O carro parou em frente a placa, o mesmo lugar em que fui raptado. Assim que a porta é aberta saio em um salto, me desprevenindo de mais medo e alvoroço.
— Ei rapaz — o homem do passageiro me chamou, me fazendo ter certa hesitação em responder. — Por que diabos você está com um terno acabado como esse? — pergunta se dirigindo a minha vestimenta, que continha vários danos, como: rasgo, pelo de cachorro por todo lado e a massa de cimento que agora fazia parte das linhas do terno.
— Você acreditaria que atravessei apenas quatro ruas e acabei neste estado?
— Sinceramente, não.
O segurança atrás, levou a mão a boca e começou a rir. Uma das únicas vezes que se manifestava.
— Está parecendo que acabou de sair de um apocalipse zumbi — falou enquanto gruía a tosse de tanto rir.
— Chega Roger, chega.
O carro social seguiu pela rua, virando na próxima esquina. Imaginei tudo pelo que passei. Se pensarmos em tudo, somos apenas formigas disposta em construir seu canteiro, a qualquer hora pode parecer um pé e pisar, destruindo todo o trabalho contínuo. Matando todos à sua volta.
Eu não posso ficar mais um minuto aqui. Sei o que devo fazer e talvez possa ser tarde o bastante para conseguir o que quero é que tanto desejo.
Atravesso a rua em um disparo, sendo apenas impedido pela caminhonete que virou a esquina o exato momento que corria em direção ao outro lado.
Pela longa caminhada meus pés diziam para parar, meu instinto dizia para esquivar, pular e atravessar nem que seja o universo para alcançar onde realmente mora meu coração.
Passo por um morador de rua, que pedia esmola na sarjeta da calçada, mas para mim ele apenas estendeu o dedo em positividade a continuar minha corrida. Seu rosto estava desconcertado, totalmente disperso da realidade. Com certeza ele tinha gastado os poucos centavos com aquela mesma droga que Amanda distribuía. Mesmo assim me dispus a sofrer em si só pelos calos.
A poucos metros da casa de Bruna, retiro o paletó e deixo para trás; deixando o vento levar. Desviou da lixeira que era da vizinha de Bruna, para ficar de frente para o pequeno portão que sempre rangia a passar por ele, seu jardim era simples contracenando com a casa com a arquitetura antiga e antiquado à rua moderna.
Empurro o pequeno portão, que como esperado veio um te rangido de soslaio, caminho com passadas lentas pelo entrada. Mesmo com o cabelo bagunçado, terno desajustado e todo arranhado, o orgulho prevalecia em mim. Minha postura não era das muitas, mas era honesta.
Chego em frente a madeira e toco a campainha que se encontrava em meios as folhas das samambaias. Ouvi pequenos passos e depois o destrancar da fechadura. Antes que ela fosse aberta, apresso rapidamente minhas mãos à roubar uma pequena flor estendida em meios as plantas.
Bruna me olha antes que eu pudesse vê-la.
Linda.
Ela se encontrava linda. Seu cabelo escuro preso em um lápis, seu avental e rosto redondo sujos de tinta azul e vermelho. Os óculos pensiam na ponta de seu nariz redondo. Uma cena mais que grandiosa e perfeita.
— Bento, o que aconteceu com você? — ela me encarava dos pés à cabeça, desesperada com a resposta.
Pego seu rosto entre as mãos e sussurro:
— Não importar, não é isso que convém nesse exato momento.
— Bento...
— Só me deixa falar primeiro, você precisa ouvir.
Bruna acenou continuamente.
— Desculpe por não aparecer em meio aos seus vizinhos e parentes de uma maneira mais sociável, mas fiz de tudo para estar aqui. — Queria soar o mais sincero e terno possível, e até agora estada dando certo.
Bruna levou as mãos a minha cabeça, retirando um pequeno galho de árvore em meio aos cabelos.
— Eu não me importo com nada disso. Se meu namorado escala montanhas por mim, só quero que ele esteja aqui. Seguro.
Seu sorriso se acendeu de alegria.
— E só mais uma coisa, promete algo a mim? Eu sei que não merece quase nada no meu estado tão frágil.
— Para de ser exagerado, claro que pode.
Uni nossas testas, sentindo o rubor de ternura se encontrar em nossa pele.
— Promete que não seremos apenas um casal juvenil, que não desistiremos no primeiro obstáculo?
Minha voz rígida e terna, continha toda veracidade que existia em minha total abstinência.
Bruna afundou cada vez nossas testas até compartilhávamos o mesmo ar.
— Eu prometo, — disse por fim. Sem pausas e vírgulas. Concreto o bastante para saber que tudo valia a pena.
Naquele momento — em que compartilhávamos o mesmo ar — pude relembrar todo nosso trajeto. Nossa ingênua amizade na pré-adolescência; o constrangimento do primeiro beijo e descobertas feitas apenas por casais adolescentes. E tudo pareceu tão significativo que uma data não era suficiente para se comemorar.
Queria guardar em um potinho a primeira vez que a vi. Tímida, entrando na sala com cautela e o rosto envergonhado, mas com um simples sorriso realçando as bochechas gordas.
Quatro ruas paralelas, um caminho que temia em ser realizado. Um simples objetivo e uma promessa que devia ser cumprida. Tudo isso significava uma coisa: eu a amava. E tinha toda certeza disso. Era jovem demais para saber um ressentimento tão novo, mas uma coisa eu tinha certeza. Atravessar montanhas não se tornara uma expressão da boca para fora. Não mais para mim.
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Paralelo [✓]
ContoOs únicos planos de Bento para aquela quarta-feira era descumprir com todas suas obrigações e jogar videogame até conseguir o seu tão esperado nível recorde. Mas tudo muda com apenas uma única e decisiva ligação de Bruna. Sua namorada. Com uma data...