SENTE-SE! TOME COMIGO UM CAFÉ

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Houve uma noite em que as conversas na calçada voltaram a acontecer. Os risos espontâneos sob a luz do luar ecoaram pelas ruas, e uma alegria saudosista fez os olhos brilharem no escuro, no contentamento da proximidade humana.
Houve um dia que a eletricidade faltou no meu Nordeste, e até em outros locais também.
Naquela noite, a internet não foi encontrada, e pudemos novamente olhar para quem estava ao nosso lado, conversar com o nosso vizinho, falar da lua e da rua, das piadas não esquecidas e da receita aprendida. Voltamos a ser humanos por uma noite, voltamos ao calor amigo.
Então, nos chegou a saudade daquilo que perdemos porque quisemos: da afetividade fraterna, do café com o vizinho e da calçada como assento. É simples, é singelo, é genuíno. Naquela ocasião, revivemos o brilho das estrelas e a intensa satisfação que o diálogo face a face nos traz. Eu vi isto quando voltei do trabalho para casa. Retornei à minha residência caminhando, porque deixei o meu carro na casa de minha mãe. Eu sabia que o automático do meu portão não funcionaria. Havia escuridão nas ruas, mas não havia medo de assaltos; porque as famílias estavam sentadas na calçada, rindo à toa. E de dentro das casas vinha a pouca luminosidade das velas, que completava a calmaria da noite. Estavam sendo família! Até chegar a luz... até que a eletricidade voltou. A Internet também! Houve gritos nas ruas, e repentinamente todos entraram e voltaram aos seus mundos virtuais: havia muitas fotos a serem curtidas, mensagens a serem respondidas e fotos a serem postadas. Logo agora tudo voltara! O café ficara pronto e já ia ser servido, ali na calçada mesmo, com aquelas bolachinhas secas e salgadas. Não deu tempo! Ficou o tímido desejo, mas o mundo virtual falou mais forte. Mesmo assim, deixo o convite: Sente-se amigo, e tome uma xícara de café comigo. Ainda há tempo. Sempre haverá, enquanto quisermos.

PEREGRINO AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora