Pequena Esquimó

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   Já eram por volta das 6 horas da matina. Subi a proteção da janela e tudo o que eu via era um cinza escuro clareando aos poucos. Antes do avião pousar uma breve turbulência que me fez voltar a minha playlist e tocar Eskimo da Louden Swain. Já nem lembro quantas vezes de play nesta música, mas ela grudou feito chiclete

It's like teaching architecture to an Eskimo
You can show him everything you know
He still gonna build it out of snow
I'm gonna take my long division down to Mexico
I can divide all night

   Quando foi no momento do desembarque já nas escadas de mochila e mala na mão tomei um susto. Faziam 16°, o vento era gélido. E eu que achava frio o ar-condicionado do avião, voltei logo dos primeiros degraus. Uma mulher estranhou e perguntou:

- Algo errado?

- Não, nada. É que tá frio ali fora. Eu só vou colocar mais um casaco por cima desse e já desço.

    Caro leitor, não sei se já fostes em algum supermercado grande tipo Nordestão*, Hiper Bompreço ou até mesmo o Extra logo de manhã cedo no momento da abertura, mas vou te contar uma coisa... Mesmo nível de educação e simpatia! A diferença é que no avião é na entrada e na saída, já no supermercado é só na entrada devido ao fato de que trabalharam igual escravos e no fim do turno só querem é chegar em casa.

    Manos e manas, foi muito estranho aquilo. O aeroporto de Congonhas mais parece uma cidade de tão grande e eu parecia uma pequena esquimó com tanto casaco. Imaginem só uma mina acostumada com um calor da desgraça que faz em Natal tendo que descer de um avião no meio do tempo num frio da mulesta** de 16º! Num pode minha gente...

   E pra acabar de lascar já era hora de comer alguma coisa, porquê o lanchinho da Gol num tapa nem o buraco do dente, que dirá servir de lanche. Eu lá na minha inocência, fui até a lanchonete. Eu sabia que comida em aeroporto era cara, mas resolvi arriscar. 

   Olhei o preço das comidas e optei pela "pseudo-salada de frutas". Sim, pseudo. Porquê aquilo eram apenas frutas cortadas em grandes pedaços e nem caldinho de laranja tinha nela! Gente... Cadê o leite condensado? Quem danado faz salada de frutas desse jeito? Espero que não seja coisa de paulista, porquê minha vontade pular o balcão e ensinar como se faz uma salada de verdade. Como se não fosse o bastante eu tive de pagar 18 reais pela "pseudo-salada de frutas".

    Mas obviamente, como boa moça que sou em terra estranha, fiquei na minha.

   ***

   Chegou a hora do embarque da conexão com o aeroporto Santos Dumont. O de Congonhas foi o primeiro aeroporto onde pra desembarcar e pra embarcar se fazia isso  distante do prédio e tinha que pegar ônibus pra entrar no aeroporto. Deve ser por causa do tamanho dele, de certeza. 

    O trajeto São Paulo / Rio de Janeiro foi super rápido e no despertar do sol carioca eu cheguei. Fui pegar no meu telemóvel (vulgo, celular) para pedir um uber, mas adivinhem... Zero de bateria! Ficar ouvindo música no avião me custou a bateria do meu samsung. Por sorte, pluguei na tomada e deu tudo certo. 

   No caminho do aeroporto para a Unirio eu ia igual uma retardada olhando pros lados querendo ver tudo pelo vidro do carro.

    - O destino final é esse aqui mesmo? Na Urca?

   - Sim moço, na Unirio.

   - Então é na Urca mesmo. É que não ando muito por esse bairro, sou uber a pouco tempo, então só queria confirmar mesmo.

      Misericórdia que o moço é uber e num sabe andar por aqui! Agora lasquei-me!

*Nordestão, Supermercado que atua na capital do Rio Grande do Norte.

** Mulesta, derivação de moléstia. Geralmente é utilizado pra dar ênfase numa frase ou em tom de surpresa. Ex.¹: Eita mulesta! E num é que foi mesmo.  Ex.²: Fez um calor da mulesta tão grande que se quebrasse um ovo no asfalto ele fritava sozinho.

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