Fica comigo esta noite?

Trinta e nove

— Está tudo bem? — Questionou ela ao me ver entrar.
— Sim.

Dirigi até o hotel, pegamos as chaves e subimos. Tirei a roupa indo para um banho rápido, eu estava cansada. Me deitei um pouco, e fechei os olhos. Alice estava no banho, eu só queria esquecer aquela maldita ligação.

Acordei pouco depois, Alice estava ao meu lado cochilando. Olhei alguns minutos para sua pele bronzeada, seu rosto assimétrico, seus traços perfeitamente desenhados. Ela era linda, da forma ampla da palavra.

Abracei ela beijando seu pescoço e mexendo nos seus cabelos desgrenhados, ela acordou um pouco sonolenta e me abraçou.

— Acorda, vamos jantar, estou com fome.
— Vai me dizer o motivo de ter voltado estranha da misteriosa ligação?
— Que ligação?
— Madalena, por favor. Eu conheço você.
— Tudo bem. Eu ia falar com você, apenas não queria acabar com nossa noite, com o nosso jantar.
— Era Elisabeth?
— Sim.
— Meu Deus, que mulher insistente! E você também precisava atender? O que é? Não consegue ignorar a estrelinha?
— Atendi justamente para ela não ligar mais.
— O que ela queria?

Eu fiquei em silêncio e me levantei, procurando alguma coisa na mala para me vestir.

— Madalena, te fiz uma pergunta.
— A gente precisa falar disso agora?
— Ainda estamos juntas? Se a resposta for sim, então óbvio que precisamos falar sobre.

Eu coloquei um short curto com um camisão longo, me aproximei da cama e olhei para ela.

— Elisabeth me ligou chorando, pedindo para conversar, dizendo que me amava, e que abriria mão de tudo para voltarmos.
— E você?
— Alice, eu disse que conversaria com ela, mas não vou. Tudo o que eu tinha para resolver, já resolvi.
— Então pra que mentir? Qual a necessidade de ficar alimentando uma esperança que não é verdadeira? Não sabe ser firme, ou está balançada?

Eu olhei para ela em silêncio, ela tinha razão, mas no momento eu fiquei nervosa, disse apenas o que ela queria ouvir, e errei completamente em fazê-la imaginar que alguma coisa mudaria entre nós.

— Sabe de uma coisa? Eu que não quero mais.
— O que?

Eu estava me arrumando para sairmos para jantar, e me virei olhando para ela, vendo-a retirar a aliança irritada.

— Alice, o que está fazendo?
— Deixando o caminho livre para Elisabeth. Vocês se merecem.
— Você tem razão em estar irritada, mas não a ponto de...
— Terminar? Eu não nasci para ser segunda opção de ninguém, Madalena. Estou cansada de me sentir insuficiente, cansada de pensar que você só está comigo porque a Elisabeth é uma tremenda filha da puta. E quer saber? Você também.
— Alice, por favor, isso não é verdade.
— Por favor digo eu, esse assunto já deu, eu só quero voltar para casa.

Eu tentei conversar com ela, mas foi inútil. Ela estava magoada e com toda razão, e até chorou me fazendo me sentir ainda pior. Arrumamos nossas coisas para ir embora, fui até a mesa de cabeceira e peguei a aliança que ela tinha retirado deixando para trás, pegamos estrada ainda no fim da noite.

Eu estava nervosa, me sentia idiota, e estava angustiada. Alice estava ao meu lado, mas como uma completa desconhecida, o silêncio entre nós era torturante. Afinal, o que eu deveria fazer? Ignorar completamente Elisabeth? Ela estava chorando, e aquilo me cortou por dentro. Por mais que nossa relação não fosse lá perfeita, não posso deixar de me lembrar dela com carinho, e nem esquecer os momentos bons que vivemos.

Eu não me sentia a vontade de dirigir a noite, mas ela estava tão nervosa que não pensei duas vezes antes de ser irresponsável a ponto de pegar estrada, e agora estava ainda mais tensa após ouvir um barulho no carro. Parei no acostamento, peguei o celular para iluminar e tentar ver o que havia acontecido, a estrada não tinha iluminação nenhuma, e eu estava tentando me manter calma. Dos males o menor, o pneu tinha furado, e eu iria tentar trocar.