Fechei os olhos e inspirei profundamente soltando o ar pela boca com muita calma. (Calma Ric, é só um garota, é só uma garota!) Passou-se um ano inteiro e me mantive sem notícias da Diane. Justamente quando toquei bola à frente, me formei, e estava pronto para ir para a faculdade, ela apareceu de novo para TALVEZ tentar me enganar mais uma vez. Vir atrás de mim depois de um ano é bem a cara dela. Mas me contive, pois não havia nenhum favor que vossa minha pessoa lhe pudesse fazer. Não tinha dinheiro - bom, tinha o cheque que a minha mãe me deu de presente de formatura, mas nem sonhando eu emprestaria à ela. A verdade é que me enganei de propósito para que doesse menos. Acreditei que éramos próximos, mas na verdade ela só... Bom, resumindo: eu não era importante para ela. Tanto que nossa amizade era muito instável.
Diane, uma garota de dezenove anos, gata, e voz grosseira. A conheci quando se mudou para o meu bairro, veio morar com a tia, uma senhora ranzinza, mais conhecida pela vizinhança como bruxa Keka. Sempre quando passava pelo portão de sua casa, ela estava varrendo o quintal. O apelido de bruxa deve ser pela vassoura e os baldes de água fria nas crianças que jogavam bola nas suas plantas. Não me lembro quando exatamente, mas eu deveria ter uns 10 ou 11 anos de idade. Me lembro vagamente do dia em que Diane chegou com sua tia. Estava envolta de um lençol de flanela quadriculado numa noite chuvosa.
Ela sumia de tempos em tempos e quando voltava, apenas dizia que viajou, ou que foi fazer uma excursão, etc e etc. A primeira vez que sumiu, contei três meses, a segunda, sumiu por uns seis meses, na terceira, uns oito e agora um ano e uns quebrados. O tipo de pessoa que te traz felicidade, e ao mesmo tempo ela é vaga, fria, não se abre. Ela era assim comigo. Não conhecia muita coisa do seu passado. Sabia que ela morava com a tia, mas nunca falou de seus pais, nem nada sobre sua família. Tudo que dizia era que sua tia a criou desde sempre e nada mais. Mesmo que Diane estivesse longe por tanto tempo, a parte minha que queria demonstrar que sentiu saudades falhou miseravelmente. Além do mais, ela me magoou mais que uma vez e nunca, nunca nem se deu o trabalho de me atender, responder minhas mensagens inclusive aquelas em que só pedi para responder que estava viva. Em plena noite, cansado, não estava com paciência nenhuma de lhe dar atenção. Mas a bicha é tão sem simancol que teve a insolência de me abraçar. E forte ainda.
- Au! - Gemi feito uma menina e a afastei de mim com o reflexo doloroso nas costelas. Ainda estava doendo da surra que tomei dos assaltantes.
- Nossa! É assim que você me recebe depois de tanto tempo sem me ver? - Ela teve a coragem de falar uma coisa dessas para um boy sensível como eu. Poderia simplesmente contar que o abraço doeu, mas não aguentei essa alfinetada e respondi:
- Eu teria feito uma festa de boas vindas se tivesse avisado, mas manter contato não faz muito o seu tipo. Então acho que ser seu amigo não é mais o meu. - Cresci meu bico e virei a cara. Tentei ainda ser um cara educado, mas não suportei as alfinetadas. Esse é um dos meus piores defeitos - Não medir palavras. Ouvir gracinha e engolir a seco? Nunca tentei.
- Ual. Então você está zangado comigo. Olha, Ric. Eu peço desculpas. Não faço por mal. Eu precisei fazer...
- Uma viagem, é. Eu sei. Houve um imprevisto, já sei. Não precisa dar explicações para um cara que não significa coisa nenhuma para você - Senti meu sangue esquentar e a Jiraya querendo virar em mim. Porém, como assim? Poderia ser a pior pessoa que já conheci, mas ela ainda era uma garota. Sacudi a cabeça e respirei fundo -Me desculpa, tá? Você me surpreendeu em um mau momento. Olha isso - levantei a camisa e mostrei as marcas das pancadas.
- Meu Deus! O que foi isso? - Falou assustada.
- Shihh! Minha mãe não pode saber. Não foi nada. Aconteceu ontem à noite. Assaltantes, pronto.
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OS ANGELINOS - ANA, a sociedade secreta
DiversosCom um longo e persistente histórico de guerras, a humanidade chega ao fundo do poço em crises e guerras civis. A sociedade secreta, ANA esteve se motivando e se preparando há séculos e agora, mais do que nunca pretende implementar seu majestoso pla...