— Lisa, querida, levante! — Ouvi minha mãe gritar do andar de baixo. — Temos que ir, já está na hora de abrir a loja.
Abri meus olhos, sentindo a claridade das janelas abertas invadi-los, me cegando. Pisquei algumas vezes para me acostumar, e depois levantei, zonza. Fui ao banheiro, depois me arrumei. Coloquei uma calça, a blusa de uniforme da loja e meus tênis gastos. Desci as escadas, encontrando minha mãe e Anne, minha irmã, arrumando tortas em cestas.
— Bom dia mãe — eu disse, ainda com sono. — Bom dia pra você também Anne.
— Bom dia — elas responderam.
Peguei uma maçã da cesta de frutas, mordendo-a. Fui em direção a pilha de cestas, apanhando uma com a intenção de ajudar minha mãe e irmã. Anne acompanha minha ação com os olhos, enquanto guarda bolinhos fofos em uma cesta com uma fita vermelha. Coloco duas tortas na cesta, com muito cuidado. Os burgueses e nobres da cidade não compram coisas com qualquer tipo de amasso ou defeito.
Alguns meses atrás, minha mãe conseguiu comprar uma loja no Mercado Espiral. O estabelecimento é minúsculo, mas pelo menos ganhamos dinheiro e eu não preciso trabalhar fazendo bicos e carregando caixas pesadas para feirantes. O Mercado Espiral é quase como uma arena, com corredores circulares repletos de lojas. Ele fica na grande cidade de Wathe, esta que não fica longe da capital. Isso significa que o movimento de lá é muito, muito bom. Minha mãe é dona de uma loja de doces, e é boa no que faz. O lugar tem sido bem frequentado por burgueses de Wathe ou até da Capital, oque significa que, em breve, eu até poderei voltar a estudar.
Pegamos as cestas com tortas, as com bolos, doces, biscoitos e demais, e saímos de casa. Eu caminho em silêncio observando o sol que nasce, tímido, enquanto Anne e Mamãe conversam animadamente.
— Vocês estão atrasadas. — Ouço uma voz conhecida afirmar, com humor.
Elliot carrega toras de madeira nas mãos. Ele ajuda o dono da marcenaria em que meu pai trabalhava, mas ainda sim ganha muito pouco, como papai ganhava. Sempre encontramos ele quando vamos para Wathe.
— Bom dia filho — Minha mãe responde, dando um beijo na bochecha de meu irmão.
— Você deveria cuidar mais da sua vida. — Anne responde, grossa como sempre é com ele.
Sei que ela não o odeia, só demonstra afeto de uma forma diferente. Eles são muito amigos, na verdade, e é algo normal eles implicarem um com o outro.
— E você deveria ser mais delicada. — Ele atira de volta. — Parece mais uma mula. — Retruca para si mesmo.
Anne pode não ter ouvido a última parte, mas minha audição sempre foi melhor do que todos da família. É algo que vem a calhar de vem em quando.
Sem tempo para ficar conversando com Elliot, nos despedimos e seguimos em frente. O dia não está quente ainda, e o Sol da manhã brilha por entre as nuvens. Saímos do vilarejo de Oak e seguimos pelo vale. As árvores escondem o brilho do Sol, formando grandes sombras em forma de pinheiros. O clima é confortável, e os pássaros cantam. Cantarolo uma música qualquer, enquanto observo a paisagem.
Chegamos em Wathe, e o ar parece pulsar, vívido. É possível ouvir, mesmo de fora, o barulho das pessoas que andam pelas ruas da cidade. Os portões de Wathe são de um metal branco que reflete a luz do Sol enquanto se torcem formando desenhos em espiral. No topo, há algo como a ponta de uma lança, também de metal, este que parece brilhar mais ainda. Dois guardas vestidos com uniformes preto, cinza e detalhes azuis conferem todos os que entram na cidade.
— Identidades. — Diz, sério.
Minha mãe tira da bolsa três papéis em tom esverdeado e entrega ao guarda que já vi diversas vezes. Ele os lê atentamente, e depois os devolve para minha mãe. Ele então pega um tipo de carimbo e faz sinal para que ponhamos as mãos em sua frente. O fazemos e ele carimba algo em azul escuro que diz: "Camponeses". Ah, claro, mais uma das bobeiras que eles repetem sempre que vimos aqui. Tinha quase me esquecido.
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Os Quatro Reinos: Trono Perdido. [sendo reescrito]
FantasyCom poderes sobrenaturais, quatro poderosas famílias mantinham seus reinados acima de qualquer outro. Estes eram clãs dos quatro elementos da natureza. Mas ao passar dos muitos anos, o poder que corria nas veias dos privilegiados e no mundo ao seu r...