Capítulo 5

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Hospital St. Vicent

2h52min. - 22 de Outubro

Depois de mais de 5 horas na sala de cirurgia vovô enfim saiu. – Ele tinha hemorragia, seus órgãos foram falhando, até ter uma parada cardíaca – disse o Doutor Hunt, ele se foi, estava morto. Papai tinha saído quase ao mesmo tempo e foi encaminhado para uma sala. Encheram no de tubos e fios, ele não respira sozinho – Ele tinha paradas cardíacas a cada 15 minutos. - Aquele não era mais meu pai vivo, forte e sorridente que conheci minha vida inteira. O que eu via era um corpo frio e esbranquiçado que se mexia de acordo com as máquinas, fios e tubos que o envolviam. Então percebi, que minha vó tinha razão, agora eu era uma mulher que tomava decisões e não mais o broto que recebia elas.

Então seja uma flor, e ache seus membros, pessoas especiais. Sozinha nada para em pé. E quanto ao que lhe aconteceu no passado, você vai achar um homem que te mostre que existe paixão e amor, basta apenas você deixar sentir. – Ela me beijou a testa, encostou-se a seu leito, eu fiz o mesmo e sussurrei o que ela sempre me dizia antes de dormir depois de contar uma estória: Ó meu broto, tão crescido durma bem, sonhe com os anjos, que eu estarei aqui para te proteger. Obrigada vovó por sempre estar comigo, eu juro que honrarei cada última palavra que você me disse.

- Dr. Hunt, posso lhe perguntar uma coisa? – Um homem um pouco mais alto que eu, eu parecia ser um pouco mais novo que meu pai, com cabelo num tom escuro mesclados com uns fios grisalhos que estavam começando a aparecer. Seus olhos azuis estavam ofuscados por olheiras bem destacadas em seu rosto junto com o cansaço, me fitou e assentiu me guiando a um lugar menos movimentado.

- Ele está sofrendo? – Apontei para a porta de vidro do quarto, onde meu pai estava deitado.

- Ele não está sentindo nada, este totalmente sedado e...

- Não foi isso que lhe perguntei, ele não para de ter paradas cardíacas, e tem mais máquinas em volta dele do que em uma sala de computação, o que está acontecendo com meu pai doutor?

O homem na minha frente soltou um grande suspiro, como se tivesse seis toneladas em seus ombros. – Seu corpo não está respondendo bem a cirurgia, seus órgãos estão falhando aos poucos, e somente o que mantém ele respirando são as máquinas.

- Portanto ele está sofrendo.

- De certo modo sim, ele está.

- Então, eu peço que desligue todos os aparelhos e deixe-o ir. Ele já lutou tudo que pode, não merece mais sofrimento, todos estão muito exaustos.

- Mas você não pode, tire um tempo para pensar e talvez ele melhore.

- Eu já sou maior de idade, fiz meus 18 anos a pouco mais do que quatro horas. E já tomei minha decisão, e esta é: que meu pai enfim descanse.

Ele me encarou por um tempo, vendo que não iria mudar de ideia, me acompanhou para o quarto, me deu um papel de consentimento. Deu-me um tempo com meu pai para me despedir e desligou tudo, então escutei a máquina apitar continuamente e vi a uma linha reta no computador acima de sua cabeça.

- Hora da morte, 4h02min.

O Segredo de Lis (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora