Página I

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Eu encontro forças em algum lugar para levantar. Lavo o rosto e escovo os dentes sem me preocupar em comer alguma coisa. Dispo-me e em seguida permito que a água caia fria, para me despertar de uma vez. Boto uma roupa qualquer no quarto e apenas agito os cabelos curtos, esperando que isso os faça secar mais rapidamente.

Pouso meus olhos pela cama desarrumada e decido deixa-la exatamente assim. Numa mensagem no celular você avisa que já chegou na faculdade e se desculpa por não ter se despedido – você me viu dormindo com um sorriso e não quis me acordar.

Agradeço mentalmente, sem conseguir imaginar o que aconteceria se ainda tivesse que ver seu rosto após o sonho. Foi melhor ter que encarar isso sem mais ninguém. Saber que você não está em casa, me alivia um pouco. Quer dizer que eu posso andar por aí e parecer triste sem ter que dar maiores explicações.

Eu respondo a sua mensagem de um jeito que não levante suspeita, não é difícil. Faço isso há muito tempo. Passo pelo seu quarto, percebendo sua cama impecavelmente arrumada e sigo para o estúdio. Eu tenho que começar um capitulo novo do meu shoujo para entregar a editora e ainda não faço ideia de por onde começar. Solto um suspiro. O próprio desastre amoroso, escrevendo um romance.

Seria engraçado se não fosse triste. Eu acharia realmente cômico, se não fosse comigo.

Porém é meu trabalho e eu sei que tenho que fazê-lo. Por um instante desejei ser bom o suficiente para ser aceito numa editora de shounen, mesmo sabendo que não levava o mínimo jeito para a coisa. Seria bom desenhar algo relacionando a sangue com uma quantidade considerável de violência e sem nenhum sentimentalismo por trás. Menos irônico.

Soltei uma risada.

Eu saberia que haveria mais falatório do qualquer outra coisa e que os garotos leitores acabariam no mínimo irritados com a falta de ação. Me concentrei no que tinha que fazer, fazendo alguns traços aleatórios até o enredo do storyboard me vir a mente e eu me por a fazê-lo quase que por instinto. O dia passou rápido.

A porta e as janelas fechadas espantavam qualquer barulho. Eu costumava odiar o silêncio, mas estava tão perdido na história que sequer o notei.

Até, é claro, que ele tivesse sido quebrado. A porta abriu e fechou na sala. Procurei instintivamente o celular e dei de ombros ao notar que ele estava além da minha vista. Você tinha chegado. Eu o ouvi abrir a porta do cômodo com cuidado. Não me virei, sabiendo que você pretendia me assustar (ainda que eu tivesse lhe explicado por que você não deveria sequer tentar quanto eu estava com a caneta a nanquim na mão). Eu ouvi os seus passos até a cadeira, suas mãos rapidamente tocando meus ombros enquanto seus lábios soltavam um "boo". Me virei e me forcei a manter a expressão mais séria possível enquanto observava sua careta que provavelmente pensava em como seu truque perfeito havia falhado.

- Você é um estraga prazeres, Hyuk-ah. – Disse depois de um tempo. – Mas eu te perdoo, se você me alimentar.

A expressão em seu rosto deixa obvio que sabia que eu lhe daria o que quer que me pedisse, mas eu não queria ceder tão rápido. Sabia que fitar seus os olhos castanhos só me trariam mais problemas, então desviei deles, voltando a olhar para o projeto.

- Não deu tempo de almoçar hoje, Hae?

- Deu, mas eu almocei no horário do almoço. – Deu de ombros revirando os olhos. Você sabia como podia ser fofamente redundante às vezes? – Você ao menos sabe que horas são?

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