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Não falamos sobre seu aniversário no dia seguinte. Lembro-me de como você acordou com uma ressaca daquelas e não parecia se lembrar com detalhes de tudo. Fingi para mim mesmo que não estava decepcionado. Era minha culpa no fim das contas. Iludir-me a toa.

Afoguei-me em trabalho o resto da semana. Fiz algum esforço sim, para te evitar. Dormia mais cedo para que você não me encontrasse acordado, levantava só depois que você saia para a faculdade. Algumas mensagens eram trocadas, porém nada além o básico era dito. Não era como se você parecesse interessado em me ver, de qualquer modo.

A sexta-feira chegou. Você se pôs a arrumar as malas para passar o fim de semana em casa, como sempre fazia.

- Os meus irmãos chegam hoje... - Disse sem se virar enquanto eu o observava apoiado no umbral da porta. - Eles querem dar uma festa, no domingo. Para o meu aniversário, sabe? Eu disse que não precisa, mas eles querem fazer mesmo assim. Acho que é só uma desculpa pra farra.

- Na sua casa? - Perguntei só por educação. Eu não ia e você sabia. Sempre havia odiado festas.

- Sim. Omma, não vai estar, claro. Mas o restante vai estar lá. Eles perguntaram de você. Queriam muito que você fosse.

- Só eles? - Insisti, tentado dar o melhor tom de brincadeira que podia. Eu só podia ser algum tipo de masoquista, viciado em conseguir qualquer detalhe que fosse para alimentar a minha ilusão de que ainda podia ser real. Você sorriu o meu sorriso preferido.

- Só não seja um velho, Hyuk-ah. Eu vou te esperar lá. Vai ser legal.

Não acreditei e depois de um tempo o levei até a porta. Ao fechá-la a casa ficou insuportavelmente vazia. Você só retornaria na segunda. Três dias.

Passei o resto da sexta feira no estúdio. Uma tortura. Não havia concentração. Não havia inspiração. As horas não passavam.

Era assim toda a vez. Você ia e eu precisava encarar o quão dependente eu era da sua presença.

O toque do meu telefone ecoou no silêncio. Desejei tanto que fosse você. Claro que não era. Meus pais reclamavam. Há quanto tempo eu não ia em casa? Eu não sentia saudade?

Eu nunca gostei realmente de casa. Por isso saí o mais rápido que pude. Até estar sozinho era melhor do que estar com eles, eu repetia para mim mesmo. Era? Não parecia agora.

Em algum lugar que ouvi dizer que pais sempre sabem como te por para cima. Pais apoiam. Pais sabem como curar as nossas feridas. Pais sempre nos aceitam.

Os meus já estavam ficando velhos. Talvez eu devesse cuidar deles. Quantas vezes você já havia me mandado ir vê-los? Sempre faltava coragem. Não era um filho bom como você, jamais fora na verdade. De qualquer forma, minha intuição me disse que não poderia ser pior que o silêncio da casa vazia. Então eu disse que iria, e a voz da minha mãe comemorou do outro lado da linha. Seria bom.

Penteei cuidadosamente o cabelo, e botei até um pouco de gel para não correr o risco de deixar que o vento o bagunçasse. Botei minha melhor roupa, não queria que pensassem que eu estava vivendo mal. Pus o sobretudo por cima e fui.

***

- Você ganhou peso. - Foi a primeira coisa que minha mãe quando eu tirei o sobretudo e o pendurei. - Anda exagerando nos doces, não é? Quantas vezes eu preciso lhe falar, você tem essa tendência, por causa da família do seu pai... Você precisa se controlar, HyukJae. E esse cabelo, você penteou isso? Ah, meu bebê, não se preocupe, enquanto você estiver aqui, mamãe vai cuidar de você. Venha, vamos lhe deixar um pouco mais apresentável...

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