Três

4.6K 695 87
                                    

Eu queria estalar os dedos para acelerar o relógio

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu queria estalar os dedos para acelerar o relógio. Cada segundo em que me mantenho sentada na sala de aula, faz parecer que eles são minutos e até horas e não meros segundos. Dizem que quanto maior a ansiedade, maior a sensação de que o tempo não passa e eu não poderia fazer melhor teste comprobatório.

Já que não conseguia focar no que estava sendo revisado, decidi estruturar melhor a minha mentira, preparando as perguntas da entrevista. Era difícil não colocar no topo dos questionamentos a pergunta "Quem era o cara com quem fodi no andar de cima?". Não dava para ser assim, então preparo algumas perguntas pertinentes a carreira de advogado, possíveis dificuldades da área, motivos pelo qual escolheu aquele curso e blábláblá. E só então pude inserir as referências profissionais, se eu tivesse sorte o gostosão seria um advogado de sucesso que ela citaria e então eu pediria uma entrevista com ele também.

Que a sorte esteja ao meu favor!

***

Mais uma vez, naquela semana, lamentei o fato de ainda não ter meu próprio carro. Quando a última aula chegou ao fim, me desvencilhei das meninas para não dar satisfação e corri para o banheiro. Lá, abri o aplicativo do Uber e quase xinguei com os valores que estavam aparecendo de onde eu estava até Aruana.

Saí do banheiro quando ouvi tudo mais quieto e fui até o "mini shopping", que nada mais é do que o lugar com várias lanchonetes e restaurantes dentro da universidade. Nunca entendi o motivo de chamarem assim. Como a Celine tinha dito para eu ir depois do almoço, decidi comer enquanto dava um tempo para o Uber baixar os valores. Eles subiam, segundo a minha lógica, quando as aulas acabavam e muitos alunos solicitavam de uma vez.

Optei por pedir filé de frango. O arroz branco e a batatas fritas foram os complementos que, junto ao copo de suco de laranja, me ajudaram a ficar distraída sem contar as voltas do ponteiro do relógio.

Quando acabei a refeição eram quase 12h30min. Passei no banheiro mais uma vez e escovei os dentes, agradecendo aos céus por ter trazido a nécessaire. Na porta da Unichôa, apelido que damos a universidade, abri o aplicativo do Uber novamente. A corrida estava dando R$ 18,00 e, considerando o tamanho da cidade, era um valor alto, mas ainda assim mais baixo do que estava dando antes de almoçar.

Eu precisava arrumar um estágio logo, é cada vez pior pedir dinheiro para os meus pais porque o que eles tinham me dado para o mês já tinha acabado. Solicitei o carro e tentei enxergar entre tantos outros qual seria o Clio com a placa informada. Será que a Uber já pensou em colocar as fotos dos carros, com cores de preferência, para facilitar a vida dos usuários?

Entre viradas de pescoço abruptas e mãos nos olhos, para proteger do sol e tentar enxergar, avistei o carro que me levaria. Dentro dele, depois de cumprimentar o motorista e mandá-lo seguir a rota do Waze, aplicativo de GPS, aproveitei o ar-condicionado.

O caminho não era tão longo quando estamos no conforto do carro, com uma temperatura agradável, mas para quem mora na Zona de Expansão de Aracaju e precisa de transporte público é longe para caramba. Quem mora nos outros estados costuma dizer que nós, Aracajuanos, não entendemos nada sobre distâncias. Só porque é possível percorrer todo o estado de Sergipe em poucas horas. Mas todos sabemos que o tempo é relativo e mesmo na capital do menor estado do Brasil, há trânsito. Ah, eu já mencionei o calor infernal? Então, não venha me dizer que não podemos reclamar de distâncias!

Domine Meu Coração - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora