É assim que eu vou morrer

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Eu ainda não tinha dormido desde que tudo isso tinha acontecido. Pelo menos, não de verdade. Eu estava exausta. Há dias eu não conseguia descansar direito, mas agora eu temia pela chegada da noite.

O negócio é que eu teria que dormir no quarto do Liam. Na sua cama. Com ele. Eu não sabia o que fazer. Como eu me permiti chegar até aqui?

Depois que estabelecemos que 1) Eu era poderosa, como uma verdadeira Sangue-Puro, e 2) Selene não estava nem um pouco feliz com isso, Liam me acompanhou até seu quarto, para me mostrar onde eu deveria passar a maior parte do meu tempo. Graças à Deusa, o quarto era completamente diferente do que eu havia imaginado. Não existia uma cama com dossel e cortinas negras. Ele parecia normal, um típico quarto de adolescente rico. Grande, arejado e com uma janela gigantesca em uma parede.

"A lenda do Sol é baboseira também, então", eu murmurei enquanto observava os primeiros raios de sol iluminando o aposento. A cena era tão linda e cinematográfica que dava até raiva.

"Depois de tanto tempo, você ainda tinha dúvidas?", ele perguntou, levantando as sobrancelhas.

"Não era bem dúvida...", eu respondi, incerta.

"Nós não temos problemas com o Sol. Ou melhor, não temos muito."

"Como assim?"

"Humanos e lobisomens amam o Sol. Vocês são programados para amarem o Sol por uma simples questão de biologia: vitamina D. Sem ela, vocês têm vários problemas de saúde. Mas o organismo de um vampiro não consegue sintetizar essa vitamina. É por isso que nós tomamos o sangue de humanos... Nós precisamos disso pra viver de forma saudável também", ele completou, sorrindo.

Eu estava observando Liam boquiaberta. De todas as explicações de porque vampiros tomavam sangue humano, essa era a mais... sem graça. Mas fazia sentido.

"Então nós somos programados para sentir e dar prazer quando tomamos sangue. Para garantir que nós sempre vamos querer tomar e que vocês também sempre queiram nos dar."

"Isso é tudo muito interessante, Liam, mas não explica a preferência de vocês pela noite", eu disse.

"Tem alguma coisa a ver com a Lua. Ela tem uma atração sobre nós. Você vai ver. É como... como se você conseguisse sentir algo sobre você. Ou alguém... abençoando você..."

Eu fiquei encarando Liam, que estava perdido em pensamentos, apreciando o céu azul lá fora, completamente alheio ao que estava acontecendo aqui, no presente. Seria possível que ele realmente sentia tudo isso? Ou só estava fazendo uma cena para me deixar confusa? Eu sempre pensei no Liam como uma batata sem sentimentos que acabou crescendo demais. Agora eu estava ali, no quarto dele, observando ele falar sobre a sensação de ser abençoado pela Lua.

"Todos se sentem assim?", eu perguntei, sussurrando, querendo ouvir mais.

"Em diferentes níveis de entendimento, sim. Todos nós sentimo algo, mas nem todo mundo usaria a palavra abençoado para descrever esse sentimento." Ele riu. "Vampiros podem ser muito mesquinhos quando se trata de nossa certeza sobre nossa superioridade. Nós somos uma raça extremamente desenvolvida e nos orgulhamos disso. Só a ideia de existir algo superior nos abençoando já causa uma torcida de nariz nos mais velhos." Ele enrugou a testa, lembrando de algum momento que resolveu não compartilhar comigo. "Enfim", ele disse, dando as costas para a janela e saindo do seu transe. "Você não vai sair de casa hoje. Lembre-se que você está num estado catatônico para o resto do mundo, então ninguém pode te ver na rua."

"Ok. Posso receber visita?", eu perguntei, já pensando na Camila.

"Só a Camila, porque ela já está aqui."

A Garota da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora