Se você quebra uma regra, você quebra todas

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"O QUÊ?", eu berrei pela segunda vez.

"Pois é", ela respondeu, me olhando como se ainda não acreditasse em mim. "Passei a tarde inteira ontem tentando te ligar e você não atendia.

Um calor que não tinha nada a ver com sonhos ou hormônios começou a subir pelo meu corpo. Eu não acreditava no que estava ouvindo.

"Eu não sei porque você precisava esconder isso de mim, eu sou sua melhor amiga, afinal de contas... Quero dizer, eu te conto tudo que acontece na minha vida, achei que você também, mas agora..."

"Camila...", eu comecei, mas ela não parava de falar.

"Tipo a história com a Selene, que eu não esperava e, sei lá, você não é obrigada a nada, mas mesmo assim magoa..."

Com uma calma tirada do fundo da minha alma, eu segurei minha amiga pelos braços e a levei para a rua, em direção à escola. A última coisa que eu precisava era que minha mãe ouvisse que eu supostamente estava tendo um caso com um vampiro.

"Camila, me escuta bem", eu disse, parando para encará-la nos olhos. "Eu. Não. Beijei. O. Liam. Ele está mentindo. E eu quero saber porquê", eu conclui, praticamente espumando de raiva.

Ela ficou ali, me encarando desconfiada.

"Você sabe que eu te conto tudo, Camila", eu disse, implorando.

"Eu sei? Nos últimos dias você tem parecido meio estranha", ela disse.

"É a Lua. Eu tenho sentido o efeito da Lua muito mais forte ultimamente", menti.

Era verdade que eu não estava contando tudo para ela. Eu não havia contado dos sonhos estranhos e da sensação em minha pele toda vez que eu pensava no Liam, mas agora isso era indiferente. Eu não ia aceitar que ele espalhasse mentiras sobre mim para a escola toda.Aparentemente, a desculpa da Lua foi o suficiente para a Camila acreditar em mim e começar a falar mal do Liam pelo caminho todo.

"Eu vou mandar mensagem para Selene, ela vai dar um jeito nisso", ela disse.

"NÃO!", eu disse, na hora. Eu não queria que a Selene se envolvesse. Isso era coisa minha pra resolver. Não precisava de uma vampira para intermediar.

Camila me olhou assustada e abaixou o celular.

"Esqueci de como você se sente sobre vampiros", ela disse, com um tom de mágoa na voz. Isso sempre foi um problema pra Camila, já que sua paixonite na Selene praticamente significava que ela seria um deles um dia. Ou pelo menos pretendia ser.

"Camila, já conversamos sobre isso", eu disse, na defensiva. "Meu pai é um vampiro e eu o amo. Eu não vou deixar de te amar se você virar uma vampira sugadora de sangue"

"Quando eu me tornar, Agnes", ela disse, olhando pra baixo.

"Camy, eu não quero que seu relacionamento com a Selene seja estragado por uma briga entre irmãos", eu disse. "Inclusive, você não me contou sobre a noite passada. Eu vi que vocês duas sumiram da festa um momento."

Como esperado, Camila abriu um sorriso e suas bochechas coraram. Ela começou a me contar exaustivamente como ela e Selene haviam se entendido e acabaram passando a noite toda conversando e se beijando.

"Então vocês são oficiais, agora?", eu perguntei.

"Acho que sim... quero dizer, o que significa ser oficial, não é mesmo?", ela respondeu.Eu esperava que a Camila fosse mais esperta que isso. Eu sabia que a Selene não assumiria um relacionamento com ela nunca. Famílias Sangue-Puro se divertem com humanos e transformados, mas eles mantêm uma tradição familiar muito forte. Eu nunca ouvi falar de um Sangue-Puro casando com um humano ou um transformado. Isso é, tipo, totalmente fora das regras. E vampiros levam as regras muito a sério.

A Garota da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora