Vinte e quatro

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— Alice, você deu queixa dele pra polícia?
— A polícia foi chamada, eu relatei o acontecido, mas disse que não sabia quem foi.
— Então vamos fazer isso.
— Esquece, Madalena. Não vou a lugar algum.
— Mas é claro que vai. Você viu sua situação? Vai esperar que ele faça algo pior?

Ela deu de ombros, e secou as lágrimas tímidas que insistiam em molhar sua face. Eu fui até o quarto e me vesti, penteei os cabelos e coloquei um tênis confortável.

— Vamos.
— Esquece isso, estou bem.
— Alice, por favor.

Ela me olhou, e eu ajudei a se levantar. Não trocamos muitas palavras no trajeto até a delegacia, ao chegar lá, demoramos bastante para sermos atendidas. Depois da Alice passar algum tempo em uma sala relatando o acontecido, ela saiu com um papel em mãos.

— Tudo bem?
— Sim. — Disse se sentando enquanto eu tentava chamar um táxi.

Quando chegamos em casa, eu fiz um chocolate quente para nós. Tentei conversar com ela, mas ela estava abalada demais para falar, e respeitei seu momento.

Fiquei pensando se deveria procurar a Elisabeth para entender o que estava acontecendo, e até mesmo contar o que Charles fez, mas eu estava cansada para isso, e resolvi pensar melhor no dia seguinte.

Não era fácil viver esse momento de incertezas e medo, e também não sei se eu conseguiria ficar em paz ao lado da Elisabeth sabendo tudo o que essa relação pode nos trazer.

Acordei um pouco tarde, demorei muito para conseguir dormir na noite anterior, e vi que Alice não estava na cama. Me levantei um pouco sonolenta e a vi sentada no sofá, ela parecia não estar bem.

— Já tomou café?
— Sim.
— Precisa de alguma coisa? Você está tomando remédio? Está com dores?
— Madalena... — Ela iniciou um choro sentido e me sentei. — Não precisa ter pena de mim.
— Não é pena, as coisas não são assim.
— São sim. Estou bem, eu consigo me virar, agradeço por se preocupar comigo, mas de verdade, não precisa. Isso só aconteceu porque eu procurei.
— Alice, nada justifica o que ele te fez.
— Assim como nada justifica o que eu fiz a você.

Fiquei em silêncio e me levantei indo para o banho. Eu não estava bem vendo-a tão mal, sabia sim que ela tinha errado comigo, mas jamais desejava que acontecesse algo desse tipo com ela, e com ninguém. Independentemente de qualquer coisa, eu a considero muito, e sei reconhecer tudo o que ela já fez por mim. Tentei relevar esse momento que ela estava passando, e fui tomar café da manhã.

Estava na sala sentada no chão e pesquisando umas coisas no computador, quando vi que Alice pedia um táxi. Olhei para ela e esperei que terminasse a ligação.

— Vai sair?
— Preciso ir no hospital.
— Vou com você.
— Não precisa. Já disse que sei me virar.

Ignorei e me arrumei, acompanhando ela até lá. Após alguns exames, identificaram a necessidade de uma cirurgia na mão. Passei a tarde toda no hospital, e assim que ela entrou para a cirurgia, eu decidi sair para comer alguma coisa.

Sophie: Oi Mada, como a Alice está? Quando eu sair do trabalho passo por aí e já aproveito para pegar o atestado dela.
Eu: Ainda não sei, a cirurgia começou há 15 minutos.

No início da noite Alice já estava no quarto, Sophie tinha chegado e estava ao meu lado. Conversamos um pouco sobre o assunto, e expliquei o que aconteceu, não dei muitos detalhes sobre meu encontro com a Elisabeth, mas falei superficialmente sobre o ocorrido.

— Sinto muito por tudo, imagino como deve ser complicado.
— Confesso que estou com medo. — Disse sendo sincera, encarando o vazio. — Não consigo acreditar que ele foi capaz de agredir a Alice. Capaz de me ameaçar...
— Mas como aconteceu isso?
— Ela não quis me dizer, nossa relação já não estava bem, e não estamos nos falando direito.

Fica comigo esta noite? Onde histórias criam vida. Descubra agora