Apesar da minha carreira como escritora não ser tão longa, eu carrego uma história. Bons momentos, más lembranças, pessoas que conheci nesse trajeto e uma coletânea de frases que já me disseram nesse período.
“se não conseguir na primeira tentativa desista.”
Não foi uma, mas quatro vezes que ouvi isso de maneiras diferentes. A primeira foi quando um dos meus livros publicados pela internet não teve a repercussão esperada. Meu pai disse que deixaria eu viver minha vida como escritora e assinaria o contrato com a editora se o meu livro novo chegasse a cem mil visualizações em menos de um mês.
Como menor de idade era a minha única chance, no entanto consegui apenas vinte mil visualizações no primeiro mês e o sonho de publicar meu primeiro livro foi adiado, mas isso não me impediu e provei que aquela frase estava errada.
A segunda vez que ouvi algo do tipo foi quando publique o primeiro livro da minha trilogia. Meus rascunhos não foram aprovados e eu quase perdi meu contrato com a editora, e mais uma vez eu não desisti e continuei a aperfeiçoar até ser aprovado.
A terceira e quarta vez vieram juntas. Como essa mesma trilogia aborda alguns assuntos delicados algumas pessoas tentaram alterar esse ponto específico, mas eu bati o pé e não desisti de nenhum detalhe, publiquei os dois livros mesmo com meus rascunhos sendo reprovados. No fim deu certo e são esses assuntos tão delicados que fazem do meu mundinho o que ele é e dá a essência dos personagens que eu tanto amei criar.
Por isso estou ignorando todas as ligações de Minhee, que já somam quatorze em minha caixa postal. Já tenho problemas o suficiente e não quero ouvir a voz da razão apitando no meu ouvido e reforçando o que eu já sei.
Na mesma hora alguém começa a bater na porta de maneira impaciente e não preciso de muito esforço para saber que é Jung Minhee.
— Ha Na! Abre essa porta! — A voz dela soa alta e eu suspiro pela interrupção. Quando finalmente estava saindo alguma coisa e as palavras começam a fazer algum sentido me interrompem. — Baek Ha Na sei que está aí dentro! Abre logo!
Levando toda a minha preguiça comigo eu saio da frente do computador e me arrasto até a porta antes que algum vizinho reclame do barulho. A imagem da mulher ruiva e alta logo toma minha visão, apesar de casual carrega o ar elegante de sempre e posso dizer que não está nem um pouco feliz eu diria até preocupada.
— Vai quebrar minha porta desse jeito. — ela abre a boca para falar algo, mas desiste após avaliar meu estado. Imagino que o cabelo bagunçado e o pijama esfarrapado deixam claro que as coisas estão bem mais ou menos. — Não está pronto se é o que quer saber.
A Jung me olha incrédula e eu apenas dou as costas, voltando ao meu computador e arrumando os óculos no rosto antes que as palavras sumam novamente. Ouço a porta se fechar e a mulher respirar fundo antes de caminhar até o meu lado, seus saltos fazem um tec tec irritante no piso.
— Não vim aqui como sua editora. — suas mãos encontram meus ombros e me viram em sua direção sem dificuldade por causa da cadeira de rodinhas. — Trabalho com você, mas acima de tudo sou sua amiga e me preocupo com você. O que está acontecendo?
Abaixo a cabeça sem conseguir olhar para seu rosto. Não sei se devo contar, não sei se ela me entenderia e apesar de estar do meu lado para tudo sei o que ela vai dizer.
— Não vou aceitar desculpas. Você está presa aqui a quase um mês, sem contato com ninguém. Tudo bem que a faculdade onde você dá aula está de férias, mas acho que nem o porteiro vê você desde que se entocou aqui. — levanto o olhar para minha amiga que carregava uma preocupação que eu nunca havia visto. — Sabe que não deve ficar mal e se desgastar por causa do que os outros querem...
— Eu sei, não estou fazendo um novo livro por causa da editora ou dos leitores. — a interrompo antes dela terminar sua fala. — quero escrever por mim. Passei muito tempo pensando nos detalhes e tenho muita coisa pronta, eu só... Não consigo escrever algo decente.
Me solto de suas mãos e volto minha atenção ao computador, depois de empacar novamente por algumas horas eu voltei a escrever e estava chegando à quinta página. O que não é grande coisa, mas vai dar pro gasto.
— Escuta. Não fará mal algum você tirar um tempo para você, eles estão com pressa para ver o rascunho, mas quem dá as cartas é você. Seu último livro foi publicado há três meses e está vendendo bem. — A Jung começa a andar de um lado para o outro, inquieta. Seus passos ecoam junto de sua voz no silêncio do meu apartamento. — Não é vergonha desistir.
E lá vamos nós de novo. Sei que ela está certa e só quer me ver bem, mas eu quero tanto dar vida a essa história. Já provei mais de uma vez que desistir nem sempre é a resposta, então por que todos insistem em repetir a mesma coisa quando um problema aparece?
— Sei que só quer o meu bem, Minhee, mas você me conhece e sabe que eu não costumo me dar por vencida tão fácil. — recebo um sorriso e um balançar de cabeça de quem sabe que não vai me convencer. — Obrigada por vir me ver, mas a senhorita está atrasada, sua hora de almoço acaba em vinte minutos. Avise para o pessoal que até o fim desse mês eu apareço com pelo menos uns dois capítulos.
Arriscado. Significa que vou ter que dar um jeito nesse bloqueio em menos de duas semanas.
Ela revira os olhos pela minha teimosia, mas assente ao meu pedido. Com um abraço ela se despede e sai como um furacão junto de sua pressa, não menti quando disse que o horário do almoço dela estava no fim.
Depois de Minhee me deixar sozinha novamente e o silêncio recair sobre meu pequeno lar, coloquei a música novamente e um novo arranjo invadiu meus sentidos. Resolvi me deixar levar pela sonoridade e só depois ver o que tinha escrito e mais uma vez eu estou no perfil do tal Min_genius.
Sua última melodia foi postada a dois dias e não tardo em clicar para ouvir e me deixar levar por uns instantes, mas o que me fez vir até aqui foi a descrição.
Suga: há dois dias.
“Não desista, tudo bem?”
{♡}
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Inspiration » » Min Yoongi
FanficAté onde vai a capacidade humana? Somos incríveis. Certo? Basta apenas uma melodia e estamos encantados. Basta uma boa leitura para sermos cativados. A arte de criar é um dos nossos mais belos dons e para um artista, principalmente um escritor, per...