Sessão 1 - O Silêncio dos Inocentes

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"Did the lambs stop screaming?"

- Bom dia, doutor. -A jovem entrou na sala tentando manter a sua postura mais alinhada possível, firmando seu tom de voz em um tom seco e ríspido. Jack havia lhe dado dezenas de recomendações sobre ele, precisava tomar muito cuidado com cada palavra, cada movimento. Ele não podia ver nada através dela.

A cela mais parecia um escritório, uma grossa parede de vidro, com alguns circulos vazando a muralha que o isolava, dividindo a sala ao meio. No lado intocado, haviam prateleiras e prateleiras abarrotadas com livros, uma mesa coberta com rascunhos feitos com carvão. Uma pequena cama escorada em um canto, uma vitrola e uma pilha de discos no outro. Tudo parecia muito bem organizado, porém estranhamente morto. Asseptico. Higienizado.

O homem estava ali, de pé, com uma perfeita postura, alinhada e gélida. Até fazia o macacão da prisão parecer inadeguado para si.

- Jack Crawford não me disse que outro agente viria. -Sua voz era profunda, com um sotaque que soava bizarro e impossível de decifrar.

- Eu sou Clarice Starling -Ela se apresentou, tirando seu distintivo e o mostrando através do vidro. - Eu estarei encarregada de guiar seus depoimentos, doutor Lecter.

Ele analisou as iniciais no distintivo com olhos atentos e lentamente caminhou para trás de sua mesa, se sentando pesadamente.

- Trouxeram uma agente em treinamento para me interrogar... Que indelicado da parte de Jack. -Ele ponderou com um muxoxo, pegando um lápiz largado no tampo da mesa.

- Esperava outra pessoa, doutor?

Ele se calou subitamente, interrompendo seu movimento por um longo instante. Tudo em Hannibal Lecter era calculado, friamente pensado.

- Me chame pelo nome, por favor. -Ele apontou, enquanto ela puxava uma cadeira do outro lado e se sentava pesadamente sobre ela. - O que quer saber, Clarice?

- Você matou vinte e quatro pessoas no período de quase dez anos... Sempre mudando os padrões e as cenas do crime.
- É a forma mais eficaz de despistar a polícia. Uma assinatura é como uma digital. Se não deixa-la, a polícia não sabe o que fazer...

Clarice ergueu uma sobrancelha para a afirmação dele e Hannibal sorriu minimamente. Parecia muito orgulhoso do que havia conseguido.

- Você parece feliz demais para um preso.
- Tenho tudo que gosto. Não há motivos para ficar desgostoso aqui.

Clarice suspirou fundo e abriu o pesado arquivo que tinha nas mãos, sobre o Estripador de Chesapeack. Um assassino que via suas vítimas simplesmente como um tipo de instrumento bizarro para sua arte.

- Tenho que admitir que muito do que vi aqui mais parece uma pintura macabra do que uma cena de crime.

- Acha bonito?
- Acho mórbido.

Hannibal ronronou em resposta e observou a expressão dela. Clarice estava claramente tensa, o suor frio escorrendo discretamente por sua nuca. Sabia que lhe amedrontava e isso era uma zona segura para ele.

- Por que fazer isso? Tenho certeza que demorou demasiado tempo. -Clarice mostrou a foto de um corpo preso a copa de uma árvore, como um cristo cruxificado, com o tórax completamente aberto e flores preenchendo o vazio dentro dele.

- Posso explicar quando você estiver pronta para saber. -Ele apontou, pacientemente. - Mas sou obrigado a retroceder. Não posso começar essa história pelo meio, não faria sentido... E uma história como essa não pode ser contada com pressa.

- Então comece, por favor. Estou curiosa. -Ela murmurou, cruzando uma perna sobre a outra e apoiando o rosto numa mão. - E só vou ter duas horas por dia de interrogatório com você, doutor.

𝑺𝒆𝒗𝒆𝒏 𝑫𝒆𝒗𝒊𝒍𝒔 Onde histórias criam vida. Descubra agora