Sessão 4 - A Fúria dos Inocentes

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"When the fox hears the bunny screaming, he comes running, but not to help"

- Me conte sobre você, Clarice. Como era sua família?

- Eu não tive uma, exatamente. Meu pai era um agente do FBI, morreu em serviço quando eu era muito pequena. Minha mãe não tinha como cuidar de mim sozinha, então me deixou com um tio, na fazenda que ele tinha. -Clarice soava levemente desconfortável com o que dizia. Parecia falar sobre algo que não era sobre ela.

- E como foi viver lá?
- Era infernal... Ele era um bom homem, m-mas todos os dias, ele matava um cordeiro, para o jantar. Os gritos deles... Eu não conseguia esquecer deles, não me deixavam dormir...

- Tinha pena deles? -Hannibal questionou e a jovem abanou a cabeça afirmativamente, respirando pesado.
- Num dia, eu salvei um cordeiro e fugi. Fugi com ele e um cavalo cego.

- Você voltou pra casa?
- Não, nunca mais... Vivi o resto de minha infância num orfanato.

- E os cordeiros? Pararam de gritar?

Clarice fitou o vazio e engoliu a seco, se sentindo exposta e envergonhada. Como se tivesse acabado de ser descoberta.

- A-As vezes... Eu os escuto, à noite. -Ela murmurou num sussurro sufocado, os olhos brilhando com lágrimas. - E-Eu quero parar de ouvi-los.

Clarice cobriu os ouvidos com ambas as mãos e se encolheu com vergonha, as lágrimas presas em seus olhos, sem se derraramar.

- Eu posso te ajudar, Clarice. -Hannibal abanou a cabeça, se inclinando mais perto do vidro que os separava, apoiando uma mão sobre ele.

- C-Como? -Ela sussurrou, lentamente apoiando a mão direita sobre o outro lado do vidro, sobre a dele. Hannibal sorriu minimamente.

- Você pode confiar em mim, Clarice? -Ele perguntou com a voz um pouco mais baixa. A jovem franziu as sobrancelhas levemente e se encolheu num arrepio antes de abanar a cabeça afirmativamente.

O sorriso dele se abriu um pouco mais e Clarisse recostou a cabeça ao vidro, suspirando em exaustão.

✦✦✦

Quando Clarice chegou naquela manhã para trabalhar, encontrou Jack Crawford conversando com Alana Bloom e Will Graham. Não havia uma pessoa naquela roda que confiasse.

- Bom dia -Ela murmurou baixinho, arrumando sua pasta nas mãos.
- Will, essa é Clarice Starling. Ela que está interrogando Hannibal agora.

- Prazer. -Will estendeu uma mão para apertar a dela. Clarice deixou a mão dele no ar por alguns longos segundos antes de finalmente cumprimenta-lo. - Espero que ele não esteja entrando na sua cabeça.

- Hannibal está colaborando e não representa nenhum perigo a mim. -Ela cortou a seco, parecendo irritada.

- Você não fica preocupada com o fato dele fazer rascunhos seus?
- Não. Acho que eu teria os mesmos hábitos que ele se estivesse presa.

- É perigoso ter empatia por ele.
- Eu sei, não tenho empatia, tenho pena. Pena de quem passa uma vida encarcerado, é o mínimo que posso ter. Você tem empatia?

Os dois se entreolharam com incomodo e Clarice engoliu um sorriso que veio em seu rosto. Will sabia muito bem que ela tinha conhecimento de tudo que os dois tinham feito e essa era uma posição um tanto confortável para ela.

- Clarice, Hannibal tem recebido ligações do assassino que estamos investigando.
- A fada do dente -Alana completou.
- O dragão vermelho, você quer dizer. - Clarice corrigiu, rolando os olhos.

𝑺𝒆𝒗𝒆𝒏 𝑫𝒆𝒗𝒊𝒍𝒔 Onde histórias criam vida. Descubra agora