Grandes mentes pensam igual

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"Agnes, você não ia me matar!", Camila repetia pra mim enquanto eu encarava o nada, ouvindo coisas (ou corpos?) sendo atirados no andar de cima. Aquelas palavras da Selene realmente me afetaram.

"Como você sabe?", eu perguntei pela milésima vez. "Eu não sei nada desse negócio de ser vampiro. Menos que nada. Eu nunca nem me interessei em ler sobre eles... Sobre mim!", eu disse, frustrada. "E se a Selene não tivesse colocado esse... dispositivo de segurança em você?"

Camila se sentou do meu lado e pegou minha mão.

"Mas ela colocou. Eu estou bem", ela disse, tentando me acalmar. Eu puxei minha mão da dela e escondi meu rosto.

"Eu devia ter te deixado ir embora quando Selene mandou."

"Não devia. Como eu ia te explicar que eu não gritei por medo de você? Que eu não tenho medo de você?"

"Você tem péssimos instintos de sobrevivência, Camila", eu bufei entre as mãos.

"É verdade. E um ponto fraco por vampiros também", ela completou, passando o braço pelas minhas costas e apoiando minha cabeça em seu ombro. "Eu não tenho medo de você, bruxinha."

"Você jura?"

"Juro."

Ficamos assim por um tempo, ouvindo sons cada vez mais fracos lá de cima. Eu tinha certeza que não teria sobrado absolutamente nada do quarto quando voltássemos pra lá.

"Você acha que o Liam vai ficar bem?", eu perguntei, quando um som particularmente alto de algo grande sendo arremessado pelo quarto nos fez pular de susto.

"Não sei...", Camila respondeu pensativa. Ao olhar minha cara de espanto, ela se apressou a se explicar. "Quero dizer, eu não acho que a Selene mataria o próprio irmão, mas... Ele ainda não é maior. Ela é. E isso faz toda a diferença na força de um vampiro."

"Não sei se você percebeu, Camy... Mas a Selene estava bem fora de si lá no quarto... Ela mal parecia... humana", eu disse, mordendo o lábio de preocupação, lembrando do corte profundo que Selene tinha feito no pescoço liso de Liam. "Será que eu deveria subir para ajudar?"

"Você é louca? Quer dois vampiros no modo berserker pulando em cima de você?", ela perguntou, assustada. "Não fala besteira, Agnes, você jamais conseguiria entrar no meio de uma briga entre dois vampiros Sangue-Puro dois dias depois de ter virado uma. Não importa a cor dos seus olhos, você não conhece nem metade dos seus poderes."

"É", eu disse, frustrada, olhando para o alto das escadas. "Se eu soubesse qualquer coisa sobre o que está acontecendo comigo, talvez nada disso estivesse acontecendo agora."

Camila, que estava encarando as escadas também, não virou o rosto para me olhar e franziu a sobrancelha, como se estivesse pensando em algo.

O barulho lá em cima continuou por mais alguns minutos, com gritos esporádicos, ora da Selene, ora do Liam, até que tudo parou de vez. Um grunhido de frustração veio lá de cima, com a voz da Selene. Nós duas olhamos para a escada, esperando.

"Agnes, Camila, vocês podem vir aqui em cima por favor?", a voz cansada do Liam nos chamou. Soltei a respiração quando ouvi essa voz. Ele não tinha morrido por minha causa. "E, Camila, traz uma das garrafas de sangue na geladeira da cozinha, por favor", ele completou. Camila saiu correndo para buscar o sangue. Olhamos uma para a outra e, sem dizer nada, como duas irmãs que tinham sido pegas aprontando algo, nos demos as mãos e subimos a escada.

Ao entrar no quarto, tomamos um susto. Várias coisas estavam quebradas, incluindo a escrivaninha do Liam. Outros tantos móveis estavam arrastados ou virados. O quarto estava uma zona de guerra. Selene estava sentada em um canto, tirando farpas de madeira do cabelo prateado, arfando.

A Garota da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora