capítulo 2: salve as batatas

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Amanda Catarina. A garota que quando criança invejava por ter a melhor casa da rua e equipamentos de jogos bem superiores aos meus. Bem questionáveis para crianças que competiam o avanço tecnológico e passavam horas desafiando cada nível decisivo, que depois da vitória o vencedor passaria dias se gabando entre colegas da rua e do colégio.

Minhas habilidades com botões eram superiores de qualquer jovem da minha idade, então Amanda sempre era passada para trás. Mesmo que fossemos bons amigos. Competitivos, entretanto bons companheiros que supria a solidão um do outro.

Na pré-adolescência tudo parecia piorar. Ela com seu luxo de garota mimada, e eu o nerd que nunca desaprendi do meu velho playstenchion. E o seu ódio com o tempo só parecia piorar...

E por isso, sua vida era proposta em fincar toda a minha felicidade e alegria. E era exatamente o que sua pessoa impiedosa e pouco discreta continha em seu sorriso claro de malícia.

Minhas pernas queriam correr e impedi-la que compartilhasse a foto pouco insana pelo mundo afora. Mas a falta de reação indicava, para o meu descontentamento, que meus olhos alarmados queriam presenciar meu próprio massacre ser concebido em menos de cinco segundos.

Com o despertar da possível realidade, proponho às minhas pernas pouco atléticas a pegar à mais próxima peça de roupa e correr para a casa ao lado.

Minha mãe carregava em mãos uma assadeira com frango e batata, cardápio de toda quarta-feira. Com o desmanche de prever a probabilidade de esbarrar em si, me esquivo e tigela quase vai ao chão.

Paro em frente ao jardim da casa bem ornamentada. E não fazendo jus aos princípios que minha mãe me deu, nem sinalizei que eu estava na porta; já entrei como se já fosse um hóspede antigo.

Para a total sorte mal concedida, ninguém se encontrava no hall de entrada, caminhei apressadamente pelas sala até lembrar o local de seu quarto. Entro em corredor conhecido e parei sobre a porta rosa, que costumava vislumbrar todas sextas-feiras à noite quando era criança, tempo que minha mãe tinha culto à noite e me deixava com sua queria vizinha.

Sem pensar duas vezes, abro a maçaneta customizada e parei assim que encarei a víbora sentada em seu trono felpudo e me olhando com um olhar diabólico.

— Que modos Bentinho — falou, lascando as unhas umas nas outras, me dando um arrepio por cada estralada. — Imagina se eu estivesse me trocando, ou até mesmo nua.

O modo como ironizou a última palavra, me fez reverberar um arrepio na espinha

— Apaga, por favor — peço, dando por mim que ela não faria, mesmo que eu pedisse com toda cautela.

Ela pegou o celular que brilhava com tanta purpurina em cima da cama e encarou a tela, com a foto inapropriada estalando seus olhos.

— Não sei... Isso seria tão bem utilizado.

Seu cabelo loiro platinado destacava cada vez mais suas clavículas malvadas.

— Por hoje, só hoje, deixa nossa deixa de lado — supliquei, mais uma vez.

Ela pareceu considerar, mas hesitou, olhou mais uma vez para os meus olhos de súplica e seu rosto cedeu.

— Tudo bem, eu apago.

Meus músculos relaxaram sugestivamente.

— Porém, você terá que fazer um favor para mim.

— Okay, eu faço — digo, simplesmente. Seja o que for, deveria ser uma troca justa.

Seja o que for, me dava medo o que podia ser. E esse receio no peito só se intensificou quando Amanda sorri antes de seguir para seu closet, que cheirava a essência de rosa misturada com perfume adoçado. Ela voltou com uma caixa lacrada nas mãos, que parecia haver algo caro, por estar tão bem protegido. Claro que eu não duvidava, se tratando da grande renda elevada de sua família.

A caixa parecia leve, e tive a contradição da minha suposição quando a mesma pesou meus braços.

— É só você deixar essa caixa nesse endereço — informou, colocando o suporte em meus braços e em cima um pequeno papel dobrado.

— Tá, e quem vai garantir que essa foto não existirá mais?

— Você não confia em mim? — pergunta com os olhos tristes e seu rosto contorcendo em um choro planejado.

— Sinceramente, não — exprimo, sem a menor afetação presente em meu rosto pelo seu teatro.

Amanda dá uma risada nasalada, seguindo para seu closet novamente.

— Aposto que você vai precisar de flores, estou certa?

Franzo o cenho, estranhando o seu chute certeiro.

— Você anda me perseguindo por acaso? — indago, descontente.

Ela apenas deu de ombros condescendentemente.

— Infelizmente gente como você sempre tende em manter relacionamentos, como você e a Bruna. Isso não vai durar muito tempo, mas estou disposta em ajudar.

Meu estômago ainda tentava digerir o que ela acabou de confessar. Coisa que eu pensei nunca sair de sua boca.

Sem ouvir uma resposta concreta, Amanda segue para o closet e volta com um enorme buquê e mais uma caixa, dessa vez uma inofensiva caixa de chocolate.

Dei meia volta assim que ela deposita um sorriso amigável e forçado. E desde aí, jurei a mim mesma que nunca mais pisaria no quarto dessa garota que com toda certeza possuía distúrbios mentais.

De volta para o meu conforto consuetudinário, me vejo totalmente disperso dos meus afazeres: já marcava 09:21 da manhã e ainda não estou de encontro com as minhas calças.

Procurei minha mãe, que tinha conseguido salvar as batatas. Perguntei pela minha calça, ela retirou de trás da geladeira pouco moderna e colocou o último conjunto para a peça em meus braços.

Com tudo em seu devido lugar conforme o planejado, ajusto uma pequena mecha de cabelo que insistia em desfocar do lugar. Que parecia ter se tornado indômito pelo mal ar que o próprio quarto da víbora havia me desconcentrado dos meus propósitos.

Pego as flores em cima da cama e ajusto em meus braços, cheirando-as. Não duvidaria se tivesse veneno em meio às pétalas. Amanda, pelo jeito, queria arruinar meu relacionamento, e matar Bruna seria uma ótima maneira de desmoronar não apenas meu namoro e sim minha carência emocional.

Acredite em mim, Amanda Catarina era capaz disso e de coisas piores. Principalmente se relacionando em destruir minha vida. Desde que ela não passou a ser prioridade em minha vida, tudo se tornou um caos.

Bufando pego o endereço e notei que era à duas ruas acima, ou seja, era apenas caminha até a casa da Bruna.

09:40 da manhã — era o que indicava no relógio velho da minha mãe na cozinha — meus pés pisavam fora do passadiço da casa. Seria vergonhoso para um rapaz aparecer socialmente na frente de toda vizinhança desta maneira. Mas, por incrível que pareça, eu não estava me auto diagnosticando em me escudar e correr para baixo da saia da minha mãe. Não. Eu estava obliquamente orgulhoso por estar cumprindo meu papel.

Naquela quarta-feira, não mudou nada. As mesmas senhoras que ficavam todos os dias no parapeito de suas janelas, mulheres ainda de roupão molhando suas plantas em seu pequeno jardim... Tudo como sempre em nossa humilde vizinhança.

— Ih, olha lá Zilda, aquele garoto que vive trancafiado dentro de casa — umas das senhoras falou, com os braços cruzados em cima do parapeito.

— Estou vendo Glaucia, e parece que vai se encontrar com alguma namorada.

As senhoras com as rugas bem enrugadas pareciam ter muita curiosidade em ver um garoto de 17 anos, de terno, em plena manhã.

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