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Alexander P.O.V

Até podia dizer que o vento gelado me cortava os lábios, que me sentia observado pelos olhos atentos das criaturas noturnas ou até mesmo que me assustavam as ervas que passam junto aos meus tornozelos descobertos. Mas que diferença faz estar numa floresta escura como breu no coração da madrugada quando aquilo que percorre a minha mente é vinte vezes mais negro que qualquer pesadelo?

O relógio indicava quatro horas e quarenta e três minutos. O céu estava limpo, sem qualquer nuvem que impedisse de vislumbrar a quantidade absurda de estrelas que preenchiam a noite. O meu telemóvel vibrou uma vez mais no bolso direito no meu casaco de couro negro sendo, pelas minhas contas, a milésima vez que estava a tocar. 

Ao contrário do que me parecia, tinha apenas vinte e duas chamadas perdidas. Ponderei em atender enquanto colocava o capuz da minha camisola, no entanto não o cheguei a fazer. Não fiquei surpreendido com o desespero daqueles que me eram próximos tendo em conta o meu comportamento nada habitual. Nunca tinha desaparecido, não era do meu estilo.

Se havia algo que eu odiava eram despedidas. Afinal, existe momento pior? Que cause mais dor e sofrimento? Explicar o motivo sem magoar aqueles que mais amamos. No entanto, por mais que custasse, eu devia isso às pessoas que estiveram comigo nos momentos de gargalhadas e foram um ombro amigo quando precisei de chorar. Devia isso e tudo mais.

A vida é de certa forma engraçada. Consegue dar ou tirar tudo aquilo que temos num piscar de olhos. Sem darmos por isso, estamos num beco sem saída.




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