A Descoberta

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* * * Santuário de Atena - Arredores de Atena, Grécia * * *



Casa do Grande Mestre, Sala do Mestre


Era de manhã, eu estava em mais uma reunião na grande Sala do Mestre. Na verdade eram relatórios diários, que meus Cavaleiros de Ouro me passavam sobre as atividades que eu havia designado para cada um.
Faz três anos que eu os trouxe novamente à vida, o que de longe foi a melhor decisão que tomei depois da batalha contra Hades. E, graças aos deuses, estamos no mesmo período em tempos de paz sobre a Terra.
Não conseguia aceitar perdê-los para a morte. O que seria de mim, deusa Atena, sem meus doze Cavaleiros de Ouro?
Na verdade agora eram quatorze, contando com Shion de Áries e Kanon, irmão gêmeo de Saga. Não podia deixá-los, provaram ser fiéis e foram decisivos em nossa vitória! Dohko e Shion não estavam no Santuário, deixei-os livres, duas Batalhas Santas já foram o suficiente. Kanon completava o Santuário, permanecendo os doze cavaleiros que protegiam a mim, a deusa Atena.
Mas não era porque não haviam guerras que não existiam conflitos, ou melhor, que EU não vivia em conflitos... Cheguei à conclusão que eu estava sendo penalizada pelos deuses por ter ressuscitado meus amados cavaleiros...
Percebi que, há um bom tempo, algo havia mudado em mim. Não que no meu auge dos vinte e um anos eu não tivesse mais poderes, nem nada assim, mas sentia que minha parte humana estava se sobressaindo à de deusa. Meu corpo almejava algo mais, e disso eu não tinha mais nenhuma dúvida.
Não conseguia me concentrar nos relatórios que eram me passados pelos cavaleiros e me concentrava "apenas" no guerreiro que me repassava as informações... Eu tentava com todas as minhas forças me concentrar, mas era uma batalha perdida, então desisti de fazê-lo e apenas fingia prestar atenção no que era me passado. Geralmente, com nove deles era mais fácil manter o foco, mas com os outros três temia estar fracassando vergonhosamente, como agora...
Em posição de reverência, como o de costume ao me repassarem as informações, eu só conseguia observar como era lindo o homem alto de pele clara, com lindos cabelos lilases e olhos verde- escuros, seus dois pontos circulares acima das finas sobrancelhas... ele poderia falar o dia todo que eu não me importaria, seu cheiro me tirava momentaneamente da sala.
Ah! Esse cheiro maravilhoso de lírios recém-colhidos que me inebriava... mas tinha que me lembrar que estava na sala com mais onze cavaleiros nos observando...
(Mu) – E por fim, peço autorização para levar os suprimentos para as vilas atacadas pelas enchentes.
Definitivamente, estava perdida, não havia salvação para mim. Mantendo a calma, respondi:
(Atena) – É claro que tem minha autorização, Mu. Peça para a sua equipe de Cavaleiros de Prata que levem o mais rápido possível e, se precisar de mais alguma coisa que julgue ser necessário, já tem minha pré-autorização para fazê-lo. – disse mantendo minha falsa postura de serenidade.
(Mu) – Obrigado, Atena, vou providenciar imediatamente.
Ele me agradeceu fazendo uma reverência.
Sim, definitivamente ele era muito bonito! Hora de encerrar essa reunião, antes que fiquem na cara meus desejos impulsivos!
(Atena) – Eu agradeço a todos. Mais uma vez, estão fazendo um excelente trabalho. Podem retornar às suas casas.
Encerrei a reunião.
Todos me fizeram uma reverência e saíram, a Sala do Grande Mestre aos poucos foi ficando vazia... O último a sair foi o Cavaleiro de Áries que me olhava nos olhos por alguns segundos e disse, com a voz pacífica de sempre:
(Mu) – Com licença, Atena.
Ele se levantou e saiu.
Por um momento, podia jurar que Mu sabia o que se passava na minha cabeça!
Andando de um lado pro outro na frente do trono, eu estava realmente preocupada. Não sabia dizer qual foi minha última noite de sono normal, tinha a sensação de que o meu cosmo oscilava como se estive em constante briga com meu corpo. Minha paciência ia se esgotando com essa briga eterna e desnecessária.
Minha pele ardia como se eu estivesse febril durante o dia, mas nada se comparava ao período da noite, quando eu parecia estar sem nenhum domínio pelo meu corpo. A vontade de invadir uma das doze casas e exigir que saciassem minhas necessidades imediatamente era imensa e precisava de toda minha energia para não fazer tal depravação, somente depois de muita luta eu dormia, não, eu desmaiava.
Não sei até que ponto uma deusa insana serviria para o Santuário, porque tinha certeza de que minha sanidade já fez as malas e iria me abandonar a qualquer momento!
Escutei os passos da armadura de ouro contra o piso branco de mármore. Mesmo de costas para a porta eu sabia quem estava na Sala do Grande Mestre... esse perfume eu conhecia muito bem, lírios...
(Mu) – Atena, me perdoe por não estar na minha casa como ordenou que fizéssemos.
Estou muuuuuito encrencada agora! Me virei para olhar para o cavaleiro em posição de reverência que estava a menos de 2 metros de distância... que cheiro bom que ele tinha!
(Atena) – Não se preocupe Mu, em que posso ajudá-lo?
Pelo menos controle na voz eu ainda possuía.
Mu me disse calmamente:
(Mu) – Atena, me desculpe a intromissão, mas estou preocupado com a sua saúde.
(Atena) – E por que estaria preocupado com a minha saúde? Estou parecendo doente? – disse preocupada que minhas noites mal dormidas estivessem na cara o tempo todo.
(Mu) – Digo isso pelo seu cosmo, ele está oscilando além do normal, está doente ou como se estivesse em batalha, por isso a minha preocupação! Ainda não é perceptível aos outros, mas não pude deixar de notá-lo. – me disse olhando nos meus olhos em busca de respostas.
Fiquei sem palavras porque não havia palavras bonitas que descrevessem toda a imoralidade sonhada nestes últimos anos, incluindo o cavaleiro que demonstrava tamanha preocupação com a sua deusa.
Sentei no trono e abria a boca e fechava sem que nenhuma palavra realmente fosse proferida. Por fim, respondi:
(Atena) – Mu, não precisa se preocupar, realmente não estou bem como pôde perceber, mas não é nada grave, estou tentado resolver esse problema!
Foi o mais perto que consegui chegar da verdade.
(Mu) – E não há nada que eu possa fazer para ajudá-la? – me perguntou preocupado.
Foi uma simples pergunta, mas o suficiente para ativar a maldita válvula do desejo! Onde a minha vontade de responder simplesmente seria: "SIM, você pode me ajudar, e muito!"
Eu olhava seu lindo rosto, os olhos verdes brilhando como duas esmeraldas... Ah, Mu! Tão perto de mim!
Minha respiração oscilava, devido às várias cenas passando em minha mente...
(Mu) – Seu cosmo está oscilando, sua pele está ficando corada!
Mu se levantou rapidamente da sua posição de reverência e tocou no meu rosto, como se quisesse verificar se eu estava com febre.
O toque da sua mão na minha face pareceu um bálsamo na minha pele, trazendo a sensação de alívio que eu tanto almejava. Encostei o rosto na direção da sua mão macia e fechei os olhos, aproveitando cada segundo daquele toque suave, tinha certeza que suspirei ao seu contato.
Abri meus olhos e vi um Mu de olhar chocado, me observando de volta a menos de meio metro de distância do meu rosto.
Foi então que eu entendi que, ao me tocar, ele teve acesso aos meus pensamentos. A todos eles!
Depois de um momento de choque com as cenas que viu em minha mente, ele voltou ao semblante habitual de serenidade.
(Mu) – Me perdoe, Atena, não tive a intenção de invadir sua mente.
Ele voltou à sua posição de reverência.
Levantei do trono e comecei a andar de um lado para o outro novamente.
(Atena) – Eu que lhe devo desculpas, Mu. Eu não conseguiria falar sobre isso mesmo... Pelo menos alguém entende o que de fato está se passando comigo! Não se preocupe, estou tentando resolver esse problema.
Respondi tentando me convencer desta baboseira.
(Mu) – Com todo respeito, Atena, não é um problema que se resolve sozinha! Além do mais, se seu cosmo continuar oscilando desta maneira, será perceptível aos outros! Essa oscilação está consumindo o seu cosmo!
Mu falava enquanto eu continuava andando.
(Atena) – Meu cosmo está sobre controle, Mu. Não se preocupe!
Parei de andar, cruzei os braços e o olhei tentando passar credibilidade.
Então, Mu se levantou e parou na minha frente:
(Mu) – Me desculpe por isso...
Foi o que disse e em seguida seus lábios macios encostaram nos meus! Meu nariz tocou a pele suave e pude sentir da fonte o maravilhoso cheiro de lírio que emanava de sua pele branca.
Minhas pernas logo cederam ao contato, Mu me segurou em seus braços com delicadeza.
E, sim, o Grande Salão clareou por um momento! Consegui ao menos ficar em pé, um milagre, diante da agitação que percorria dentro de mim, sentindo o calor reconfortante do seu corpo.
(Mu) – Atena, por favor, me desculpe! Mas o seu cosmo está completamente instável! Preciso que reconsidere e pense seriamente em pedir ajuda. – ele disse retornando à sua posição de reverência.
Pedir ajuda??? Esqueci que ele viu tudo na minha mente, meus pensamentos banhados em sexualidade com três dos meus cavaleiros... E, ainda sim, permanece em posição de reverência? Como se eu merecesse alguma!
(Mu) – Mais uma vez, me desculpe! A deixarei com seus pensamentos. Não vou mais incomodá-la. Retornarei para a casa de Áries. – disse mantendo sua posição.
Eu ainda estava processando o beijo sabor de cereja que eu havia recebido de Mu. Só consegui dizer:
(Atena) – Obrigada, Mu!
Ele me olhou nos olhos novamente e começou a se retirar. De frente para a porta e de costas para mim, usando apenas a sua visão periférica, me disse de forma simples e clara:
(Mu) – Atena, seus cavaleiros existem apenas para protegê-la e servi-la! Lembre-se disso! Com licença!
Ele se retirou, levando a maravilhosa fragrância com ele.



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O Cálice do Desejo e a Trindade Dourada - 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora