Capítulo 1

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Anastasia tinha certeza de que aquele homem a estava seguindo. Enquanto passeava pelo mercado e visitava a parte antiga de Avala, tinha-o visto por poucos segundos, mas era o suficiente. Ele era inconfundível, alto, magro e moreno. Mas só agora podia vê-lo de perto, no saguão do hotel em que estava hospedada. Observou, com surpresa, sua entrada pelas portas giratórias, indo em direçâo à recepção. Tinha um rosto estranhamente atraente, quase cruel, uma tez morena-clara, perfil aquilino, maçãs do rosto pronunciadas, ca­belos pretos bem espessos. Ele se virou, como que compelido pelo peso de seu olhar, e Anastasia pôde sentir a força dos dois olhos castanho-dourados antes que ele se voltasse de novo, ostensivamente, para falar com o empregado da recepção.

Uma raiva súbita tomou conta dela, e pôde sentir que o rubor afluía a seu rosto, por um momento não soube o que fazer. Era ali que estava hospedada e não queria ter ninguém seguindo-a ou sa­bendo qual era o número de seu quarto, o que certamente aconte­ceria, se ela fosse pegar sua chave agora. Sentou-se numa das poltronas de vime para olhar os cartões postais que tinha comprado. Sua pri­meira ideia tinha sido subscritá-los ainda no saguão, para poder enviá-los imediatamente, pondo-os na caixa de correio que havia ao lado das portas giratórias. E agora não via nenhuma razão para mudar seus planos por causa da presença de um estranho. Se ele ainda es­tivesse ali quando ela terminasse de escrever, esperaria.

Abriu a bolsa com mão firme e tirou os cinco cartões. Muitos homens já a tinham seguido antes, na Inglaterra. Porém, num lugar estranho, era diferente, muito diferente, pois estava sozinha, a milhares de quilometros de casa, por um motivo que só ela e seu pai sabiam. Até o leilão, dali a dois dias, era muito importante que ninguém mais soubesse ou adivinhasse qual era a razão real de suas férias em Avala. Ela não podia, de forma alguma, fracassar numa missão dada por seu pai. Isso era impossível, e Anastasia tinha aprendido, com o passar dos anos, a evitar a força de sua cólera a todo custo.

Seu pai sempre quisera um filho, nunca a tinha perdoado por ser menina. E ela, de certa forma, tentava ser aceita, ser amada por ele. Agora esse era seu grande teste: seria impossível fracassar na missão dada por seu pai. Pela primeira vez, ele confiara totalmente nela, já que não tinha outra escolha. Isso, entretanto, não alterava a im portância de sua missão. Piscou forte para afugentar as lágrimas decidiu se concentrar no que escreveria para sua antiga pajem, hoje vivendo numa casinha nos arredores de Londres. A velha criada tinha sido seu único refúgio na infância, após a morte de sua mãe. Com seu pai sempre viajando, não havia ninguém mais para se interessa por ela.

Terminou de escrever e olhou ao redor. O homem tinha desaparecido. Havia um grande grupo de turistas americanos, com sua máquinas a tiracolo, camisas berrantes, rindo uns com os outro Mas, do homem, nem sinal. Aliviada, Anastasia despachou todos c cartões pelo correio, pegou a chave na recepção, tomou o elevador e ao chegar a seu andar, abriu confiante a porta do quarto.

Um homem sentado junto à janela se levantou e disse numa voz profunda e agradável:

— Bom dia, srta. Reagan. Desculpe a intromissão, mas precisava lhe falar.

A primeira reação da moça foi fugir e já estava com a mão girando a maçaneta da porta, quando ele disse:

— Conheço a verdadeira razão de sua vinda a Avala. srta. Reagan, a razão secreta, e seria melhor falarmos sobre o assunto.

Hesitou, pálida e amedrontada. Virou-se e perguntou:

— O que quer dizer?

— Por favor, não tenha medo. Se preferir pode deixar a porta aberta; contudo, o que tenho a dizer é muito pessoal.

Falava com um ligeiro sotaque e seu rosto de maçãs altas procla­mava sua origem eslava.

— Quem é você? E que história é essa de saber a razão real da minha vinda? — perguntou ela corajosamente.

Submissa a Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora