Capítulo 1 // (O show)

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_Lola, para de enrolar! A gente vai se atrasar por sua causa! Eu quero chegar mais cedo pra conseguir ficar de frente do palco!_ gritou a minha melhor amiga, Alice, esmurrando a parede pelo lado de fora.

Eu estava no banheiro da casa dela terminando de passar meu rímel, quando abri a porta meu nariz foi invadido por um cheiro muito forte de incenso de cravo. A nova obsessão da Alice agora era ser good vibes, ela começou com isso depois de ler um artigo sobre budismo na Elle e desde então enchia o quarto de cristais (que segundo ela tem poder de cura), sprays que regulam os chakras e falava coisas como "namaste" e "é o karma".

_Estou prontíssima, bebê_ eu disse colocando as mãos na cintura e fazendo um biquinho.

Íamos sair juntas naquela noite pra ir ao show de uma das bandas preferidas dela: Calpurnia. Sendo bem sincera, eu conhecia umas duas músicas deles e só, sem falar que o único membro que eu sabia o nome era o Finn Wolfhard, que era ator também e fazia aquela série da Netflix, Stranger Things.

_O uber já tá aqui na frente, bora descer logo antes que ele cancele a corrida!_ Alice estava eufórica, tinha alguns problemas de ansiedade e isso misturado com o fato de ela ser a fã número um do grupo não ajudava muito, ela queria chegar horas antes de o show começar pra ter certeza de que ia ficar lá na frente, pertinho do palco a ponto de sentir os pingos de suor dos músicos batendo no seu rosto (palavras dela).

Descemos as escadas correndo, saímos pra fora da casa e pulamos dentro do uber, eram uns quarenta minutos pra chegar no estádio e eu dormi o trajeto todo.

Chegando lá foi um tumulto pra passar nas filas e entrar, quando conseguimos já tinha um quantidade razoável de pessoas no lugar que a Alice queria, mas é claro que ela não deixou isso a impedir e saiu empurrando todo mundo que estava no caminho enquanto segurava minha mão direita, fazendo uma galera soltar xingamentos bem mal educados direcionados à nós duas.

E realmente, valeu a pena porque acabamos ficando em uma parte ótima praticamente encostadas no palco.

"Tomara que não esmaguem a gente na grade, em nome de Jesus" Orei nos meus pensamentos.

Minha oração foi interrompida por gritos da plateia, incluindo os da minha melhor amiga.

_MEU DEUS, A AYLA! PUTAQUEPARIU, ELA PASSOU ALI EU CONSEGUI VER ELA. SOCORRO, EU AMO UMA MULHER! LOLA, A GENTE TÁ RESPIRANDO O MESMO AR QUE A AYLA!_ gritava ela, exagerada como sempre porém hilária.

Um tempo se passou e as luzes do palco começaram a   acender, nisso a banda foi entrando e os berros iam ficando cada vez mais altos ao meu redor, Finn Wolfhard foi direto pro microfone, que estava na minha frente, e caralho: ele era bem mais gato pessoalmente.

_Oi, Nova York!_ Ele disse enquanto colocava a guitarra nas mãos_ Valeu por virem até aqui hoje, a primeira música é "City Boy".

Nisso a Alice já começou a chorar desesperada, cumprindo muito bem o seu papel de fangirl, eu ri muito da cara dela mas confesso que fiquei bem animadinha cantando a letra inteira já que era uma das músicas que eu conhecia.

"When you have an artistic view
It'll rub off, take it
When you answer to a bunch of dudes
You should run away

I am a city boy
You are a city girl
You date the city tool
I am a city fool"

Estava tudo incrível, por mais que eu não conhecesse muitas músicas consegui me divertir mesmo assim e a energia era surreal. Já na metade do show o Finn foi até o microfone pra falar mais alguma coisa, eu estava a poucos passos dele e o palco não era muito alto, o que fazia com que eu conseguisse ver o rosto dele perfeitamente, e naquela distância a única coisa que eu conseguia pensar era "Ele é muito lindo, e muito talentoso, nossa. Por que não existem mais meninos de 16 anos assim?"

Quando ele estava prestes a falar eu percebi que o olhar deles saiu do fundo do estádio e desceu na minha direção fazendo com que ele me visse, nessa hora nossa olhos se encontraram.

_Hum... Agora uma que não é nossa mas é uma das minhas favoritas: My kind of Woman do Mac DeMarco_Ele disse com a visão fixada em mim, só desviou o olhar quando começou a cantar.

Eu fiquei em choque, senti uma coisa muito louca por dentro, foram alguns segundos de troca de olhar mas que transmitiram algo tão esquisito, e que eu senti que ele pensou o mesmo, até gaguejou um pouco pra voltar a falar.

"Deve ser coisa da minha cabeça, óbvio que ele não olhou pra mim, e se olhou não foi nada demais afinal eu to na frente do palco" pensei sozinha, até que Alice agarrou o meu braço com muita força.

_MEU DEUS! Você viu o jeito que ele olhou pra você? Eu nunca vi uma troca de olhares daquela!_ ela disse.

_Não viaja, cara! Ele nem olhou pra mim direito, é só porque a gente tá na frente do palco, o difícil seria ele não olhar pra cá._ Respondi, mesmo não acreditando muito nas minhas próprias palavras, eu sabia que tinha algo no ar.

_Para de se fazer, Lola! Eu to do seu lado! Eu vi tudo! Ele te encarou muito, parecia até que tinha visto um anjo!_ Ela galava como se já estivesse planejando nossa festa de casamento e decidindo os nomes dos nossos filhos.

Revirei os olhos e continuei prestando atenção na apresentação.

"Oh baby, oh man
You're making me crazy, really driving me mad
That's all right with me, it's really no fuss
As long as you're next to me, just the two of us
You're my, my, my, my kind of woman
My, oh my, what a girl
You're my, my, my, my kind of woman
And I'm down on my hands and knees
Begging you please, baby, show me your world"

Durante a música toda eu sentia ele me observando; quase como se estivesse cantando tudo só pra mim.

Depois dos últimos versos os membros da banda se despediram da plateia e as luzes do palco ficaram apagadas de novo. Eu e a Alice já estávamos virando pra ir embora e encarar a multidão de pessoas na saída, mas aí senti alguém cutucando as minhas costas pelo outro lado da grade, quando me virei vi que era um homem alto de terno e walkie-talkie na mão.

_Oi, tudo bem? Eu sou segurança do evento e me pediram pra chamar você pra trás do palco, se quiser vir é só me acompanhar._Ele disse sério.

Olhei pra Alice com uma cara de "o que a gente faz?" e ela respondeu por mim:

_Claro! Eu sou acompanhante dela, nós vamos juntas!

O segurança fez um aceno positivo com a cabeça para os membros da staff que estavam no canto, nos ajudou a passar pela grade baixa e pelos fãs enlouquecidos que estavam saindo de lá.

Meu coração batia muito forte com medo do que ia acontecer.

Continua...

My Kind of Boy [Finn Wolfhard]Onde histórias criam vida. Descubra agora