Fica comigo esta noite?

Cinco

Quando cheguei em casa, Alice já estava dormindo, tomei um banho e me deitei, mas o sono definitivamente não parecia vir tão cedo.

O celular despertou me fazendo pular da cama ao perceber que estava atrasada, corri para o chuveiro, e comecei a me arrumar, Alice já tinha saído, e não faço ideia do motivo de não ter me esperado ou me acordado.

Entrei na emissora e não a vi, estava quinze minutos atrasada, e nem pude tomar café da manhã. Corri para o ateliê, e comecei a organizar as coisas antes que Christian chegasse, e surtasse com meu atraso.

A correria da manhã foi tão intensa, que quando tive a oportunidade de parar para tomar café, já era quase no horário do almoço, degustei calmamente daquele gole de café fresco, tentando aliviar a fome, quando vi Alice de longe, e rapidamente tomei o último gole queimando a língua, e correndo até onde ela estava.

— Alice... — Ela fingiu não ouvir e continuou a andar pelo corredor o mais depressa possível. — Inferno, que diabos você tem, Alice?

Apressei os passos até conseguir segurar seu braço, seus olhos estavam avermelhados, ela andou chorando?

— O que houve? Pode me falar?
— Nada.
— Nada? Como nada? Você me deixou perder a hora, o que aconteceu que você não me acordou? Por que está me evitando?

Alice suspirou, virou as costas, e continuou andando, eu a segui e puxei-a para a sala de equipamentos, que no horário estava vazia.

— Fala de uma vez, Alice.

Ela olhou nos meus olhos, e suspirou, sabia que não podíamos ficar ali paradas, e também sabia que eu era teimosa o suficiente para não sair de lá sem que ela dissesse os motivos que a fizeram se zangar, embora eu já imaginasse do que se tratava.

— Você mentiu para mim.
— Eu não voltei com a Alana.
— Não conte mais comigo quando ela fizer novamente o que fez.
— Alice, não assumimos nada, além do mais você sabe que eu a amo.
— Assim como sabe que ela não se importa com isso. Ao menos não se importou quando resolveu te trocar por aquela garota riquinha.
— Você tem toda razão em ficar assim, mas confia em mim, sério.
— Eu não confio mais em você.

Alice bateu a porta me deixando perplexa, eu nunca a vi assim em todos esses anos de amizade, sei que se tratando dela, quando o ranço instala, nem antivírus resolve. Respirei fundo e saí dali voltando para o trabalho.

O dia passou lento, e incômodo, por mais que eu tentasse, não conseguia não pensar o quanto Alice estava chateada, e isso me feria de varias formas. Nós éramos amigas, e sei o quanto ela sofreu quando Alana me fez sofrer, e o quanto ela me ajudou a superar a fase complicada.

Com todo aquele mal estar, eu consegui evitar meu problema maior, Elisabeth. Me ocupei com outras coisas, fiz alguns trabalhos externos, e com isso, passei o dia todo sem vê-la. Apaguei as luzes da sala, peguei minhas coisas e saí.

Abri a porta de casa deixando minhas chaves penduradas no porta chaves que ganhei da Alana em um dia quente de verão, em que fomos às compras quando estávamos planejando morarmos juntas, o que nunca aconteceu. Alice estava cozinhando concentrada, e continuava a me ignorar.

— Vamos resolver esse impasse, ou quer que eu me mude? — Eu estava sendo radical, sim, mas porque sei exatamente como lidar com Alice, ela só entende as coisas quando eu exagero assim como ela.
— Não temos nada pra resolver.
— Tudo bem.

Virei as costas, e entrei para o banheiro, tirei a roupa e lavei o rosto com água fria, minha pele estava com marcas, preciso urgentemente de uma limpeza de pele, preciso cuidar mais de mim, o excesso de trabalho estava me deixando com uma aparência mais velha.