PEREGRINO AQUI

A VIDA NÃO ESPERA

A vida não espera nada, nem ninguém, a vida não espera a vida. Cada segundo que passa é tão insignificante, que me surpreende o fato de o somatório deles formarem, numa crescente sem igual, os dias, e as semanas, e os meses, e os anos.
Ainda ontem eu estava numa festa de conclusão de ensino médio, e foi impossível não me ver na mesma solenidade, em tempos passados. Eu me vi o aventureiro de outras épocas, que de canudo na mão e mochila nas costas,
partiu, naquela mesma madrugada, para a casa de praia, onde a turma iria se despedir.
Fomos todos na mesma topic, e fomos todos no mesmo entusiasmo, e fomos todos cantando as mesmas músicas, e fomos todos ver o mesmo nascer do sol. Era uma turma de adolescentes, alegres e festivos, intempestivos e até
insensatos, jogando as mochilas nos quartos, abrindo as geladeiras e ligando o som, e depois fazendo rodinhas na praia, tomando vinho ao luar e esperando o sol chegar.
Foram tempos de outros tempos. E os
segundos passaram, e se juntaram, e aconteceram. Fizeram existir e deixar de existir. O tempo passou, e a vida não esperou! Fomos conduzidos para longe, distanciamo-nos, alguns; outros, não.
A cada um a vida apresentou um futuro que se tornou o hoje. Cada adolescente que lá esteve amadureceu como pôde, superou desafios a seu modo e escalou as montanhas da vida com as capacidades que tinha! Foi assim comigo, talvez tenha sido assim com os outros.
Eu cheguei ao hoje! Troquei o agito jovem pela adoração a Deus, substitui o vinho alcoólico pelo vinho na Santa Ceia, as rodinhas na praia pelos círculos de oração, e o adolescente
aventureiro virou um cristão responsável.
Houve um tempo em que estes meus dias não existiam no melhor dos meus sonhos. Até que chegou o tempo em que aqueles dias já não existiram mais: o hoje. Porque a vida não espera jamais! Olhando para aqueles concludentes ontem,
percebi tudo mais claramente. Daqui a um tempo, a maior parte vai se distanciar, e talvez, apenas talvez, daqui a duas décadas, eles
estejam numa festa semelhante, relembrando o momento que lhes aconteceu ontem.
Algo é certo: os dias irão embora, vão passar, pois nem mesmo a vida espera por si mesma. E eles vão entender como o presente funciona: virando sempre o passado.