar-me sentir assim novamente. Nunca mais.

Também tenho a noção de que sou sortuda, apesar de tudo. Quantas mulheres passam pela mesma situação e sequer têm a chance e a oportunidade de revirar a vida do avesso e recomeçar? Eu sei que sou privilegiada, então preciso aproveitar esse privilégio e fazer o melhor dele.

Noto, no banco ao lado, uma mulher olhando fixamente para a minha bolsa de mão, e, ao seguir seu olhar, a vejo admirando – penso eu – a coleção de chaveiros escoceses que trago penduradas. A bandeira da Escócia. O distintivo do clã Drummond. Um coração de tecido com o tartan dos Drummond de Perth. Um homenzinho tocando a gaita de fole. Sim, eu amo o meu país e minhas raízes.

Volto às lembranças do dia em que cheguei a Edimburgo, na casa que fora de meu pai. Estava decidida a rumar para Fife e visitar a tal propriedade que meu avô havia nos deixado. Eu sabia que o vilarejo era longe da costa, e tinha minhas idéias em mente, entre tantas pesquisas que fiz sobre a cidade eu sabia que o ideal seria montar uma pousada. Algo mediano, obviamente, mas inexistente no local até então.

O que eu não esperava é que tínhamos herdado um maldito castelo – pequeno e modesto, mas ainda assim um castelo – que pertencera aos meus ancestrais, construído por volta de 1600.

Se existe algo que você precisa saber sobre o Reino Unido é que lá não é incomum darmos de cara com construções dessa época. Nem sempre as encontramos em boas condições de visita – muitas vezes é mais fácil encontrá-las em ruínas, mas, ainda assim, um castelo na Escócia não era realmente nenhuma novidade.

A não ser, claro, que ele te pertença. Então sua percepção muda de figura. Como assim, tínhamos um castelo?

Quando cheguei ao local, no vilarejo de Kennoway, vi pela janela do táxi a entrada toda fechada por vegetação de ambos os lados, e uma casa térrea bem simpática logo na entrada. Sem ainda saber o que o futuro me reservava, eu achei honestamente que seria aquela casinha que tínhamos herdado e, sendo assim, meus planos iriam todos pelo ralo. Era bonita, simpática, muito bem cuidada mas pequena demais para o que eu planejava. E era um local tão adorável que eu não teria coragem de colocá-la abaixo para aproveitar o terreno. Como se coloca no chão uma casinha de bonecas como aquela? Sem condições.

Entre Oceanos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora