Capítulo 7

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Acordo num susto com o barulho da chaleira assobiando, antes de ir matar qualquer pessoa que possa ser, os então os acontecimentos da noite passada vêm em minha cabeça. – Meu Deus, eu dormi com ele. Por quê? Como? – Eu não dormi com o irmão caçula da melhor amiga. Não. Eu não dormi, repito para mim mesma como um mantra enquanto me aproximo do banheiro.

Tente ver o lado positivo Lis. – Qual seria? Kiara sempre diz que tudo na vida tem o lado ruim, mas para o equilíbrio, tem se também o bom. – Eu o conheço, e para ele eu sou somente uma estranha do bar. Vai ter de bastar, por ora, como ponto positivo.

Deixo a água escorrer pelo meu corpo enquanto vou me recordando dos acontecimentos das últimas 24 horas. - Bar. Álcool. Música. Álcool. Casa. Cozinha. Roupas. Mãos talentosas. Gemidos. Cama. Homem delicioso. Mais gemidos. Sexo delicioso. Vizinhos gritando. Êxtase.

Quinze minutos depois estou com uma toalha enrolada na cabeça, jeans, sutiã preto e indo em direção a lavanderia.   No caminho da cozinha já sinto o cheiro de café fresco, ao me aproximar da bancada vejo-o preparar torradas com a geleia de morango que deve ter achado na geladeira. – Só o vi duas vezes, é já dormiu na minha cama, e tomou conta da minha cozinha – respiro fundo e aperto mais meu roupão no corpo.

Eu o analiso enquanto me aproximo, ele é um pouco mais alto que eu, forte mas não muito musculoso, um castanho escuro nos cabelos que acompanham aquele olhar da íris mais escura e viciante que já conheci.

- Sempre domina a cozinha das mulheres com quem dorme? – Ouço rir antes de responder. E que sorriso de desestabilizar qualquer mulher.

- Bom dia, querida. – QUERIDA? Mas o que?

- Não sou sua querida, mal te conheço. Só vi você duas....

- Eu não falei que era minha. – Ele murmura algo mais, porém não consegui escutar, então o ignoro.

Queria mandá-lo embora, empurrar porta a fora, mas vou tomar café primeiro. Até porque não se nega comida – NUNCA - e como foi ele quem preparou, vou ser justa e deixar que ele fique. Mas que fique claro, ele só fica por causa do café da manhã, não tem nada a ver com o fato de ele ter proporcionado o melhor sexo da minha vida em semanas. Ok, em meses.

Felippe

Ouço a chegar devagar por trás da bancada da cozinha, mas continuo a preparar as torradas com geleia. Ela é uma mulher totalmente diferente do que estou acostumado a dormir, vejo a de soslaio se aproximar enquanto sirvo o café - Apesar de alta e magra, tem curvas que deixam meu corpo sedento pelo dela. Com um longo cabelo que vai até suas costas, com as pontas cacheadas de uma coloração marrom escuro com algumas mechas mais douradas, sua franja vai até o queixo, mas como é cacheada encurta alguns mínimos centímetros – sempre caindo nos olhos. Estes quais são uma cor de mel com um toque de verde, nariz e orelhas pequenas, mas que combinam com o conjunto da arte. E para finalizar, uma boca mais carnuda que tem um leve pigmento rosado.

- Sempre domina a cozinha das mulheres com quem dorme? – Ela diz ao me olhar enquanto pega a xícara no armário. Não só cozinha, minha querida, rio pra mim mesmo.

- Bom dia querida.

- Não sou sua querida, mal te conheço. Só vi você dua....

- Eu não falei que era minha.... Ainda - digo isso num murmúrio, e como ela para de falar acho que não ouviu.

- Espere, você disse duas vezes? Quando foi isso?

- Eu disse? Foi um equívoco, sabe de manhã não penso direito e falo besteiras.

- Você parecia bem certa do que falava.

- Eu também ouvi minha querida, e você negou a pouco, certo?

Concordei em silêncio, ficamos em um silêncio por um tempo que parecem ser horas, mas eram só segundos, enquanto encarava seus olhos cor de mel, então começo a escutar um barulho estranho. – BIP! BIP! – Mas o que é esse barulho?

Aqueles olhos ternos e calmos, depois da minha pergunta, ficam arregalados. – Devem ser as gêmeas! - Ela pula como se tivesse sido ejetada da cadeira a procura do barulho estranho. Até que pega um aparelho pequeno na mão, que está piscando na minúscula tela, e apitando.

- Gêmeas?! – Pergunto confuso, ela tem filhos?

- Meu Deus! Preciso correr para o hospital. Preciso ir. – Hospital? Gêmeas?

Ela sai do quarto, tão rápido quanto entrou vestida com uma calça jeans e camisa, enquanto segura um sapato em uma mão, e sua bolsa e chaves na outra.

- Eu tenho que ir, tch... – Ela para bruscamente na porta, me olhando por um tempo, ainda parado no meio da cozinha sem entender nada. – A casa é minha, você também precisa sair, ande logo, tenho que correr.

Olho no relógio da cozinha são apenas 07h15min da manhã, essa mulher estava correndo para o hospital por causa de crianças, e recusa em me dizer por que e de onde já me conhecia. Que mulher misteriosa você arranjou nesse bar Felippe?

- Mas não são nem 8 horas de um domingo, o que tem para fazer num hospital?

- Não tenho tempo de explicar, agora saia, por favor, preciso fechar a porta. – Ela não tem tempo nem de explicar, porque tinha que sair às pressas para o hospital?

- Você fala como se fosse caso de vida ou morte. – Seu rosto de preocupação parece agora ter uma mistura de raiva. O que eu disse? Só estava brincando.

- FELIPPE EVANS EU MANDEI SAIR AGORA!

Ela me empurra porta a fora, colocando meus pertences em meu colo enquanto fecha a porta em três lugares diferentes e sai correndo pelo corredor em direção as escadas. E grita no final do corredor alto o bastante para eu ouvir – Obrigada pelo café, estava tão delicioso quanto à refeição da madrugada!

A mulher gritou, me empurrou porta a fora, e depois me agradece? Eu perdi alguma coisa, certo? – E como diabos ela sabe meu nome? 

O Segredo de Lis (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora