Escrito por: LuaInAHoodie
Revisado por: poesiadasflores
Arte por: LizGael
Capa por: shyminbOodal - falsa raiva depois de uma briga.
Tu suscitou modesto, ao alvorecer do meu coração, como uma singela faísca. Todavia, ao penetrar o meu cerne, tu me incendiou, completamente. E eu me tornei fogo; brilhante, quente e incessante, alastrando a nossa chama em forma de palavras, condensadas em obras de diversos gêneros espalhadas pelo mundo.
E nós sempre fomos completos, ainda somos. Como o mar refletindo o céu estrelado, como um oásis no deserto, como as flores na primavera… Você lapida os meus sentimentos, refina as minhas palavras, reveste as minhas ideias e sempre reprograma o meu sistema, me fazendo voltar ao estado de plenitude divina que só consigo alcançar na tua presença, no nosso cantinho secreto.
Já te tenho há tanto tempo, que nem me lembrava mais como era não te ter. Não ter nem uma migalha de você. E por mais que eu te ame, como nunca vou amar nada nem ninguém assim; por um instante, durante aquela semana fria de outono, quando eu tinha um prazo e critérios rigorosos a cumprir e só conseguia procrastinar, afogando-me em estresse, eu quis me lembrar de como era não ter você, só para saber se a nossa relação estava em algum tipo de rotina ou simplesmente passando por um momento difícil.
Não me entenda mal, eu só queria um tempo pra mim e tu me olhando tão de perto, com aquela feição confiante e orgulhosa não estava ajudando. O seu sorriso me afetava, o seu suspirar me afetava e até mesmo a sua presença me fazia sentir que nós não nos mereciamos. Por isso eu fugi, fugi de nós e de ti. Aos poucos, o teu corpo foi desvanecendo, teu cheiro não se fazia mais presente e o teu riso se tornou um eco distante em minha memória, indo e vindo apenas para me lembrar de quem eu era. E durante aquele tempo eu não queria me lembrar, então me permiti ignorar.
Cada uma das minhas células se camuflou. E no começo foi incomum, de uma forma singular, um estranho bom, aliás. Porque, eu desvendei um mundo sem poesia alguma e eu sempre pensei que esse mundo seria trágico, contudo não foi. Foi mágico ao primeiro impacto e então segundo após segundo foi se esvaziando.
Ainda assim, o que eu não entendi, é que tu de alguma forma ainda estava ali, aqui, comigo. Não era eu, era nós, mesmo que apenas um singelo resquício de nós. Um pedacinho tímido, perdido, na imensidão dos prazeres momentâneos que eu julguei precisar.
Saí de casa, nós ainda estávamos ali. Não corri para o parque, para as flores, nem para o mar. Fugi para o oceano de pessoas nas ruas, mas não para me inspirar, para me esconder. A música em meus ouvidos estava alta. Mas, tudo bem, porque eu não ouvia mais a sua voz a me chamar.
Eu conheci três pessoas, com essências e corpos diferentes. Elas me estenderam a mão e por um momento me fizeram flutuar por um caminho novo, em um sonho novo. E as tuas mãos me segurando pela cintura, me salvaram, mesmo eu nem percebendo, quando quase caí naquele abismo atraente, guiada por novos olhares e sorrisos.
Eu me aventurei por lábios estranhos e anestésicos, cheios de uma luxúria gloriosa que me foi saudável naquele momento, mas mortal quando me encontrei sozinha com meus pensamentos finalmente.
Doeu não ter o teu olhar em mim, porque o meu cérebro recordou da sensação e da forma como você costuma piscar calmo e solene quando quer me fazer refletir, ou simplesmente me derreter.
Doeu, porque eu não sentia você e eu mesma que havia procurado por aquilo. Desejei ao menos a tua voz me dizendo “eu te avisei”, mas só tive o silêncio.

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Logophilism
Fiksi PenggemarLogophilism: o ato de ser apaixonado por palavras. Assim como todas as vezes a onda ricochetea contra a rocha de maneiras singularmente distintas, para mim, desde nosso primeiro contato, você tem me tocado de formas intangíveis, com os mesmos dígit...