3 - Quem é você?

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Desafio batido com os compartilhamentos das xuxus do grupo do whatsapp. Vocês são maravilhosas! (Aliás se quiser entrar no grupo do whatsapp me manda uma msg no privado)

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"Black Betty", meu toque de despertar desde a adolescência, me tira da cama as nove em ponto. Não consigo me lembrar qual foi a última vez que me deixei dormir até tão tarde. Faço minha higiene matinal, visto um par de jeans, uma babylook básica e corro até a cozinha, necessitada de um café. Aliás, preciso fazer um bom estoque de café brasileiro e levar comigo para casa, não existe nada como o nosso café.

"Nosso café". Sempre tenho essa dualidade, horas me sentindo mais escocesa, horas mais brasileira. Cada lado se aguçando mais dependendo de quanto tempo estou em cada país. Hoje em dia voltei a falar com um certo sotaque, tal qual era quando adolescente e estudava na St. Paul, uma das exigências que vovô fizera para que minha mãe nos trouxesse ao Brasil: estudar em uma escola que tivesse ensino britânico. Não era o ideal, obviamente, mas foi o melhor que ele conseguiu.

Quarenta minutos depois, estou pronta para sair, e me lembro que estou sem carro.

Droga.

Tinha recém-comprado um carro quando fui embora, e ele acabou sendo vendido junto com a casa. E eu sou tão acostumada a mal sair de Fonthill que, simplesmente, esqueci desse pequeno detalhe.

Fico feliz em ver que tem um ponto de táxi na esquina de casa, cumprimento o motorista que não parece estar tendo um bom dia, e sigo direto ao local onde Raquel planeja abrir sua confeitaria. Ela vem trabalhando nesse sonho por um bom tempo, e tem mãos divinas para doce, assim como sua mãe.

Sua avó, tia Maria, trabalhava na casa de papai quando fomos morar com ele, ainda crianças. Ela foi contratada para ajudá-lo quando ele se casou com Ana, ela não era muito saudável e precisava de auxílio com os filhos. Foi seu braço direito quando a esposa faleceu, e depois ajudou mamãe a nos criar, todos os cinco.

Já tia Márcia, mãe de Raquel, trabalhou na construtora como recepcionista e papai fez questão de custear sua faculdade de nutrição. "Sonho antigo", ela dizia. Não se casou com o pai de Raquel, na verdade a família delas era totalmente feminina. Seu pai falecera quando ela ainda era uma menina, e sempre foram elas por elas. Agora, depois de tanto tempo, conseguiram finalmente juntar capital, e chegou a hora de transformar o sonho em realidade.

Perdida em lembranças, e já pensando em reivindicar minha parte do pagamento em doces noto quando o taxi para em frente ao prédio fechado. Não tinha prestado atenção no endereço, é mesmo muito perto da minha casa, um excelente ponto na rua Pamplona, próximo à Avenida Paulista e onde tudo acontece. Essa rua, aliás, tem de tudo. Prédios comerciais, prédios residenciais, restaurantes, lanchonetes, agências bancárias, e um movimento de pedestres que eu já estava desacostumada a ver. O prédio, na esquina com a Alameda Lorena, tem o que parece ser uma residência na parte de cima, e está todo fechado, só com uma parte de uma grande porta de aço levantada.

Entre Oceanos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora