Cap 2 - O táxi

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Como as aves que assobiavam todos os dias pela manhã, o cheiro do café diário a acalmava, dando o mesmo sentimento de paz interior que o canto de tais passarinhos conseguia entregar-lhe. Não era tarde, ela pensava, mas o tempo era suficiente para motivá-la a esquecer dos problemas e aceitar a nova chance que a vida lhe dera, tão importante quanto a solidão que a perseguia todos os dias.

O dia decidiu sorrir pra mim, talvez como um amigo imaginário que ao nascer do sol acordava a cidade e esperava ansiosamente a noite para o seu descanso desejado, e como sempre, ao lado do clima, eu era agraciada esplendorosamente pelo tempo. Não existe tempo ruim, cada um cumpre seu papel de acordo com a necessidade da vida e seus momentos inoportunos. Quem sabe um dia eu me apaixone e a chuva resolva aparecer? Dando de presente a mim uma situação mágica? 

Os móveis já estavam montados em seus respectivos cômodos e pude admirar durante o café cada um deles, descobrindo de forma tão aberta o quão boa sou com decoração, ha.  Meu coração batia forte com o nervoso, e a ansiedade me corroía pouco a pouco, jamais pensei que seria tão difícil sair de casa e pegar um táxi, o trabalho me esperava e eu estava como uma medrosa querendo os braços da mãe. 

Nós acreditamos em você, eles disseram. Eu tinha todo o apoio necessário em mim e o meu próprio me encorajava todos os dias a seguir meus sonhos e mesmo assim o medo não conseguia me deixar só. Que diabos?! 

Aprontei meu cabelo com um penteado sofisticado e me vesti com as roupas já guardadas desde quando arrumei as malas para sair de Elaville, meus olhos brilhavam de felicidade e se encontraram no espelho com minhas mãos trêmulas e sorriso cuidadoso. Eu estava pronta. Tão pronta que poderia gritar aos quatro cantos dessa cidade o quão capaz eu sou de cuidar da minha própria vida.

Tranquei a porta do apartamento e desci correndo as escadas, as horas marcavam 7h45 e o início do trabalho era às 9h, mas não podia me permitir ser suscetível a qualquer desastre de atraso ou estresse em qualquer condução. Peguei o telefone do bolso e liguei rapidamente para minha mãe, tentando notificar de que já estava indo e pedir por uma oração, não conseguia pensar em mais nada a não ser no meu entusiasmo ao finalmente ver a empresa de perto. Levantei a mão e chamei por um táxi, mas nenhum parava para mim, que droga de movimentação é essa logo hoje? E ainda sim rejeitavam uma passageira? Comecei a ficar mais nervosa e decidi guardar o telefone, usando a mão livre para assobiar bem alto. Se não me enxergavam pulando, me ouvirão até os tímpanos estourarem. Um parou e corri tentando alcançá-lo, já que estava na esquina com diversas pessoas. O motorista fazia gestos apressados para mim, esperando que eu corresse e quando finalmente cheguei a porta um idiota entrou primeiro, mas fui rápida o suficiente para impedir que fechasse a porta.

— O táxi parou PRA MIM!! — Gritei. Quem ele achava que era pra roubar o meu lugar?

— Eu estava bem ao seu lado, Jonny para aqui para mim todos os dias, o problema é seu se achou que era pra você. — Cuspiu. Ugh, grosseiro.

— Pra onde você vai, mocinha? — O taxista perguntou, talvez com pena de mim.

— Para uma editora chamada Allados, conhece?

— Claro, meu companheiro aqui...—Ele apontou para o inconveniente.— Vai pra lá todos os dias.

— Ah, para, Jonny, não vê que essa mulher é louca? — Perguntou em deboche.— Arrume outro táxi, senhorita, esse aqui já está ocupado.— O homem tentou fechar a porta com mais força, mas eu o parei novamente.

— Não me importa sua opinião, esse carro tem lugar para quatro e você está sentado sozinho no banco de trás, eu posso simplesmente sentar no da frente, e ai de você se falar mais uma gracinha.— Ameacei, esse projeto de poste estava começando a me irritar profundamente. Depois que entrei no carro, nenhuma palavra a mais foi dita, me senti vitoriosa. Paguei a corrida do taxi e saí tão rápido quanto um jato, tentando evitar ao máximo olhar para o homem de novo. 

A viagem demorou mais do que eu esperava, foram 20 minutos morrendo por dentro com medo de me atrasar. Passei pela grande porta de vidro e minhas pernas bambearam. Era tudo tão lindo que mais parecia um sonho e eu só queria dançar, cantar e falar o mais alto possível o quanto eu estava feliz. Subi pelas escadas e me deparei com alguém que eu jamais imaginaria aqui, Anabel.

— Garota?? — Ela explanou assim que me viu, com três pulinhos ela veio como uma coelha pra me abraçar.     — O que você tá fazendo aqui?

— O que você tá fazendo aqui? — Perguntei sorridente.— Eu sou a nova estagiária do Senhor Stewart...— Respondi com orgulho.

— Gata, o senhor Stewart é ninguém menos do que o irmão do Alex.— Ela esbravejou contente por conhecê-lo.— E eu trabalho como editora na parte criativa da empresa, depois te apresento tudo. Acredito que seu trabalho começa daqui a pouco, então vai, você tem muito trabalho a fazer.— Ela sorriu.— Adorei saber que você vai trabalhar aqui.

— Você pode me mostrar aonde é a sala dele, por favor? Não conheço nada aqui e do jeito que eu sou, me perderia em cinco minutos.— Quase implorei, meus olhos por si próprios já pediam ajuda.

— Claro! Vem comigo.— Ela se apressou e passou por dois corredores que formavam um círculo no andar que estávamos até chegar a uma porta espelhada falsa, que escondia todo o interior sala. — Agora é só bater e ele te atenderá. Boa sorte.— Ela saiu andando como uma modelo e ao olhar em volta, pude notar diversos olhares sobre ela. Claro, ela era a mais linda dali. Senti pena de algumas funcionárias que a olhavam de cima a baixo com o rosto repleto de raiva.

Dei dois toques na porta e entrei, o chefe estava de costas e eu não pude ver seu rosto, então olhei apressadamente em um dos espelhos da sala que estava perto de mim e arrumei o cabelo, que já estava todo bagunçado devido ao vento que a janela aberta do carro trouxe.— Bom dia. Sou a nova estagiária do seu setor, o meu horário está marcado para às 9h mas não pude me conter e vim mais cedo. Espero que não tenha problema.— Disse medrosamente.

— Se seu horário é às nove e eu não enviei nada por email pedindo para vir mais cedo, então você chega ás nove. Não quero ninguém me importunando logo cedo quando não se tem necessidade disso.— Ele virou e meu coração gelou. Eu já estava demitida.

— Você?!

— Você?! — Dissemos ao mesmo tempo.

— O homem do táxi.

— A mulher do táxi.

Minha SorteWhere stories live. Discover now