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Ir aquela festa provavelmente foi uma das minhas piores ideias. Era a conclusão que eu chegava ao observar sentado num canto mais distante da varanda.

Lá dentro estava lotado. Havia música alta, algumas luzes espalhadas em cantos estratégicos que provavelmente os seus irmãos haviam posicionado afim de que o lugar lembrasse uma boate. Lembrava. Pena que sempre detestei danceterias e afins que só serviam para me causar dor de cabeça.

Quando cheguei, você me recebeu com um daqueles seus abraços fortes que eu tanto gostava. Lembro-me como tinha sorrido e me oferecido uma das bebidas que segurava, falando a todo o instante como não acreditava que eu viria. Era notável que já havia bebido um bocado e me permiti pensar que bom, se seria assim a noite toda, eu poderia aguentar. Você parecia tão lindo sob as luzes coloridas... Mesmo que a música alta tornasse a conversa difícil, só por te por perto valeria a pena.

Durou tão pouco...

Logo o lugar começou a lotar. Havia gente da faculdade, familiares e uma boa quantidade de pessoas que eu nem podia imaginar de onde poderiam ser. Mas claro, todos te conheciam. Todos queriam a sua atenção. Suportei algumas falsas bêbadas com voz irritante te chamando melosamente para dançar, e até mesmo alguns dos caras da faculdade puxando assunto na minha frente sobre coisas que eu não entendia soltando todo o tipo de jargão, até que chegou a gota d'água.

Kim Heechul.

Seu melhor amigo de infância, o abraçou por trás, apoiou preguiçosamente a cabeça no seu ombro de lhe deu um beijo estalado na bochecha e disse alguma coisa no seu ouvido. Você sorriu, eu fechei a cara.

Só então Heechul pareceu me notar e deu um daqueles sorrisos arrogantes que eu detestava.

- Você não importa se eu roubar o Hae um instantinho, né? – Elevou a voz para que eu o ouvisse mesmo em meio a música. Talvez fosse paranoia, mas senti uma pontada de sarcasmo. Ele não esperou que eu respondesse e observei enquanto os dois se afastavam. Você tentou se desculpar com o olhar, mas eu prestava mais atenção ao sorriso bobo que você dava ao seu hyung.

Eu neguei para mim mesmo que estava com ciúmes. Não tinha esse direito. Nunca havia sentido esse sentimento de posse por alguém. Ainda sim, não podia negar o quanto estava irritado. Quer dizer, você era tudo para mim, desde muito tempo. Odiei você por não perceber, por nem desconfiar. Odiei a mim mesmo por nunca te deixar saber. O que eu era para você no fim das contas? Nem mesmo o amigo mais importante. Não havia um relacionamento. Não havia nada. Eu só podia te observar de longe sorrindo como um babaca para um outro babaca mais velho.

Heechul era um teste aos meus limites desde de sempre. Ele o conhecia há muito mais tempo que eu, além disso era mais bonito, mais bem sucedido e com certeza muito mais ousado do que eu. Kim tinha aquela mania irritante de skinship e, quando eu o indagava sobre isso, você só dava de ombros e dizia "mas ele faz isso com todo mundo". Não gostava do jeito como ele encostava em você. Não gostava do olhar que ele lançava para mim como se me desafiasse a fazer melhor, principalmente porque eu sabia que não conseguiria. Heechul e eu havíamos passado grande parte da nossa infância disputando pela sua atenção sem que você percebesse. Agora, mais velho, ele parecia saber exatamente o modo como eu me sentia sobre você, e isso só tornava o desafio melhor para ele.

De onde eu estava podia ver vocês dois rindo, a mão dele ao redor do seu ombro, os sorrisos cúmplices. Se você fosse doce com ele do mesmo modo que era comigo, em pouco tempo seriam um casal.

Entornei a bebida toda de uma vez. Não foi suficiente. Subitamente, precisava de mais.

Não sei quantos copos foram virados até que você voltasse. Sentou ao meu lado sem dizer nada. Minha expressão não deveria ser boa.

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