4 - Fada Ruiva

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O sol ainda não nasceu e sequer o despertador tocou ainda, mas não aguento mais ficar na cama

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O sol ainda não nasceu e sequer o despertador tocou ainda, mas não aguento mais ficar na cama. Minha corrida matinal é sagrada, é a única coisa que consegue diminuir a frequência de pensamentos, essa cabeça que não para desde cedo, milhões de coisas, várias direções.

Alguns dias eu consigo me manter são. Outros, como hoje, é praticamente impossível. Isso me irrita e me assusta ao mesmo tempo, é como se o meu corpo me avisasse que alguma coisa grande vai acontecer. Que eu vou ser pego de surpresa, que... as coisas não serão as mesmas.

Pego meu ipod, já saindo de casa, a manhã está fresca mas o moletom me ajuda a suar. E a me manter, de certa forma, escondido sob o capuz. Dou play na minha velha playlist de sempre e o som do Metallica começa a sair pelos fones, se não fosse tão cedo e eu não quisesse tanto forçar meu corpo, estaria berrando a letra da música.

"Então me rasgue, mas cuidado. Existem coisas aqui dentro sem cuidado. E a sujeira ainda me mancha então lave-me até que eu esteja limpo."

Odeio me sentir desse jeito. Me prometi que nunca mais seria pego de surpresa por nada, então fico alerta, atento. Paranoico, até. Ainda que o sentimento de hoje seja diferente. Uma ansiedade diferente. Mas odeio sentir isso, da mesma forma, ainda mais sem conseguir identificar o que seja. Detesto ser pego desprevenido.

Corro a quadra inteira que contorna o prédio onde eu moro duas vezes, não é pouco e quando eu chego, exausto, o dia já clareou. Jarbas, o porteiro de nome mais clichê que eu conheço, está como sempre segurando meu jornal na mão. Desde que arrumei confusão com o síndico por pagar assinatura de jornal e ele sempre sumir que o pobre homem ficou encarregado de ser meu guardião jornaleiro.

— Bom dia, delegado. Saiu mais cedo hoje?

— Fui fazer um extra. Tá tudo bem?

— Tudo nos conformes. Nosso futebol tá agendado? Final de semana, hein?

— Claro, se eu não estiver de plantão, eu apareço.

Ao menos uma vez por semana eu me reúno com a galera do condomínio para uma brincadeira com o pessoal do prédio vizinho. Casados x solteiros, estamos sempre nos dando bem mas já tem um tempo que nosso time anda desfalcado, com todo mundo casando. Bufo, entrando porta adentro, já puxando o moletom por cima da cabeça e jogando em cima do sofá. Se morasse com alguém, a uma hora dessas a pessoa estaria berrando comigo. Vicente, caralho, moletom suado em cima do sofá?

Moro sozinho, me dou esse luxo. Sem enchimento de saco.

Tomo uma ducha rápida, e até caberia aqui bater uma para quem sabe tirar um pouco esse estresse. Seguro meu pau pela base, apoiando a mão livre na parede e deixando o jato morno cair sob minhas costas. Encosto a cabeça no azulejo frio, já escorregando a mão até a ponta, voltando para a base, usando a pressão correta e sentindo o costumeiro arrepio na coluna. Adoro essa sensação! Deve ser isso, já tem... porra, uns meses que não saio com ninguém. A última foi... nossa, deixa prá lá. Até broxei só de lembrar daquela maluca. Fecho o registro, hoje vai ser um daqueles dias.

Entre Oceanos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora