Capítulo III

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   Catherine, vestida em tons de esmeralda, era um contraste com a sobriedade da carruagem, e Caldbeck, como sempre impecável em cinza, ajudou-a a subir, enquanto ela ainda dava instruções a Sally. A aia acenou, compreendendo, e dirigiu-se ao coche que iria compartilhar com Hardraw, o criado particular do conde. Lacaios, também vestidos de cinza, tomaram suas posições, e os veículos partiram.

   Ansiosa por começar a primeira viagem longa de sua vida, Catherine sentia o coração acelerado, apesar de se entristecer por deixar Londres, onde vivera sempre, assim como todos os seus amigos. Quando iria ver Liza de novo? Yorkshire ficava muito distante para visitas ocasionais. Poderiam se passar meses ou anos sem que retornasse à capital.

   Como sentira falta da amiga! As maneiras um tanto desmioladas de Liza encobriam uma mente astuta e um coração generoso. Fora a confidente de Catherine desde que os pais desta haviam falecido. Por sorte Liza tinha um marido que a adorava, e isso a ajudaria a não sentir tanta falta da amiga.

   Com a testa apoiada na janela da carruagem, Catherine via os cenários mudarem por entre as ruas agitadas. Lágrimas teimavam em rolar por seu rosto e, com gesto disfarçado, ela as enxugou com o lenço. Em breve o minúsculo quadrado de renda estava ensopado, e tratou de guarda-lo na bolsa da maneira mais discreta possível.

   Com o canto do olho percebeu um movimento ao lado. Voltou-se e viu que o marido lhe oferecia um lenço de linho, bem maior.

   Aceitou, sem conseguir falar. Assuou o nariz e sentiu a pressão de uma mão forte sobre seu joelho. Caldbeck permaneceu em silêncio, mas não deixou de segurá-la, até deixarem Londres. Por fim os olhos de Catherine ficaram secos, e ela parou de soluçar.

   Então o marido começou a apontar lugares interessantes, chamando-lhe a atenção para as cores luxuriantes do outono e a beleza do campo.

   - Até agora as estradas estão boas, mas temo que piorem à medida que avançarmos para o norte. O verão foi muito seco, assim como o outono está sendo. As raízes das plantas devem estar duras como pedras.

   - Quanto tempo levará a viagem?

   Caldbeck recostou-se no assento.

   - Se tudo correr bem, quatro dias. Caso contrário, mais um. Se desejar, podemos passar um tempo descansando perto do Peak Distrit. É muito agradável nesta época do ano.

   Catherine sorriu consigo mesma. O marido não era dado a arroubos de entusiasmo, e o máximo que o ouvira dizer como elogio era "bonito". Comentou:

   - Parece apreciar paisagens.

   Ele pensou um instante.

   - É verdade.

   - Wulfdale é um lugar bonito?

   - Acho que sim.

   - Fale-me a respeito.

   - A casa é muito antiga e foi ampliada diversas vezes. Suas fundações datam do século doze, e não passava de uma torre. Em seguida, uma ala foi acrescentada. A parte Tudor é um verdadeiro labirinto, porém as reformas mais recentes são bonitas. A fachada georgiana foi terminada em 1750, e é impressionante. Creio que gostará.

   - E existem jardins?

   - Sim, vários.

   Catherine pressentiu certo entusiasmo na voz do marido, mas não teve certeza.

   - Temos um em torno da propriedade e um roseiral, porém meu preferido é o de plantas silvestres e o bosque. O outono é a melhor época para apreciá-los.

Indomável CondessaOnde histórias criam vida. Descubra agora