OS ANGELINOS - ANA, a sociedade secreta

4. Fizeram fumaça, fiquei chapadão

Anteriomente,
Ric está na sociedade secreta sendo observado e testado a cada minuto até se tornar um inscrito. Será que ele passa no teste? Seu sentimento é de profunda insegurança e medo de rejeição. Ora, ora, temos alguém com medo do fracasso! Onde isso vai parar?

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Algo me despertou cinco da manhã. Estar num lugar com alta tecnologia, sem saber a localização geográfica, me deixou nervoso. Tentei pelo GPS do celular descobrir onde estava, mas só funcionava a rede de telefone. A tecnologia do prédio subterrâneo propositalmente bloqueava a localização.
Senti a vontade matinal de mijar, como todo humano comum sentiria após uma noite de sono. Aí notei que o ronco harmonioso dos trigêmeos persistia. Mas o outro garoto que estava responsável por me observar não dormia ainda. Bom, ficar parado ouvindo os trigêmeos ronquejando não ia rolar. Eu precisava andar, vasculhar o ambiente, 36 pisos subterrâneos, ah eu tinha muito a explorar! Me vesti e caminhei pelos corredores procurando por um elevador. Pretendia ir do primeiro piso, o mais subterrâneo e ir subindo aos poucos. Até o café da manhã daria tempo. E aqueles trigêmeos tinham sono pesado, nem notariam a minha ausência.
As paredes tinham botões. Botões! Para chamar elevadores. Eles não só descia na vertical, como faziam um percurso horizontal também. Isso é bem a cara da Fantástica Fábrica de Chocolate. Mas voltando, uma voz eletrônica avisava: Estamos no subsolo -16. E entrou um cara que também descia.

- Bom dia. Vai treinar também? Está indo para o -1?

Pigarriei e tentei responder sem levantar suspeitas de que eu era um candidato devidamente curioso vasculhando o território.

- Eu..eu sim. Eu vou treinar. Vou mesmo. -

- Ótimo, Ricado, não é? Prazer, sou Franco Ulisses. Mas só Ulisses serve. Eu soube do seu teste. Legal, espero que passe!

Levantei a sobrancelha esquerda e fiquei sem entender na hora como ele me conhecia.

- Eu só estou me... me...

- Se familiarizando com o local. Eu entendo como você se sente. É mesmo incrível esse lugar! Você tem sorte de estar aqui. O que pretende fazer quando se juntar à nós?

Ele questionou sorridente esticando a camisa branca esportiva. Também estiquei a minha, mesmo sendo um pele osso amarelo.

- Eu quero me formar em Biologia.

- Imaginei. Você fez um notão no vestibular, fiquei feliz em saber que temos um prodígio aqui. Com a sua pontuação, poderia ter escolhido qualquer uma, mas cá está voce. Arriscou vir para cá. Muita audácia da sua parte, é isso que procuramos. Isso mesmo! Pensar fora do cubo. Já ganhou o meu respeito.

- Eu tive sorte.

- A modéstia também é valorizada. - ele falou me estudando. Até arrumei as sobrancelhas com a mão para tentar alinhá-las.

- Estamos no andar -1 - disse a voz eletrônica do elevado - Este é o bloco C. Deseja ser levado à outro bloco, senhores?

- Eu vou ficar aqui mesmo, obrigada, Ana.

- De nada, Sr. Ulisses. Ao Novo Aeon!

- À Nova Aeon - ele respondeu ao elevador. - Você vem, Ricardo?

Eu não entendi nada! Aquilo era um tipo de lema? E o elevador tinha inteligência artificial?

- Vou, vou. É, então. Pode me chamar de Ric mesmo. - Falei gaguejando.

- Feito.

Esse com certeza era o andar mais diferente de todos. Consegui entender toda a arquitetura. Era um cilindro. Vi os elevadores girando na horizontal do andar, pois este era mais amplo. Não entendia direito, mas se eu soubesse que aquele andar era a último do prédio, e que era subterrâneo, eu diria que estava ao ar livre. A iluminação era como um dia claro e nublado. O ar circulante se diferenciava dos outros. Não era como o ar-condicionado de shopping. Ventava. E tinha grama que não tinha cheiro nem aparência de grama sintética. Eu chamaria aquele lugar de praça - A praça secreta. As pessoas, com certeza vão ali para relaxar, se exercitar e meditar. Falando em se exercitar, vejo de longe o cara que deveria estar de olho em mim. Se conheço bem, o que ele estava fazendo eram piruetas. Irado.